Os mil cliques e as mil páginas, por Cezar Tridapalli.

Dentre as tantas dívidas de leitura que eu tenho para pagar a mim mesmo, está a floresta densa das mil páginas de Os irmãos Karamázov, do velho Dostoiévski. Estou embrenhado no coração da selva, perto da metade. Sei que a dívida dos livros por ler não se paga à vista e, no extremo oposto, não vai se pagar nunca. Quanto mais a gente lê mais aparecem títulos à nossa frente. Mas, a partir das mil páginas da minha edição (999, para ser mais preciso), me pego pensando na rapidez das mãos vorazes e seus cliques alucinados. Vem-me à cabeça a comparação entre estas atividades: a leitura de um romance e a navegação na internet, duas práticas que devem – em tese – ser trabalhadas pela escola. Quanto tempo vou levar para ler as mil páginas do clássico russo e em quanto tempo dou mil cliques com o mouse, não vou saber responder com exatidão, mas poderia dizer que os cliques estão para a corrida de cem metros rasos assim como a leitura está para a maratona.

Portanto, não estou aqui para defender a leitura de livros em detrimento da leitura na rede. Mas a leitura na rede todo mundo está fazendo, ao passo que a leitura de livros, não. Minha defesa é pelo equilíbrio da balança. É fácil copiar excertos da timeline de amigos nas redes sociais e dizer que o mundo não está interessado em aprofundar a discussão de seus problemas. Mas é difícil, em meio a tantas atribulações cotidianas, ir atrás da imersão que só a grande literatura oferece. Estou sentindo isso na pele. Mas também retirando daí um prazer fruto do esforço, bem diferente do prazer momentâneo, que se esgota em si mesmo. E quem lê sabe do que eu estou falando. Não é arrogância. Apenas uma constatação que, creio, vale a pena partilhar.

Para ler o texto na íntegra, clique aqui!