Português 3 > Posts > 2016/14 CONSIDERAÇÕES DA COORDENADORA SOBRE O ANO DE 2016
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
Setor de Ciências Humanas
Curso de Letras
Subprojeto Português 3:
Formação de leitores – integrando biblioteca e sala de aula
Relatório da Coordenadora
Como as aulas na escola foram interrompidas, pela resistência dos estudantes secundaristas em 10 de outubro e só retornamos à escola em 16 de novembro, como o prazo para o relatório final do PIBID foi estipulado para o final de novembro enquanto ainda estamos nas salas de aula da escola, a postagem no site e este relatório incluem as atividades e resultados até o dia 28 de novembro. As atividades posteriores à retomada das aulas na escola, que seguirão até o dia 15 de dezembro, e os relatórios finais dos bolsistas serão postados em janeiro.
Considerações sobre o ano de 2016
O ano de 2016 foi extremamente conturbado para a educação pública e para o desenvolvimento das atividades do PIBID. As dificuldades e ameaças ao funcionamento do PIBID foram constantes. Alguns exemplos:
- Suspensão das substituições no começo do primeiro semestre, o que nos fez Iniciar o ano com seis bolsistas e uma supervisora, atuando em duas turmas do nono ano.
- Autorização de substituições na metade do primeiro semestre. Acolhemos três bolsistas de um projeto extinto, mais três bolsistas da lista de espera e uma supervisora. Com os trabalhos já em andamento e a entrada de bolsistas sem experiência, fizemos um plano de emergência para atuar em duas turmas do sexto ano, a partir do mês de maio.
- No início do ano, a verba de custeio foi limitada exclusivamente ao convênio com a copiadora. Escolhemos uma edição barata, conseguimos desconto na livraria e os alunos da escola pagaram R$10,00 pelo livro. Eu e a supervisora completamos o que faltou: colaborei com R$150,00.
- Com a bolsa de R$ 400, 00, pagando passagem para ir à escola toda semana, paguei R$ 50, 00 como colaboração dos bolsistas para o lanche na sala dos professores.
- Publicação da portaria 046/2016 Capes, em abril, que previa alterações profundas no Programa, inviabilizando o PIBID. Os projetos de Letras se reuniram e publicaram carta de repúdio, se posicionando pela saída do Programa caso a Portaria não fosse revogada. Participamos de várias reuniões com a Coordenação Institucional. Entramos com denúncia no Ministério Público. A portaria foi revogada, depois de intensa resistência.
- Em julho e agosto, substituímos uma das supervisoras que entrou em licença e incluímos mais dois bolsistas, chegando a 14 IDS e duas supervisoras. Reorganizamos os bolsistas em pequenos grupos para atender três turmas de sexto ano e três turmas de oitavo ano, alcançando aproximadamente 180 alunos na escola.
- No segundo semestre, a verba de custeio foi TOTALMENTE extinta, não restando nem mesmo o convênio com a copiadora. Para não interromper o trabalho de formação de leitores na escola e de formação de professores na universidade, gastei aproximadamente R$ 1.500,00 com cópias do livro e contos para os alunos da escola, como forma de manter o projeto funcionando, enquanto os bolsistas compraram os exemplares por eles utilizados e bancaram algumas cópias para os alunos, quando se tratava de apenas uma ou duas página. Paguei novamente mais R$ 50, 00 para o lanche na sala dos professores.
- Em setembro incluímos mais um bolsista, para completar a nova cota de 16 IDS estipulada entre os três projetos do Português. Quando íamos incluir o segundo, descobrimos que a vaga havia sido cortada. A Capes, silenciosamente e sem aviso, passou a cortar cotas não preenchidas imediatamente. Acolhemos dois voluntários e novamente reorganizamos os grupos para integrar os novos, que, mais uma vez, se integraram sem experiência aos projetos já em andamento.
- Em outubro, mais uma bolsista foi substituída e em novembro um voluntário saiu do projeto por questões pessoais. Nova reorganização dos grupos.
- Em outubro, como resistência frente aos ataques à educação, as escolas e universidades foram ocupadas e os professores estaduais entraram em greve. Permanecemos em atividade fora da escola, organizando o material e fazendo leituras teóricas. Os cinco projetos do PIBID LETRAS escreveram documento de crítica à MP 746 e de apoio aos professores estaduais.
- Na metade de novembro, com o retorno das aulas na escola, e com a universidade ainda ocupada, voltamos às salas de aula, ajustando as atividades ao novo calendário escolar.
- No final de novembro, para atender aos prazos do relatório PIBID/Capes, publicamos no site do sigpibid/UFPR os relatórios de 2016, com as atividades do projeto ainda não finalizadas, pois atuaremos em sala de aula até a metade de dezembro.
Dessa forma, grande parte do nosso tempo foi gasta na luta pela sobrevivência do projeto. Mesmo assim, apesar de todas as dificuldades elencadas acima, conseguimos manter as atividades na escola e a continuidade da formação dos futuros professores. Enquanto a coordenadora participava das reuniões com a coordenação do PIBID/UFPR e administrava as mudanças do grupo no sigpibid e no SAEPE/Capes, as reuniões semanais com o grupo de 19 pessoas (16 bolsistas, duas supervisoras, mais a coordenadora) foram dedicadas a:
- Discussão e planejamento das atividades e materiais didáticos para os projetos de leitura na escola;
- Revisão do material preparado pelos bolsistas;
- Acompanhamento das atividades dos seis grupos de bolsistas em sala de aula, reflexão dos resultados alcançados e adequação do planejamento;
- Discussão, revisão e avaliação dos trabalhos dos alunos da escola;
- Cobrança de trabalho dos bolsistas, na tentativa de manter todos trabalhando no mesmo ritmo e com a mesma dedicação;
- Discussão e atualização sobre as medidas do governo federal, relativas ao PIBID e ao Ensino Médio, e do governo estadual, relativas aos professores;
- Seminários de leituras teórico-metodológicas;
- Preparação do material para a publicação no site;
- Discussão, preparação e revisão de resumos para a inscrição de bolsistas em eventos científicos.
O resultado de todo o trabalho, em meio à luta pela sobrevivência do projeto, foi, a meu ver, extraordinário. O excelente material produzido pelos bolsistas, o registro do processo de leitura dos alunos da escola e a participação em eventos estão disponíveis no site e podem ser resumidos da seguinte forma:
- Estratégias e materiais elaborados para a leitura de Romeu e Julieta, de Shakespeare, em duas turmas do nono ano no primeiro semestre.
- Estratégias e materiais elaborados para a leitura e trabalho sobre o gênero textual “diário”, em duas turmas do sexto ano na segunda metade do primeiro semestre.
- Estratégias e materiais elaborados para a leitura de Os Meninos da Rua Paulo, de Ferenc Molnar, em três turmas do oitavo ano no segundo semestre.
- Estratégias e materiais elaborados para a leitura de contos de Os livros da Selva, de Rudyard Kipling, em três turmas do sexto ano no segundo semestre.
- Seminários do grupo:
COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2006.
JOUVE, Vincent. A leitura como retorno a si: sobre o interesse pedagógico das leituras subjetivas. In. ROUXEL, A. et al. (Orgs). Leitura subjetiva e ensino de literatura. São Paulo: Alameda, 2014.
FISCHER, Luís Augusto. O fim do cânone e nós com isso: passado e presente do ensino de literatura no Brasil. Remate de Males. Campinas, jul/dez.2014.
- Apresentação de trabalho dos bolsistas em eventos:
- Mesa temática na XVIII Semana de Letras/UFPR, maio de 2016:
Literatura na escola e formação de professores – Renata Telles
A Ilha do tesouro: estratégias de leitura – Fernanda Zimmernann e Sabrina Anhaia
Leitura e produção textual: desenvolvimento da escrita através da leitura de A ilha do Tesouro – Ana Laura Brum e Valentina Dalfovo
A leitura de Machado de Assis em uma turma de aceleração – Mariana Buchaman
Lavoura Arcaica: leitura e produção de fluxo de consciência – Jéssica de Lara
400 anos de Shakespeare em sala de aula - Sinval Hortelan e Ingrid Faustino.
- XV ENAF/UFPR, outubro de 2016
Shakespeare no ensino fundamental: formando leitores - Jessica de Lara e Sinval Hortelan
Shakespeare no ensino Fundamental: Diagnóstico de leitura e avaliação – Valentina Dalfovo e Roberta Maran Perins
Diário: uma experiência de escrita – Rafaela Farinha e Marco Ladeia
Diário: uma experiência literária – Isabel Linhares e Tainara Fornaziero
- Prêmio: Melhores trabalhos apresentados no ENAF da VIII SIEPE/UFPR
Shakespeare no ensino Fundamental: Diagnóstico de leitura e avaliação – Valentina Dalfovo e Roberta Maran Perins
- Publicação de capítulo de livro
TELLES, Renata. Professores de literatura: formando a diferença. LORENZETTI, L.et al (orgs). Disseminando conhecimentos e práticas: o Pibid na UFPR. Curitiba: EdUFPR, 2016.
- Resumo expandido aceito no VI Encontro Nacional das Licenciaturas (ENALIC), a ser realizado em dezembro de 2016
Literatura em sala de aula: competência de leitura e autoestima – Ingrid Faustino Vieira
Formação de leitores: versões integrais de textos literários nos anos finais do Ensino Fundamental – Valentina Dalfovo e Sinval Hortelan
No entanto, se obtivemos resultados positivos e sobrevivemos às dificuldades, gostaria de resaltar que isso se deu também à custa de excesso de trabalho, esgotamento físico e financeiro da coordenadora. Ao lado da carga normal como professora da universidade, o empenho com o PIBID se caracterizou por:
- Coordenar um grupo de 18 pessoas, divididos em seis diferentes grupos, com dois projetos diferentes de leitura, atuando em 6 turmas do Ensino Fundamental II durante o ano e atendendo a aproximadamente 180 alunos na escola;
- Garantir (ensinando, revisando, estimulando, cobrando, dando bronca, ameaçando) que os 16 bolsistas mantivessem o mesmo ritmo de trabalho, com medo de perder uma bolsa no projeto a cada substituição;
- Custear do próprio bolso a leitura e o material para 180 alunos da escola, sem nenhum auxílio do PIBID/Capes, chegando ao valor de R$ 1.750, 00 ao longo do ano.
Apesar de todo cansaço, estou satisfeita com os resultados obtidos. A leitura de Shakespeare no primeiro semestre, assim como o rápido trabalho com os diários, produziu um efeito extraordinário e seus frutos podem ser conferidos nos trabalhos dos alunos da escola e nos questionários de avaliação publicados no site. Ainda teremos que avaliar o efeito das leituras do segundo semestre, duramente afetadas pelas dificuldades já citadas.
Os resultados positivos não teriam sido alcançados sem o engajamento e o trabalho sério da equipe do projeto PORTUGUÊS/3. Agradeço imensamente aos bolsistas que se dedicaram com paixão ao trabalho, às supervisoras que me acompanharam e me auxiliaram durante o processo, e peço desculpas pelas broncas aos bolsistas que se dedicaram menos. Acredito que nossa experiência na universidade e na escola tenha feito diferença na formação dos futuros professores e na formação de leitores na escola. Creio que o projeto,
- alcançou o objetivo de demonstrar a viabilidade da leitura de textos integrais em sala de aula, com grande participação e interesse dos alunos da escola;
- ensinou aos futuros professores a diferença entre aulas DE literatura e aulas SOBRE literatura;
- permitiu, através da divisão da equipe de bolsistas em pequenos grupos, a atuação semanal e efetiva em sala de aula;
- conseguiu mostrar aos licenciandos em formação a importância do estudo, da preparação de aulas e da reflexão e divulgação dos resultados em eventos científicos;
- inseriu os futuros professores na realidade da escola e da educação pública brasileira, através da contato direto com a falta de verbas, a luta pela sobrevivência do projeto, as greves, ocupações e reposições de aula.
Depois de dois anos como coordenadora do PIBID/Português 3, saio no próximo ano em afastamento de pós-doutorado, para desenvolver uma pesquisa sobre a crítica literária brasileira e o ensino de literatura, com a esperança de que o PIBID sobreviva aos ataques que virão e de que o novo coordenador tenha a energia necessária e consiga imprimir um ritmo menos estressante ao projeto.
Continuo acreditando que o PIBID seja o melhor investimento já feito na formação de professores e na aproximação fundamental entre escola e universidade. Mas, sem verba e sem estabilidade, com muitos bolsistas sob a responsabilidade de apenas um coordenador, o PIBID não sobreviverá por muito tempo. Talvez seja essa a estratégia do governo, junto com a MP 746, que retira conhecimento do Ensino Médio no lugar de ampliá-lo, a PEC 55, que corta o investimento na educação e na saúde, o PL da Escola sem Partido, que silencia o discurso crítico: enterrar de vez a educação pública. Continuaremos resistindo e lutando pela educação pública de qualidade.
Curitiba, 27 de novembro de 2016
Renata Telles