Português 3 > Posts > 2015/2 - SALA DE AULA: PROJETOS DE LEITURA E DESAFIOS
Em fevereiro de 2015, adquirimos, com verba do PIBID/UFPR complementada por nós, quatro títulos selecionados a partir da lista do PNBE: para as oitavas séries, uma narrativa nacional contemporânea, ganhadora do prêmio Jabuti de 2009 – O fazedor de velhos, de Rodrigo Lacerda – e um clássico romance de aventuras, publicado na Inglaterra do final do século XIX – A ilha do tesouro, de Robert Louis Stevenson. Para o Ensino Médio, escolhemos um clássico da antiguidade grega, a tragédia de Sófocles – Édipo Rei - e uma narrativa brasileira contemporânea, ganhadora do prêmio Jabuti de 1976 – Lavoura Arcaica, de Raduan Nassar. As escolhas tiverem que ser feitas antes de qualquer contato com a escola, mas não foram aleatórias. Buscávamos, em coerência com nossas premissas, encarar alguns desafios no trabalho com a literatura na educação básica: a) ultrapassar a linearidade cronológica e a exclusividade nacional; b) desmanchar a ideia de que textos longos e distantes no tempo não são capazes de despertar o interesse dos alunos; c) demonstrar a diferença de cada aluno ter um exemplar do livro e de uma turma ler o mesmo texto, para a formação de uma comunidade de leitores; d) formar professores capazes de enfrentar os desafios na transformação de seus alunos em leitores plenos.
Ao entrarmos em contato com a escola (Colégio Estadual Leôncio Correia) e com nossas duas supervisoras (Vera Garcia Baena – 8ª série e Delvir Berta Pitz – ensino médio), constatamos mais alguns desafios. A disciplina de português no ensino médio dispunha de apenas duas horas-aula por semana, para dar conta de um conteúdo que abrange língua, produção textual e literatura. No caso das oitavas séries, além das duas turmas inicialmente previstas, recebemos a solicitação para trabalhar também com uma turma de aceleração, o que implicava um projeto diferenciado.
Mesmo com suporte de textos teóricos e metodológicos sobre literatura e seu ensino, não trabalhamos com a ideia de uma “receita” a ser aplicada a qualquer situação. No caso das turmas de oitava série, os bolsistas observaram algumas aulas da professora Vera e aplicaram um questionário com o objetivo de fazer um diagnóstico dos interesses e hábitos de leitura dos alunos. Para contornar o escasso espaço disponível para um trabalho de leitura integral de textos literários no ensino médio, seguimos a sugestão da Profa. Delvir e, com a autorização da direção da escola, abrimos inscrições voluntárias para duas turmas extracurriculares, uma dando sequência ao turno matutino e outra antecedendo o turno noturno.
Em função dessas particularidades, desenvolvemos projetos de leitura, atividades e estratégias específicas. Nosso trabalho passou a atender cinco turmas e três projetos de leitura diferenciados.
Os planos de aula, com comentários dos bolsistas sobre os resultados alcançados, serão postados no site do PIBID/UFPR à medida que sua aplicação em sala for sendo encerrada.
OITAVA SÉRIE: TURMAS A e B
BOLSISTAS: Ana Laura Kury, Sabrina Anhaia, Fernanda Zimmernann, Rebeca Lessmann, Adriano Lucas Carvalho.
Cada aluno recebeu um exemplar de A ilha do tesouro. Dessa forma, será possível desenvolver uma experiência rara na rede pública de ensino: a possibilidade de o aluno levar o livro para casa e fazer uma leitura individual e solitária e, ao mesmo tempo, a possibilidade de formar uma comunidade de leitores a partir da leitura coletiva e compartilhada de uma mesma obra. O projeto pode parecer simples, mas o desafio é grande e demanda muito trabalho de preparação. Como despertar a curiosidade e o interesse dos alunos pela leitura de um livro de 200 páginas? O plano desenvolvido pelos bolsistas, inspirado nas etapas propostas por Cosson (2014), envolve diagnóstico de leitura e pesquisa sobre os interesses dos alunos, atividades de motivação, pesquisa de textos e imagens relacionadas, contextualização, leituras em voz alta feitas em sala, cálculo de intervalos e dos trechos designados para leitura em casa, discussões orais e atividades escritas. A preparação antecipada de todas essas atividades vai sendo adaptada e alterada conforme a resposta dos alunos e dificuldades de leitura e escrita diagnosticada pelos bolsistas. A ideia mestra do projeto para a oitava série é despertar a curiosidade pelo texto e o prazer da leitura, estimular e valorizar a interpretação pessoal e a voz do aluno, para construir uma comunidade de leitores através das discussões coletivas.
OITAVA SÉRIE: TURMA D
BOLSISTAS: Mariana Buchmann, Anderson Chcrobut, Ingrid Faustino e Rafael Strogenski.
O projeto desenvolvido para a turma de aceleração partiu do desafio de despertar o interesse pela leitura, promover aquilo que chamamos de letramento literário e resgatar a autoestima de alunos com defasagem idade/série. O projeto da Secretaria Estadual de Educação para a turma de aceleração tem o objetivo de levá-los ao ensino médio no próximo ano, trabalhando com diversos gêneros textuais na disciplina de língua portuguesa. Pelas particularidades da turma, consideramos que seria inadequado iniciar com a leitura de um romance de 200 páginas. Elaboramos então um plano que parte do simples para o complexo, da realidade cotidiana para outros horizontes, da linguagem direta e objetiva para a linguagem literária, levando em consideração os interesses dos alunos e seus conhecimentos prévios. Para fazer esse percurso, elegemos o jornal. O trabalho dos bolsistas envolve o desenvolvimento de planos de aula temáticos (namoro, grafite, cinema, futebol), sempre partindo de uma matéria jornalística, ampliada por outras linguagens (imagens, áudios, etc), para chegar à leitura de textos literários (poemas, contos, crônicas), através de discussões e atividades escritas. Os planos de aula exigem muita preparação, materiais diversos e adaptações de acordo com o retorno dos alunos e dificuldades diagnosticadas no decorrer das aulas. A ideia aqui é partir de uma linguagem direta e objetiva, ligada à realidade cotidiana do aluno, para apresentá-lo a outras leituras. Dessa forma, pretendemos resgatar a autoestima e estimular a leitura, ampliando horizontes e dando voz a aluno estigmatizados e desestimulados.
ENSINO MÉDIO
BOLSISTAS: Anna Legroski, Suelen Trevizan, Mariana Vidotti, Jéssica De Lara, Stephanie Madeira.
No início do ano, divulgamos a abertura de duas turmas para aulas de literatura, uma vez por semana, no contra turno do horário escolar, com 25 vagas em cada uma e participação voluntária dos alunos. A proposta foi apoiada pela direção do colégio, junto com o pedido de que déssemos atenção aos livros indicados para o vestibular, o que já era o caso de Lavoura arcaica, incluído na nossa seleção inicial. Deixando claro que leríamos também as obras indicadas, não vimos problemas no pedido, pois a questão aqui não é o que ler, mas como ler. As inscrições numerosas dos alunos no início do ano sofreram uma grande diminuição na retomada das aulas, depois de uma longa e difícil greve dos professores da rede estadual. Decidimos encarar o desafio de turmas bastante reduzidas, o que, por outro lado, abriu a possibilidade de um trabalho aprofundado de leitura com alunos bastante interessados – condição e oportunidade rara para professores em formação. Seguindo as nossas premissas, os planos desenvolvidos pelos bolsistas exploram conhecimentos prévios dos alunos, estabelecem relações com outras linguagens, tempos e espaços (por exemplo, entre Édipo Rei e Lavoura Arcaica), para, a partir da leitura integral das obras, encontrar os contextos aí inscritos. Da mesma forma que nos outros grupos, o trabalho dos bolsistas implica em muito estudo e preparação cuidadosa de aulas, que vão sendo adaptadas de acordo com o interesse e ritmo dos alunos.