Alimentação, saúde e história da agricultura

Giuliano Luiz Gava

O método de ensino vigente traz o seu conteúdo voltado quase que exclusivamente para um objetivo: o vestibular. Uma educação integral deve também tomar o cuidado de incluir aspectos práticos da vida dos educandos, afim de trazer uma melhoria na qualidade de vida, bem como noções que estimulem uma maior compreensão acerca da sua realidade e do porque as coisas são como são. Por estes motivos, as escolhas dos temas para as oficinas foram alimentação e agricultura.

A oficina foi realizada na Escola Santa Gemma Galgani com oito alunos do nono ao terceiro ano e teve a duração de três dias. Os dois primeiros dias foram dedicados a aulas teóricas, lançando mão do auxílio de recursos audiovisuais, enquanto que no terceiro encontro foi realizada a parte prática da oficina. Os encontros foram realizados sempre à tarde durante o contraturno das aulas.

Dia 1 - Tópicos pricipais:

- Breve histórico da alimentação pós Segunda Guerra Mundial

- Com a ausência dos homens envolvidos ou mortos na guerra, as mulheres assumem a frente de trabalho

- Devido a demanda de alimentos rápidos, tem início a fase de produção de alimentos industrializados

- O processamento dos alimentos torna a textura mais macia e aumenta o prazo de validade, todavia retira elementos com fibras, ferro e vitaminas do complexo B

- Na segunda metade do séc. XX explode o índice de obesidade e cria-se uma demanda pela redução de gorduras

- Para manter seus produtos atrativos a indústria aumenta a quantidade de açúcares, mantendo o crescimento da obesidade e tornando a diabetes tipo II a nova epidemia (normalmente, a maioria dos estudantes possui algum parente ou conhecido com a doença).

- A epidemia de diabetes não se deve exclusivamente a ingestão de açúcar, mas também a hábitos de vida e ingestão de gorduras (principalmente de origem animal)

- A OMS, em 2015, classificou os embutidos como carcinogênicos de Classe 1 (causador de câncer) e a carne não processada como Classe 2 (provável causador de câncer)

- Doenças causadas pelo estilo de vida são responsáveis por algo em torno de 70% das mortes nos EUA.

- Correlação entre as gorduras e as doenças cardíacas.

- Flora intestinal e mecanismos das bactérias degradadoras de carnitina.

- Bioacumulação e biomagnificação nos organismos marinhos de compostos como os PCB’s (Bifenilpoliclorados) vindos da agricultura.

- Nos EUA a indústria farmacêutica vende cerca de 80% da sua produção de antibióticos para a agricultura animal.

- O uso indiscriminado de antibiótico seleciona bactérias resistentes.

- A indústria farmacêutica envolvida no tratamento de doenças crônicas como o câncer, diabetes ou doenças cardíacas é uma indústria de 1,5 trilhões de dólares (quase o PIB brasileiro) e nos EUA é a indústria que possui o maior gasto com lobby político.

- A proteína que consumimos, de um modo ou de outro, vem primariamente de uma planta que possui capacidade de, em associação com bactérias, capturar o nitrogênio atmosférico.

- Alimentos ricos em proteína

- Grande parcela da população possui intolerância a lactose (um dos estudantes possuía a intolerância).

- Correlação de laticínios com doenças autoimunes.

- Comparação do teor proteico do leite humano com outros leites animais.

- Análise dos hábitos alimentares dos nossos parentes evolutivos mais próximos (chimpanzé).

- Contraponto entre os diferentes tipos de arcadas dentárias em relação aos hábitos alimentares (carnívoro, onívoro, herbívoro, frugívoro) comparando com os humanos (alunos concluem que é semelhante a frugívoros)

- Diferenciação do tamanho de intestinos de onívoros com os frugívoros e seus ácidos estomacais comparando com os humanos (alunos concluem que é semelhante a frugívoros).

- Consumimos, em média, o dobro de proteína e metade das fibras recomendadas.

- Estudos mostram que uma troca para uma dieta baseada em plantas pode, além de prevenir, retroceder doenças já desenvolvidas como doenças cardíacas, hipertensão, diabetes, derrames, infartos, várias doenças autoimunes, asma, entre muitas outras.

- Aspectos ambientais da produção de alimentos.

- A maior parte das frutas e vegetais comerciados é transgênica e cheia de herbicidas e os orgânicos ainda possuem preço elevado por conta da menor demanda.

- Os estudantes chegam a conclusão de que a solução é plantar hortas.

- Exibição do TED talk: A Guerilla Gardener in South Central - LA

Dia 2:

No segundo dia de oficina foi abordada a história da agricultura, que teve início cerca de 7000 anos atrás e como ela se confunde com a história da própria humanidade. Fatores físicos (eg. eixo territorial leste-oeste da eurásia) que permitiram que as espécies do crescente fértil pudessem dar início às primeiras plantações. Falou-se sobre a evolução de animais longe dos humanos e a extinção da megafauna de localidades que foram conquistadas a posteriori, como as Américas e a Austrália, aniquilando os potenciais animais domesticáveis. Como consequência, outros fatores da evolução das sociedades humanas, como a escrita e a forja de utensílios de metais, e como esses fatores combinados culminaram na conformação da ordem mundial, tendo sido a Eurásia a grande potência que subjugou as outras nações e não o contrário. Como recomendação de leitura sugeriu-se o livro: Armas, Germes e Aço.

Dia 3:

Ao terceiro dia trabalhamos na horta já existente na escola, plantando algumas culturas que já estavam sendo semeadas em sementeiras desde o início das oficinas. Com isso os estudantes puderam também reforçar os conceitos desenvolvidos nas outras oficinas paralelas sobre compostagem e fauna edáfica ministradas pelas pibidianas Geovanna e Tairine.

 

Relato da experiência:

Foi minha primeira experiência em sala de aula e foi muito gratificante ver o interesse dos alunos, que foram participativos em todos os momentos. Mais recompensador ainda foi saber que as informações adquiridas foram compartilhadas pelos alunos em casa com seus familiares. São adolescentes que, a despeito do sistema educacional tradicional e desmotivador, possuem muita curiosidade e sede de conhecimento. São experiências como esta que somente o PBID pode proporcionar.