http://eventosunioeste.unioeste.br/index.php/apresentacao-enalic

Resumo de trabalho aceito:

 

OS INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA COMO INSTÂNCIAS DE LEITURA-INTERPRETAÇÃO

Ana Paula Godoy[1]

Dayene Correia Castilho[2]

Gesualda Rasia[3]

 

Políticas de avaliação – com ênfase nos programas de avaliação do sistema, das instituições e dos processos de ensino e da aprendizagem

Pibid – Fundação Capes

Resumo

A proposta do projeto do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid) em Língua Portuguesa da Universidade Federal do Paraná (UFPR), sob título “Os instrumentos de avaliação em Língua Portuguesa como instâncias de leitura-interpretação”, trabalha a leitura no âmbito da escola, cujos níveis, apresentados por parte dos egressos da Educação Básica, não correspondem ao esperado. Dados do Programme for International Student Assessment – Pisa (“Programa Internacional de Avaliação de Alunos”, em português) de 2015 — importante avaliador do desempenho escolar internacional (BRASIL, 2015) que é aplicado no Brasil pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) — apontam que, dentre os 76 países integrantes dessa lista, o Brasil está na 60.ª posição[4]. Este estudo fundamenta-se na Análise de Discurso de vertente pecheutiana e concebe a leitura como prática que precisa ser trabalhada com vistas à compreensão de como os sentidos são historicamente produzidos. O leitor é considerado a partir de suas histórias de leitura, por isso os sentidos são abordados na perspectiva da multiplicidade e na tensão paráfrase-polissemia, ao mesmo tempo em que não podem ser qualquer um (ORLANDI, 2008). O texto é considerado instância que institui um leitor virtual ao qual se dirige. No processo de leitura entram em jogo o leitor virtual, instaurado enquanto projeção, ao lado do autor e do sujeito-leitor. A materialidade linguística coloca em relação, na perspectiva das posições das quais se lê, o que está dito com os implícitos e com a exterioridade linguística. Ler é, desse modo, um processo complexo, compreendido como um texto que se constitui e produz sentidos. Este projeto justifica-se no sentido de entender esse processo e buscar enfrentar a situação retratada por meio do ranking propondo trabalhar questões de leitura-interpretação de modo a colaborar com os alunos quanto ao aprimoramento da compreensão do texto. Resumidamente, este projeto objetiva retomar os estudos sobre a Análise de Discurso pecheutiana, baseando-se nos estudos de Orlandi, quanto a aspectos de leitura-interpretação entre os acadêmicos-bolsistas com vistas a subsidiá-lo, proporcionando, a partir disso, um espaço de discussão e problematização. Em seguida, pretende-se ofertar oficinas de leitura baseadas na interpretação de questões extraídas da prova do Enem a alunos do Ensino Médio de escola estadual conveniada ao Pibid — etapa a qual se executa atualmente. Por último, analisar os resultados das oficinas e produzir material teórico-analítico. O projeto é formado por 10 graduandos, um professor responsável na instituição escolar e o coordenador do projeto, vinculado à Universidade. Neste momento, uma oficina é ofertada na Escola Estadual Professor Francisco Zardo, sob o nome “Oficina de Leitura e Interpretação de Texto”, aos alunos do Ensino Médio no contraturno vespertino com a supervisão do professor de Português da escola, Klabyr de Jesus. Pelo fato de os indicadores de leitura derivarem de instrumentos como o Pisa e o próprio Enem — este, um dos avaliadores nacionais —, estipulou-se que os encontros com os alunos seriam organizados buscando-se discutir questões da prova do Enem de 2015, eixo Linguagens e suas Tecnologias. Essas deliberações foram propostas e firmadas nas reuniões que antecedem esses encontros e que são feitas semanalmente às quintas-feiras no campus da Reitoria da UFPR sob mediação da professora Gesualda Rasia, coordenadora do projeto. Até o momento, a oficina já realizou quatro encontros semanais nas datas 26 de setembro, 3, 10 e 17 de outubro, cujas reuniões de preparação foram realizadas, respectivamente, em 22 e 30 de setembro, 6 e 13 de outubro. De início, a inscrição dos estudantes, tarefa cuja responsabilidade ficou ao cargo do Prof. Klabyr, e divulgação na escola com a colaboração dos bolsistas, acusou o número de participantes entre dez e quinze. A construção das oficinas é muito rica por contar com a participação dos diversos bolsistas. Há, ainda, certo envolvimento tecnológico, visto que há a utilização de recursos de mídias sociais, como Facebook e Whatsapp, para debates e alinhamentos. O planejamento é feito no coletivo e, após fechado, é dividido entre a equipe, que estrutura cada parte do que fora proposto. Quanto ao primeiro encontro com os alunos, o espaço foi utilizado para apresentação e contextualização da oficina. Fora explicado o que é o Pibid, a temática de leitura e interpretação e o Enem. Nele, as primeiras questões selecionadas do caderno do Enem 2015 já foram aplicadas no fim das falas e dinâmicas para que as respostas pudessem ser analisadas entre os bolsistas e a coordenadora. Adiante, no segundo e terceiro encontros, foram trabalhadas as respostas das questões. Nessas duas últimas houve um pedido para que fossem trabalhados temas relacionados à redação, o que fora compreendido pela equipe como um viés interessante para também trabalhar aspectos de leitura e interpretação. Buscando levar ao grupo de alunos assuntos pertinentes que atendessem às suas demandas, o planejamento inicial com foco no Enem passou por uma readequação. Por isso, estabeleceu-se no segundo encontro esse desafio para a próxima semana e, no terceiro, buscou-se com os alunos listar possíveis temas pensando no ano de 2016 por meio de um brainstorm. Os temas escolhidos por votação final foram “Esquerda e direita” e “Reforma do Ensino Médio”. Na última reunião, portanto, trabalhou-se primeiramente a contextualização da temática “esquerda” e “direita” e a leitura de charges relacionadas para que, no encontro por vir, os alunos pudessem ter subsídios para construir coletivamente uma redação sobre proposta elaborada na reunião para a ocasião. Diante disso, é importante apontar que a programação inicial proposta em conjunto pelos estudantes-bolsistas trouxe questões desafiadoras em relação à parte prática, ou seja, verificar que o planejamento exige dinamismo das partes, visto que não é possível prever comportamentos in loco. Por fim, ressalta-se que a média de alunos da escola participantes varia entre 10 e 12 com base nos encontros já estabelecidos, havendo certa renovação de sujeitos, ou seja, oscilações a cada encontro. Diante disso, é possível caracterizar o grupo como flutuante. Contudo, pelo fato de a oficina estar no início, espera-se que este quadro possa, futuramente, sofrer transformações.

Palavras-chave: Interpretação, leitura, compreensão de texto, ENEM, Análise de discurso pecheutiana.

Referências

FIORIN, J. L. O ensino de português nos níveis fundamental e médio: problemas e desafios. In: ERNST, A.; LEFFA, V.; SOBRAL, A. (Orgs.). Ensino e linguagem: novos desafios. Pelotas: Educat, 2014. v. 1. p. 33-65.

GALLO, S. L. Como o texto se produz. Tubarão: Nova Letra, 2008. v. 1.

INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA. Provas e gabaritos. Disponível em: <http://portal.inep.gov.br/web/enem/edicoes-anteriores/provas-e-gabaritos>. Acesso em: 19 out. 2016.

ORLANDI, E. A leitura e os leitores. São Paulo: Pontes, 1998.

______. Análise de discurso: princípios e procedimentos. Campinas: Pontes, 1999.

______. Discurso e leitura. São Paulo: Cortez, 2006.

 

 

[1]    Estudante do curso de Letras Francês da UFPR. E-mail: anapcmg@gmail.com.

[2]    Estudante do curso de Letras Português da UFPR. E-mail: dayenecorreia@yahoo.com.br.

[3]   Professora da UFPR, coordenadora do projeto. E-mail: gesa.rasia@gmail.com.

[4]    BRASIL ocupa 60.ª posição em ranking de educação em lista com 76 países. G1, São Paulo, 13     maio 2015. Disponível em: <http://g1.globo.com/educacao/noticia/2015/05/brasil-ocupa-60-           posicao-em-ranking-de-educacao-em-lista-com-76-paises.html>. Acesso em: 19 out. 2016.