“Relação pedagógica é uma relação humana”

 

Ayrton Oliveira

A frase acima, dita incontáveis vezes por minha professora de didática, Eliane Precoma, marcou minha trajetória docente. Propus então uma reunião reflexiva que trouxesse a tona este sentido.

Escolhi, para motivar nossa discussão o texto “É assim que acontece a bondade” de Rubem Alves.

Iniciei a discussão pelo compartilhamento das sensações mobilizadas nos bolsistas a partir da leitura. Foram sentimentos diversos, porém que apontam à necessidade de mudanças das relações entre professor e aluno, nos sentidos de humanizar tais relações.

Rubem Alves traz neste texto ainda outro aspecto que discutimos incontáveis vezes, a relação entre as “coisas de fora” e as “coisas de dentro”, ou, como tratado em outros textos do autor, “as coisas úteis – uti” e as “coisas inúteis – frui”. O autor trabalha, a partir destes constructos, as relações entre conteúdos conceituais e “conteúdos” emocionais/afetivos tão essenciais ao desenvolvimento pessoal. É consenso no nosso projeto que conteúdos conceituais se fazem necessários à medida que se tornem necessários ao desenvolvimento de habilidades nos alunos, porém o lado emocional dos agentes envolvidos na educação (professores, alunos, pedagogos, demais funcionários) é tão fundamental ao bom andamento da práxis docente e discente quanto os conceituais.

Apesar deste consenso, nossas observações nas escolas revelam o quanto as “coisas de dentro” não deixadas de fora do processo ensino-aprendizagem.  Isto se deve à desumanização de todo o processo. Professores são professores. Alunos são alunos. Não são vistos, no ambiente educacional como pessoas, e sim como peças de um sistema.

Destaquei por fim a seguinte questão trazida pelo autor: “Como ensinar primavera a gelos e areias?”. Somente por meio da solidariedade.  Alves aponta que para acessarmos as “coisas de dentro” nos outros devemos ser solidários, humanos. Devemos promover uma educação mais humana, que trate professores e alunos como pessoas, dotadas de sentimentos, anseios, e não apenas repletas – ou incompletas – de conteúdos.

Parafraseando minha querida professora de didática, não devemos esquecer que a “relação pedagógica é uma relação humana”.

 

 

A solidariedade é como um ipê: nasce e floresce. Mas não em decorrência de mandamentos éticos ou religiosos. Não se pode ordenar: “Seja solidário!”. A solidariedade acontece como um simples transbordamento: as fontes transbordam… Da mesma forma como o poema é um transbordamento da alma do poeta e a canção, um transbordamento da alma do compositor…

Rubem Alves