A PERSPECTIVA DA CULTURA CORPORAL EM DISTINTOS CONTEXTOS DA FORMAÇÃO DOCENTE NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

A proposta é oriunda da demanda frequente nos cursos de licenciatura, o fato de que, apesar dos esforços, a formação docente é carente de experiências no cotidiano da escola. Conforme Tardif (2002, p. 261), “ainda hoje, a maioria dos professores aprende a trabalhar na prática, às apalpadelas, por tentativa e erro.” Essa é uma realidade vivenciada por professores de Educação Física (EF) recém-formados, na medida em que se torna comum aos mesmos sofrerem choque de realidade quando em contato com a educação básica. Tendo presente que a finalidade deste projeto é guiar a formação inicial de estudantes de licenciatura em Educação Física, de forma a favorecer a melhoria da qualidade de sua prática pedagógica na escola, propomos caminhar em uma direção contrária ao que demonstra Tardif, por meio da inserção de acadêmicos nos cotidianos das escolas.

Compreendemos que a ação articulada entre professores da Universidade Federal do Paraná e docente da rede estadual e municipal de ensino tem por intuito dotar os acadêmicos de habilidades e competências pedagógico-didática, por meio de processos de ensino-aprendizagem em EF e de demais vivencias no contexto escolar, aproximando-os das expectativas e necessidades de docentes e alunos dos ciclos da educação básica.

Vivemos um momento de conquista da EF escolar com a institucionalização desta disciplina nos seio da educação básica (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional; Parâmetros Curriculares Nacionais/EF), além da credibilidade que foi conquistada graças aos avanços da disciplina no diálogo com as Ciências da Saúde e as Ciências Humanas e Sociais (COLETIVO DE AUTORES, 1992; BRACHT, 2007; MEDINA, 2013). Desta forma, o projeto parte do entendimento da Educação Física Escolar enquanto campo que contempla a prática pedagógica dos elementos da cultura corporal: jogos, brincadeiras, esportes, ginásticas, lutas e danças. Esta perspectiva influenciou significativamente a formação inicial e continuada dos docentes a partir da década de 1990 e é referência na atualidade, contribuindo com a organização das ações pedagógicas dos professores.

Essa nova possibilidade[1] de olhar para a EF escolar, também, é a base que norteia o trabalho pedagógico das Diretrizes Curriculares de Educação Física do Estado do Paraná (SEED, PARANÁ, 2008) e da Secretaria Municipal de Educação de Curitiba (PMC – CURITIBA, 2006). As premissas da EF escolar se comunicam em uníssono entre as diferentes esferas da educação. O propósito é intervir em dois universos de práticas distintos, com base nos fundamentos supracitados, porém, com métodos pensados conforme as demandas de cada um dos contextos. Assim, iniciamos com os problemas e questões locais utilizando os conteúdos de forma mais criativa, agregando outras problemáticas e histórias da cultura corporal. Essa prática poderá indicar caminhos possíveis para compreensão dos significados e dos condicionantes da disciplina de EF no cotidiano escolar e, consequentemente, de questões que afetam diretamente os docentes deste componente curricular.

No primeiro contexto - a Escola Estadual - há o questionamento sobre a legitimidade da EF na escola tanto por docentes quanto por alunos. Observa-se uma cultura escolar na qual a aula de EF é livre ou o conteúdo desenvolvido é somente o esporte. Logo, na realidade desta escola persistem resquícios de perspectivas que desconsideram a gama de conhecimentos proporcionada pela cultura corporal. Fato que é enfrentado cotidianamente pela professora de EF desta escola. Assim que mudar a cultura haverá descontentamentos, insatisfações e resistências. A professora levará em consideração as experiências dos alunos e planejará as atividades com a finalidade de sensibiliza-los na aprendizagem dos conteúdos, nas relações entre colegas, acreditando que, com isso, os mesmos irão usar o conhecimento para sua vida, para a interação com o outro e na reflexão sobre o mundo.

No segundo contexto - na Escola municipal - se tornou necessário rever algumas questões metodológicas e os paradigmas voltados à prática docente dos professores de EF. A partir de uma perspectiva dirigida à comunidade a que se destina serão propostas aulas de EF com o propósito de discutir sobre a relevância da área na construção do corpo social das crianças no contexto dos anos iniciais da educação básica. Neste cenário, partindo das demandas locais, pode-se estabelecer um novo conjunto de práticas, expandindo o alcance da EF para além do usual.

 

[1] Contrária daquelas tradicionalmente baseadas nos paradigmas da aptidão física e dos esportes.