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2017 - Ler além das Letras
A formação de professores no âmbito do Projeto Ler além das Letras busca problematizar a relação entre língua e cultura, pois muitos alunos ainda são reféns da ideia de cultura como conjunto de costumes, e de língua como a forma de expressão verbal. Para o Círculo de BAKHTIN, os sujeitos envolvidos na interação, não são entes autônomos e pré-sociais, mas indivíduos socialmente organizados e marcados por profunda e tensa heterogeneidade, que utilizam tipos de enunciados (gêneros do discurso) para interagir no mundo social. Não basta, portanto, fazer um exercício racional sobre concepções de linguagem, se não incorporarmos, nos cursos de Letras, práticas e procedimentos metodológicos que possam desnaturalizar a concepção formalista de linguagem que se mantém arraigada à nossa cultura. Assim, é importante que o professor de línguas compreenda que uma abordagem ou metodologia (com a qual o aluno aprende e com a qual, como professor, ensina) carrega consigo não somente um conjunto de procedimentos e formas de ensinar, mas também pressupostos epistemológicos e filosóficos sobre a língua/linguagem como fenômeno social.
É imprescindível, na formação e atuação profissional, incorporar práticas concretas de interação sociocultural e interagir com o repertório linguístico e discursivo das diversas comunidades hispano-falantes. Da mesma forma, é fundamental conhecer os repertórios discursivos dos alunos. A seguir abordaremos algumas das práticas desenvolvidas no projeto neste primeiro semestre de 2017.
Para realizar o trabalho proposto, o projeto tem dedicado especial atenção à discussão sobre gêneros do discurso, numa perspectiva bakhtiniana, e à formulação de sequências didáticas. Nos anos anteriores os bolsistas do PIBID trabalharam com propostas de regência a partir de temas importantes do mundo hispânico, trabalhando com diversos gêneros do discurso, como notícias, tiras, letras e canções, contos e poemas, curta-metragens, pinturas e gravuras, entre outros. Foram realizados também alguns trabalhos em parceria com o Pibid de Ciências Sociais.
Neste ano de 2017, os trabalhos realizados envolviam sequências didáticas, produzidas pelos bolsistas que, durante as reuniões do PIBID, sentiram a necessidade de discutir sobre a representatividade da mulher na sociedade e a partir dessa temática, escolheram quatro subtemas: “Mujeres y dictaduras”, “Mujeres de Atenas”, “Mujeres Heroínas” y “Heroínas del Cine”. Estas quatro regências foram aplicadas em uma turma da noite do CELEM do Colégio Paulo Leminski, em Curitiba, composta por 20 alunos, entre estudantes e docentes da escola, e pessoas da comunidade.
Todas podem ser acessadas em: "Atividades, produção e regencias 2017 e anos anteriroes"
O primeiro trabalho realizado de regência, intitulado Mujeres y Dictaduras foi aplicada em duas horas/aula no Colégio Estadual Paulo Leminski. Com essa experiência prática, foi possível refletir sobre o papel do professor no processo de ensino/aprendizagem como agente de inclusão, trazendo para a discussão em sala de aula elementos e visões de grupos sociais normalmente excluídos, ou colocados à margem das discussões e representatividade no processo de aprendizagem de línguas estrangeiras.
Para falar das “mujeres de Atenas”, com o objetivo de abordar a questão representatividade feminina nas mais diversas atividades, buscou-se relacionar e comparar o cotidiano das mulheres da antiguidade clássica com a atualidade, a partir de uma versão da música de Chico Buarque em espanhol. Após apresentar a realidade da mulher daquela época, elaborou-se uma unidade didática com mulheres em situações reais de atuação profissional e social.
Uma das intenções da proposta do projeto era fazer com que os alunos refletissem sobre o papel da mulher na construção da história do mundo hispânico, além de ressaltar a importância das mulheres comuns no nosso cotidiano, por isso outro tema trabalhado foi Mujeres heroínas. Optou-se por apresentar aos alunos a história da boliviana Juana Azurduy, que lutou pela independência da América hispânica do poderio da coroa espanhola junto com os demais libertadores, mas que ainda é pouco reconhecida, tanto nos livros de história como nos livros destinados ao ensino do idioma e das culturas hispânicas.
Partindo de filmes reconhecidos como “blockbusters” – produções estadunidenses possivelmente já vistas pelos alunos, como no caso de “Los juegos del hambre” –, indo em direção a produções possivelmente desconhecidas – como, por exemplo, “Frida” e “El libro de la vida” –, foi problematizada a representação da mulher no cinema.
Estas quatro regências foram seguidas por uma última atividade do semestre, intitulada “Nosotras podemos”, em alusão ao movimento feminista da década de 60. Este trabalho visava realizar uma avaliação das questões trazidas pelas regências anteriores, percebendo de que forma a temática trabalhada permitiu que os alunos refletissem sobre o papel da mulher na sociedade, em sua complexidade social e cultural.
Essa possibilidade de debater sobre questões de Gênero, buscando verificar seus impactos na percepção do aluno, suscitou uma reflexão sobre a necessidade de rever os caminhos percorridos até então pelo projeto. Entendendo que a abordagem intercultural busca promover o respeito à diferença e a superação das condições sociais que geram privilégios e discriminação, constatamos, em reunião com as supervisoras, que este tema deveria ser ampliado, e trabalhado nas duas escolas.
Como iniciamos os nossos trabalhos este ano discutindo questões do multiculturalismo e respeito ao outro, à diversidade cultural e social no ensino de línguas, a pedido das professoras das escolas em que trabalhamos ( CEP e Paulo Leminski), começamos, na metade do ano a pensar num diagnóstico sobre o Bullying com os alunos das turmas de espanhol.
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Fizemos um primeiro levantamento e a maioria dos alunos manifestou não ter sofrido bullying, mas ter presenciado alguém sofrendo bullying na escola ou fora dela. Para fundamentar nosso trabalho convidamos a equipe do professor Josafá Cunha para um encontro de formação com nossos pibidianos. O protagonismo dos estudantes envolvidos nos dois projetos foi um dos pontos altos dessa atividade.
Foi uma tarde de muito aprendizado para todos e que resultou na Unidade Temática “Soy algo de Intermedio” elaborada e aplicado pelo bolsisita ID Sueliton Oliveira (/site/uploads/institution_name/ckeditor/attachments/1319/Soy_algo_de_intermedio_-_Unidad_did_ctica.docx) . Como possuem realidades bastante distintas, iniciamos um processo de diagnóstico das duas situações de ensino, elaborando questionários objetivos e subjetivos para aplicar aos alunos das duas escolas, às professoras participantes do projeto e às pedagogas que acompanham as turmas. Nossa intenção é incorporar práticas concretas de interação sociocultural e interagir com o repertório linguístico e discursivo das diversas comunidades hispano-falantes, considerando que para isso, é fundamental conhecer os repertórios discursivos dos alunos. O diagnóstico ainda está em fase de finalização e tabulação geral dos dados, mas já podemos perceber algumas percepções importantes para nortear o nosso trabalho nos próximos meses.
Por exemplo, no Colégio Paulo Leminski, aplicamos um questionário com 26 questões objetivas. Dos 20 alunos da turma em que o PIBID trabalha regularmente, 14 alunos responderam o questionário objetivo, mostrando que a média de idade está em 14 anos e que a maioria (86%) é composta de alunos regularmente matriculados na escola. Da mesma forma, os alunos qualificaram seu desempenho como bom ou regular e 86% acreditam que o bairro onde a escola está situada é seguro. No Colégio Estadual, o questionário objetivo tinha um número de questões menores, mas mais direcionadas. Foram feitas 17 questões objetivas e dos quase 60 alunos, 56 responderam o questionário. Destes, 87% diz ter 11 anos; 87,6% acreditam que o bairro onde a escola está situada não é seguro; e 71% disseram que consideram seu desempenho como muito bom. Dos que responderam o questionário, 21,8 % disseram que já sofreram bullying na escola; 23,52% disseram que já sofreram bullying em outros locais; 51,7 % disseram ter visto alguém sofrer bullying e apenas 19% disseram que nunca sofreram bullying.
Junto com esse debate sobre a questão do bulluying e da convivência na escola, realizamos um trabalho articulado com as professoras supervisoras sobre inclusão por meio do esportre e diversidade cultural. Elaboramos uma sequancia didática em 3 momentos de regência, pensadas a partir das discussões sobre cultura no ensino de línguas, multiculturalismo, transculturalismo e a questão da diversidade cultural e o respeito ao outro.