Formação de leitores: integrando a biblioteca e a sala de aula


Coordenadora: Renata Praça de Souza Telles
Departamento de Linguística e Letras Clássicas e Vernáculas/UFPR


COMO PINÓQUIO APRENDEU A LER

 

Sair do vocabulário restrito do que a sociedade considera "sensato e bom", para entrar em outro mais amplo, mais rico e, principalmente, mais ambíguo, é assustador, porque esse outro reino de palavras não tem limites e é um equivalente perfeito do pensamento, da emoção, da intuição. Esse vocabulário infinito está aberto para nós se despendemos um tempo e nos esforçamos para explorá-lo, e durante muitos séculos forjou palavras da experiência para devolver-nos o reflexo dessa experiência, para que possamos entender nosso mundo e também nos entender. è maior e mais perdurável que a biblioteca ideal de Pinóquio, repleta de doces, porque metafórica e concretamente pode levar-nos a ela, permitindo imaginar formas de mudar uma sociedade na qual Pinóquio passa fome, sofre golpes e explorações, tem negado o status da infância, é instado a ser obediente e feliz em sua obediência.Imaginar é dissolver barreiras, ignorar fronteiras, subverter a visão de mundo que nos foi imposta. Embora Collodi tenha sido incapaz de dar a seu fantoche esse estado final de autodescobrimento, creio que ele intuiu as possibilidades de suas faculdades imaginativas. E mesmo quando afirmava que o pão era mais importante que as palavras, sabia muito bem que toda crise da sociedade é, definitvamente, uma crise da imaginação.

MANGUEL, Alberto. Como Pinóquio aprendeu a ler. À mesa com o chapeleiro maluco. Trad. Josely Vianna Baptista. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. p 50.

Diante do quadro de quase extinção da disciplina de literatura e de suas graves consequências no ensino, considero tarefa primordial do curso de Letras a formação de professores com conhecimento específico, capazes de questionar e investigar os problemas do ensino público e de despertar o interesse e instigar o conhecimento do texto literário em sala de aula.  Para isso é preciso partir do princípio de que a leitura da literatura é dependente da compreensão de texto, mas vai além. O ensino da literatura inclui o estudo do texto literário como objeto esteticamente organizado e inserido, como permanência ou ruptura, numa tradição. Isso não significa que a literatura deve ser ensinada como uma sucessão cronológica de escolas e estilos, com autores e obras representativos a serem decorados, criando uma ilusão de participação na herança cultural para as massas. O texto literário é uma potencialidade; não é um monumento ao qual unicamente o professor tem acesso, como decifrador de um sentido. Não se trata ainda de separar o estudo da existência no tempo e a compreensão do texto, pois as duas abordagens não são antagônicas, mas de repensar estratégias de ensino. Hoje, ao pensar sobre os problemas que afligem o ensino de literatura vemos que a linearidade cronológica que organiza a sucessão de “escolas”, a exclusividade do nacional e o tratamento da literatura como documento e monumento ainda permanecem como um problema.

Com essas preocupações em mente, o projeto pretende contribuir para a formação de professores de literatura nas últimas séries do ensino fundamental e no ensino médio. Acredita-se firmemente que o professor deve ser um estudioso e um pesquisador, capaz de questionar o estabelecido e propor novas atividades, e ao mesmo tempo, capaz de se adequar e transformar a realidade escolar. Com esse objetivo, o projeto de formação prevê estudos teóricos e discussões dos textos do MEC, diagnóstico dos materiais didáticos e da realidade escolar, auxílio ao professor da escola, atuação efetiva dos bolsistas em sala de aula e produção de material. Dessa forma, esperamos formar professores capacitados, aliar teoria e prática, estabelecendo um vínculo entre a universidade e a escola pública.

A metodologia explora conhecimentos prévios e interesses dos alunos, estabelece relações com outras linguagens, desenvolve estratégias de leitura de textos literários, nacionais e estrangeiros, em versão integral, para demonstrar, ao contrário do senso comum, a potencialidade da literatura em sala de aula.

Profa. Dra. Renata Telles

Coordenadora

Nos Posts estão disponíveis os nossos preesupostos, nossos planos de aula comentados e a produção do grupo. Nos Arquivos estão disponíveis arquivos de imagem preparados para a sala de aula, textos dos alunos e relatórios.