No ano de 2016, vivemos uma série de alterações no cenário político brasileiro. Uma das medidas mais impactantes proposta pelo presidente Temer é a  aprovação de emenda à Constituição,  PEC 241/55. Esta iniciativa visa modificar a Constituição , tendo como objetivo frear o crescimento dos gastos públicos e tentar equilibrar as contas públicas. A ideia é fixar por até 20 anos, podendo ser revisado depois dos primeiros dez anos, um limite para as despesas: será o gasto realizado no ano anterior corrigido pela inflação (na prática, em termos reais - na comparação do que o dinheiro é capaz de comprar em dado momento - fica praticamente congelado). Se entrar em vigor em 2017, portanto, o Orçamento disponível para gastos será o mesmo de 2016, acrescido da inflação daquele ano.

A medida irá valer para os três Poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário.

Pela proposta atual, os limites em saúde e educação só começarão a valer em 2018.

Diante deste cenário organizou-se um movimento nacional que resultou na ocupação de algumas escolas, entre elas, destacamos as do Estado do Paraná.

As ocupações deixaram uma grande marca dentro das escolas, nos estudantes que tiveram participação ativa, nos professores que viram os alunos, de forma autônoma, tomarem conta do espaço escolar de uma forma como nunca antes tinham tomado. Para os pibidianos foi mais uma experiência enriquecedora, que nos mostrou o real papel do professor perante seus alunos.

Quando pensamos a escola a imagem que se repete é sempre do tradicional e conservador, das fileiras de mesas, dos alunos copiando a matéria no quadro, do pedido constante de silêncio, das atividades seguindo uma única direção de ordem e obediência. Entretanto ao pensar todas essas situações e reproduzi-las estamos excluindo as principais pessoas envolvidas nesse processo: os estudantes. Como podemos criticar o projeto de reforma do ensino médio, por meio de medida provisória, sem discussão com professores e estudantes, se nós no dia-a-dia escolar não questionamos sua estrutura e mudamos nossas ações? O que vimos e vivemos na ocupações nada tem a ver com o modo tradicional e ultrapassado da escola. Nas ocupações vimos protagonismo, organização e debate sobre os temas da atualidade. Os estudantes de fato pertenciam à escola, faziam parte dela, construíram todos os dias um vínculo afetivo com o espaço escolar que possivelmente, antes das ocupações, não era possível.

A educação, mesmo precarizada, não oferece um espaço para que os estudantes debatam sobre temas que os atingem diretamente. Espera-se que os estudantes apenas vivam a precarização sem fazer absolutamente nada. Uma das frases mais usadas pelos grupos das ocupações era “ocupar e resistir”, pois a resistência, sem ações que a efetivem, não passa de aceitação do desmonte da educação brasileira e por essa razão ocupar foi a única maneira de gritar para o mundo “estamos aqui!”.

Durante todo o período das ocupações nas escolas e também durante o movimento de greve deflagrado pelos professores estaduais, continuamos desenvolvendo o projeto Biologia 1. Buscamos contemplar formas de atingir os objetivos do PIBID, sem configurar um desrespeito as categorias que estavam mobilizadas.

Organizamos oficinas,abordando temas pertinentes aos conteúdos das diferentes séries, aulas de reforço foram programadas para os alunos que fizeram o concurso vestibular e o ENEM. Buscamos, através da sensibilização da comunidade acadêmica, doações de materiais que puderam ajudar na rotina dos secundaristas que estavam nas escolas.

As nossas reuniões semanais foram intensificadas pelas discussões ideológicas e políticas, refletidas nas experiências que todo o grupo estava tendo neste momento.

 

RELATOS DAS OCUPAÇÕES

 

"Tive a oportunidade de visitar uma escola estadual localizada no Bairro Água Verde em Curitiba. Encontrei um pequeno grupo de estudantes mobilizados que fizeram uma escala, definindo tarefas, rotinas, de maneira muito organizada. Extremamente comprometidos com os seus ideais, responsívos ao debate, articulados, preocupados com o seu futuro e o da Educação. A muito tempo não vivenciava um movimento tão significativo quanto este. Diferente do que algumas pessoas e mesmo a mídia divulgou, percebi que esses jovens estavam dispostos a proclamar mudanças.Senti orgulho, mesmo que discretamente, de participar deste movimento." Professora Claudia

 

"Fui ministrar uma aula de revisão para o ENEM em uma turma do 3° ano. Estavam poucos alunos presentes porém o rendimento da aula foi fantástico. Todos estavam bastante interessados e participativos. Com relação a organização dos alunos, fiquei bastante surpresa com a rigorosidade com a qual eles seguiam o cronograma que eles haviam estipulado. Tinha horiario para dormir, acordar, comer... Todos estavam bastante mobilizados e se demonstravam bastante firmes em manetr a ocupação, embora estivessem ocorrendo muitas coisas que os desmotivavam. Para mim foi uma experiência totalmente nova e que me encheu de ânimo para ajudar cada vez mais nas ocupações."  - Priscila Lemes Gross

"Tive a oportunidade de conversar com os alunos das ocupações de duas escolas, uma delas conveniada ao PIBID. Com eles combinamos visitas e revisões para o ENEM e vestibular, afim de ajudá-los na organização das ocupações e  colaborar para que pudessem se preparar melhor para esses exames. Os poucos alunos presentes nos dias de visita e revisões se monstraram empenhados e verdadeiramente interessados. Por fim, próximo ao período de término das ocupações, foi realizada uma revisão de conteúdos com base nas questões da prova do vestibular da UFPR, realizada por eles dias antes. Foi impressionante o nível de esclarecimento, engajamento e dedicação desses alunos ao longo desse período. As ocupações sempre muito bem organizadas, com suas próprias regras e com horário estabelecidos e planejados para otimizar o tempo dos alunos. Realmente uma experiencia inspiradora" - Andrey Wesley de Souza

"Esse ano fui ministrar um aula de revisão das questões do vestibular da UFPR para os alunos da ocupação do Colégio Estadual Ernani Vidal. Mesmo com a pouca quantidade de alunos (muitos pais não estavam deixando seus filhos irem para a ocupação) eles se mostraram muito interessados na aula e foram muito participativos. Também tive a oportunidade de conversar com eles sobre a pr´pria ocupação, como eles estavam se virando sem o apoio da direção e como eles estavam fazendo com a alimentação. Foi uma esperiência fantástica e inovadora em que pude, além de ensinar, participar de um movimento dos próprios alunos para melhoria de sua educação." - Yasmin Cartaxo Lima

" As ocupações fizeram parte de um processo de mobilização histórica que ocorreu de forma horizontal e coletiva entre secundaristas. Tal movimento é resultado de um processo de luta pela educação no estado do Paraná e é sintoma em frente aos diversos ataques na educação por parte dos Governos. Neste contexto era impossivel não haver contribuição por minha parte, um professor em formação. Desde as primeiras ocupações em São José dos Pinhais, me dispus a fortalecer o movimento através de arrecadações de alimentos e produtos, até que a escola na qual participo por meio do PIBID foi ocupada. Me aproximei da escola e dos alunos de forma que ainda não tinha conseguido, fui para contribuir com roda de conversa, aulão, funções básicas como limpeza e manutenção. Porém não esperava o quanto eu aprenderia e mudaria minha vida com esses jovens que apenas clamam por uma educação pública digna e que escute um dos pilares dessa estrutura, que são os alunos. Com todo esse processo, senti uma esperança, mesmo que nesses ultimos anos a crise politica e os ataques a população tenham se itensificado em nosso pais." - Douglas Vital

"Infelizmente não pude participar de nenhuma ocupação, entretanto o assunto foi trazido para nossas reuniões semanais e discutido, buscando sempre mostrar a realidade das ocupaçoes e desmistificar a imagem das ocupações reproduzida pela mídia. Apesar de não ter ido na escola durante a ocupação, participei da arrecadação de alimentos e outros recursos que seriam doados para as escolas ocupadas" Bianca 

"Infelizmente não tive a oportunidade de visitar uma ocupação, no entanto particiepei das reuniões reflexivas nas quais ouvia os relatos dos outros participantes do grupo sobre suas atividades nas ocupações e como estavam organizados os alunos nas escolas. Além disso participei da arrecadação de recurso para as ocupações". Matheus

"Como pibidiana acompanhei as aulas no Colégio Algacyr M. Maeder e pude visitá-la em seu período de ocupação. No período da manhã eram poucos os alunos que estavam lá, mas logo o grupo aumentou para as atividades da tarde a partir do almoço. Os alunos elaboraram cartazes com regras e horários das atividades e toda a escola estava muito organizada, e o cuidado para com o ambiente estava muito visível, parecia realmente que era uma extensão de suas casas. Os alunos foram muito receptivos e seus discursos e atividades eram muito bem embasados, eles sabiam o porque estavam ali, resistindo pela sua categoria também. Foi uma experiência muito enriquecedora, uma verdadeira aula de cidadania." Yane Chaves.

"Com as ocupações das escolas tive a oportunidade de conversar com alguns alunos engajados neste movimento via internet. Infelizmente não pude comparecer às escolas para ministrar conteúdos, mas com todos os debates e conversar que tivemos em nossas reuniões do PIBID tive uma boa ideia do que estava ocorrendo. Foi uma experiência muito interessante a qual passei, pois me fez entender a dificuldade de haver consenso entre pessoas e a aprender a ter paciência para lidar com as mesmas. Muitas vezes ficava revoltado com publicações online que não tinham muita lógica e com a contradição da mídia, mas aprendi que não é atacando uma pessoa que você faz com que ela te entenda." João Brosin

"Podemos dizer que o ano de 2016 foi diferente dos demais. Além de toda a satisfação de sentir-se participante do processo educacional tradicional, atuando nas escolas e experimentando o dia a dia de um professor sob uma perspectiva na qual os estágios obrigatórios da licenciatura não podem providenciar, este ano também nos proporcionou a possibilidade de participar ativamente nos movimentos que marcaram a transformação da educação como conhecemos.  A participação nos movimentos de ocupação estimulou ainda mais a visão crítica do grupo quanto à importância dos processos políticos na educação, e permitiram uma nova visão sobre as lutas que devemos enfrentar na carreira de professor." Felipe Benatti