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Ler além das letras: os gêneros discursivos no ensino do espanhol como língua estrangeira
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A formação do professor de espanhol como língua estrangeira (E/LE) no Brasil hoje requer uma reflexão complexa sobre os vários aspectos que entram em disputa nesse campo, como a questão das políticas linguísticas para o país e a região, a questão das políticas educacionais que buscam responder aos baixos índices de aproveitamento nos exames de avaliação da aprendizagem, a questão dos enfrentamentos socioculturais e da formação subjetiva e das perspectivas teóricas dos campos da educação e da linguística aplicada. Portanto, trata-se também de assumir posições políticas, entendendo que nossas escolhas teóricas também estão marcadas por tomadas de posição ideológicas. Qual o papel ocupado pelas línguas estrangeiras nos currículos escolares? Quê língua estrangeira ensinar? Quê concepções metodológicas estão implícitas nas práticas dos professores de língua estrangeira? Em que medida tais concepções contribuem para o aprendizado da língua? Qual é o lugar da língua espanhola na Educação Básica? Por que ensiná-la a falantes do português como língua materna? A busca de respostas a todas estas questões precisa ser feita considerando não apenas uma discussão teórica sobre o ensino das línguas estrangeiras na Educação Básica, mas também visitando o lugar onde tais práticas se efetivam: a sala de aula. E ao aproximarmo-nos dele, podemos constatar como o ensino/aprendizagem da língua espanhola enfrenta dificuldades de diferentes ordens. A começar pelo reduzido número de escolas com oferta do espanhol em sua grade curricular (segundo os dados da SEED para 2017, das 305 escolas estaduais com Ensino Médio na cidade de Curitiba, menos de 20 têm o espanhol em sua grade curricular). A falta de reconhecimento da língua como veículo para uma comunicação efetiva e a sua controversa proximidade com o português, também são fatores que auxiliam na compreensão da situação de marginalidade ocupada pela língua espanhola no contexto escolar. Soma-se a eles, a constatação de que as escolhas metodológicas feitas pelos professores para o ensino da língua continuam pautando-se na parte sistêmica do idioma, centrada no ensino/aprendizagem de estruturas gramaticais e lexicais descontextualizadas, que em muito distam das verdadeiras situações da língua em uso como instrumento social. As atuais Diretrizes Curriculares do Estado (DCEs), publicadas em 2010, definem como conteúdo estruturante das disciplinas de linguagem “o discurso como prática social” definindo-as como corresponsáveis pelo desenvolvimento linguístico-discursivo dos estudantes da escola básica. Compreendida na sua dimensão formalista, no entanto, á língua vista por alunos e professores como um “[...] acúmulo de conhecimentos ditos teóricos para posterior aplicação ao domínio da prática” (LIMA, 2008, p. 156). Essa perspectiva se mantém embora a noção de educação linguística tenha incorporado aspectos importantes da reflexão sóciohistórica, entendendo-a como “o conjunto de fatores socioculturais que, durante toda a existência de um indivíduo, lhe possibilitam adquirir, desenvolver e ampliar o conhecimento de/sobre sua língua materna, de/sobre outras línguas, sobre a linguagem de um modo mais geral e sobre todos os demais sistemas semióticos” (BAGNO & RANGEL, 2005, p. 63). Embora tenhamos que concordar que, sem tornarse um sujeito discursivo capaz de entrar na rede de interlocuções de uma LE, o professor terá muita dificuldade de engajar seus alunos nessas mesmas práticas discursivas, não podemos deixar de pontuar que essas considerações se dão de um ponto de vista, em geral, muito superficial e formalista. Ou seja, considera-se que, primeiro o sujeito deve dominar a língua, para depois tornar-se interlocutor, além do fato de que não leva em conta para quê se ensina uma LE na escola básica, para quem e com que objetivos. As respostas a estas questões passam pela definição de políticas educacionais e linguísticas consistentes e respaldadas por ações que garantam sua implementação efetiva. Assim, o presente projeto se justifica por propor ações que possam (re)significar o lugar da língua espanhola no currículo escolar, explorando, sobretudo, os diferentes modos de ensiná-la. Considerando a língua como espaço de interação entre sujeitos, o trabalho de leitura de textos autênticos dos mais diversos gêneros discursivos, a nosso ver, pode tornar o aprendizado da língua mais significativo e menos frustrante para os alunos da Educação Básica.
Objetivos
O objetivo central do presente projeto é promover a formação inicial e continuada de professores de espanhol como língua estrangeira no contexto da Educação Básica. Para isso, pretende oportunizar aos bolsistas de iniciação à docência, um contato ativo e efetivo com o ambiente escolar e, especialmente, com o ensino da língua espanhola. Assim, deverão conhecer e discutir o Projeto Político Pedagógico da escola, as Diretrizes Estaduais para o ensino das línguas estrangeiras, o planejamento de aulas do professor supervisor e a sua concretização em sala de aula. No que concerne à formação continuada, visa discutir questões teóricas sobre os gêneros discursivos, entendendo-os como o lugar da língua em uso, socialmente construída e marca identitária dos seus usuários. Finalmente, pretende ser espaço para o desenvolvimento de ações interventivas para o ensino de espanhol por meio dos gêneros discursivos, através da elaboração de materiais didáticos que considerem a realidade das escolas participantes e o conhecimento de mundo dos alunos.