Biologia 2 > Páginas > 2017 - Aulas Contraturno - Angelo Gusso - Anatomia foral
Aula prática de anatomia floral
Ayrton Oliveira
Esta prática foi baseada na seguinte questão levantada outrora por alunos participantes do projeto ‘Café com Ciência’: Como identificar o sexo das plantas? Embasado nesta pergunta foi proposto um planejamento, tendo como objetivo estimular e aprimorar algumas habilidades nos alunos, tais como observação e exploração de materiais biológicos, além de alguns conteúdos conceituais na área de botânica, para que por si próprios conseguissem discutir a questão levantada.
A aula iniciou-se com uma breve apresentação dos materiais (e seus riscos) que seriam utilizados. Cada aluno recebeu algumas flores da mesma espécie, um bisturi, folhas de papel e lápis. Foram orientados a que fizessem um estudo das peças florais, buscando identificar o máximo de estruturas possíveis na flor, e descrevendo-as (com desenhos ou textos). A aula foi desenvolvida, conforme plano de aula anexado, por meio de dissecação livre-orientada de flores e inflorescências; livre, pois o modo como os alunos procederam a dissecção foi autônomo; orientado, para evitar acidentes ou desperdício de materiais biológicos. Durante este processo os bolsistas auxiliaram os alunos com possíveis cortes anatômicos.
Durante o processo de dissecção, os alunos produziram relatos descrevendo a flor recebida, como o máximo de detalhes possíveis, a priori sem atentar-se à nomenclatura oficial em anatomia vegetal, atribuindo às estruturas nomes que fossem significativos daquilo que observavam: foram utilizados os termos ligamento, bolinhas e caules ondulados, por exemplo, para representar estruturas como gineceu, anteras e gavinhas, respectivamente. Mesmo assim vários deles questionavam-nos sobre os ‘nomes corretos’ das estruturas; penso que isto seja ainda um reflexo do sistema de aprendizagem da qual eles se originam, onde o acerto e a nomenclatura científica são supervalorizados.
Imagem 1: Ilustração de Mucuna bennettii
Autor: Gabriela Vieira
Foram produzidos relatos muito ricos por meio de desenhos (imagens 1, 2 e 3) e textos explorando formas, aromas e cores dos materiais analisados. Pelas produções dos alunos foi possível perceber que a prática cumpriu seus objetivos. Antes mesmo de que soubessem a nomenclatura anatômica de uma flor, os alunos conseguiram descrevê-la , evidenciando suas percepções nesta prática. A partir destes produtos foi discutida a “anatomia formal” de uma flor hipotética, buscando traçar semelhanças com os discursos produzidos. Esta etapa transcorreu muito rapidamente, pois visto a qualidade das observações e descrições o ‘conteúdo’ formal foi de mais fácil apreensão.
Imagem 2: Ilustração de Passiflora actinia
Autor: Muriki Yamanaka
Houve no durante o preparo desta atividade um único obstáculo. Como a prática ocorreu no final do outono, a disponibilidade de flores silvestres não era grande. A maioria das flores encontradas pertencia a famílias com complexas estruturas florais (poaceae e asteraceae, principalmente), de forma que foi necessário grande esforço para se encontrar flores de fórmulas florais simplificadas e tamanho adequado à dissecção a olho nu.
Imagem 3: Ilustração de Hibiscus sp.
Autor: Nicolly Matoso
Esta experiência revelou um ambiente de aprendizagem muito rico aos bolsistas PIBID, uma vez que dela surgiram diversas situações reflexivas:
- Primeiramente, foi percebido um medo generalizado em “errar”, o que fez com que os alunos buscassem sempre descobrir os nomes técnicos ao invés de descrever as estruturas nos termos da proposta de aula;
- Segundo, dar espaço às suas expressões na representação do material (desenho e/ou texto), e liberdade ao longo da prática promoveu a autonomia no processo de aprendizagem dos alunos;
- Terceiro, colocando o aluno como sujeito ativo deste processo ensino-aprendizagem, fazendo-o “colocar a mão na massa”, pudemos notar uma série de mudanças comportamentais; alunos anteriormente vistos com problemas de disciplina em aulas expositivas mudaram de postura ao serem colocados como centro da construção do conhecimento.