Biblioteca escolar: muito prazer!

Conforme se lê em nosso projeto original: “Buscando integrar o estudante universitário com o sistema educacional brasileiro, este projeto promoverá sua inserção em outros espaços para além da sala de aula ― notadamente a biblioteca, sem a qual a formação de leitores fica comprometida. O estudante atuará, portanto, nas salas de aula e nas bibliotecas, fazendo uso do acervo do PNBE.”

O projeto também lista, dentre as atividades previstas, “conhecer a biblioteca escolar”, como parte da percepção desse espaço e de seu acervo  como “laboratório indispensável ao professor de língua portuguesa.”

Nos excertos a seguir (todos eles de autoria dos bolsistas), descreve-se a biblioteca da escola, seu acervo, seus funcionários, as dificuldades e os desafios do trabalho realizado (ou planejado para ser realizado) naquele espaço. Os nomes de bolsistas foram omitidos nos relatos abaixo para evitar constrangimentos, já que alguns deles criticaram a postura de funcionários da escola. Entendo, porém, que a reprodução desses comentários não deva servir para acusar ninguém, mas para promover reflexões (algumas delas já bem conduzidas pelos bolsistas) a respeito do uso adequado e eficiente dos espaços escolares.

DESCRIÇÃO: Aspectos gerais

“Por ser uma escola grande, contemplando Ensino Fundamental e Médio, o Leôncio Correia recebe os três acervos disponibilizados pelo PNBE, ou seja, uma média de 180 títulos por ano. A biblioteca é limpa, arejada, bem conservada, com mobiliário de qualidade, localizada estrategicamente entre a sala de teatro e a sala de computação, em frente à sala dos professores, mas mesmo com todas essas vantagens os livros não circulam muito entre os alunos.

As bibliotecárias não são formadas em biblioteconomia, portanto são proibidas de catalogar e acomodar os livros adequadamente, situação que se revela problemática quando é preciso procurar um título ou autor específico. Se o estudante for à biblioteca com a intenção de olhar a esmo, a questão da desorganização não será um problema, entretanto se ele buscar um título específico, não existe nenhum mecanismo que permita encontrá-lo rapidamente. O que há é uma planilha em excel não atualizada, por isso, alunos e professores acabam ficando à mercê da sorte de encontrar o que buscam, procurando entre as prateleiras ou contando com a ajuda de alguma bibliotecária que conheça melhor a disposição das obras. Houve certa organização feita recentemente na biblioteca separando os livros por área, mas não por nome de autor em ordem alfabética, exceto por um ou outro escritor que tenha mais títulos.

Outra questão crucial é o clima hostil criado na biblioteca e o não uso dela pela maior parte dos professores. Tive a oportunidade de presenciar várias situações de repressão aos alunos que mexiam nos livros ou que conversavam sobre eles com alguma empolgação, também pude ver vários interrogatórios e, até, atitudes de desencorajamento ao empréstimo. A biblioteca, com frequência, é usada como lugar de punição quando o aluno chega atrasado, assim como o lugar onde ele é impedido de frequentar se estiver sem uniforme. Para usar a biblioteca com sua turma o professor tem que marcar previamente, mesmo que o espaço esteja vazio no momento em que o professor levar a turma, não é permitido o acesso em nome da organização e silêncio. Esta situação causou inúmeros dissabores entre os professores e alguns deixaram até de ter interesse em levar turmas inteiras para lá.

A biblioteca do Leôncio Correia tem pouca circulação de alunos se considerarmos o tamanho da escola. Durante um ano de PIBID, vi apenas dois alunos do Ensino Médio frequentarem-na e emprestarem livros. Os alunos que mais utilizam o espaço e acervo são os de 5ª a 9ª ano. As turmas que vi sendo levadas à biblioteca para descobrirem o acervo, foram levadas por nós do PIBID, além de nós não presenciei nenhum outro professor fazendo uso frequente do acervo ou levando os alunos para interagirem com os livros, escolherem alguma leitura prazerosa e desobrigada.

A escola não realiza nenhuma atividade que desperte para a leitura. Não há, por exemplo, “o dia do conto”, “dia da leitura”, “contação de histórias na biblioteca” ou qualquer outro programa de visita ao local. Os professores, apesar do muito espaço que a escola possui, não articulam momentos de leitura ao ar livre, onde as crianças possam sentar em círculos cada um lendo um parágrafo de uma história previamente preparada.

Com isso almejo dizer que o espaço da escola é mal utilizado, sobretudo a biblioteca, tão rica, que a escola conquistou. Não explorar todas as potencialidades do ambiente escolar acaba por favorecer o endurecimento do aluno com relação à escola e aos professores. A biblioteca, o pátio, as quadras de esportes, os jardins deveriam ser usados não só para os fins a que se propõe, mas também para estender o domínio do aluno. A criança deve ter familiaridade com todos os ambientes da escola e interferir com liberdade em todos esses locais. Há que se transformar todos os espaços em locais possíveis para a leitura e troca de experiências.”

“Fiquei bastante surpresa com a biblioteca do Leôncio Correia. É ampla, tem mesas para os alunos lerem e tem um acervo muito bom, visivelmente enriquecido nos últimos anos pelo PNBE. Comparando com as escolas onde estudei essa biblioteca é maravilhosa. Mesmo nas escolas particulares onde fiz o segundo e terceiro anos do EM, o acervo era composto apenas de obras para o vestibular e jornais. /  Porém, apesar de todas essas qualidades, nela não há espaço para os alunos, ou melhor, ela não é um ambiente ocupado por eles. Presenciei mais de uma vez alunos que foram repreendidos por estarem “zanzando” pelas prateleiras sem pedir ajuda para a bibliotecária. Quando há aula vaga eles não podem simplesmente entrar e ficar lá lendo e conversando porque são mandados pra fora ou embora pra casa, no caso de a aula vaga ser a última. Há alunos que frequentam a biblioteca no intervalo, mas são poucos.”

O ACERVO: organização e número de exemplares

“A organização dos livros não segue uma ordem de título ou autor; não há catalogação, apenas uma organização temática como: literatura estrangeira, literatura brasileira, poemas, teatro, literatura infanto-juvenil e dicionários. A biblioteca possui uma grande quantidade de livros pertencentes ao acervo do PNBE, e, embora o programa contemple as escolas com apenas um exemplar de cada livro, percebemos que alguns títulos possuíam entre quatro e seis exemplares. Esses exemplares extras continham ou a sigla do FNDE ou a informação de que a distribuição fora feita pelo governo do Estado do Paraná. Essa verificação foi bastante animadora para nós, pois em algumas ocasiões isso nos possibilitou trabalhar um título por turma sem a necessidade de utilização de projeções ou outro tipo de recurso, proporcionando que o mesmo livro pudesse ser trabalhado em grupo. Dividindo uma turma de trinta alunos em grupos de cinco pudemos utilizar um exemplar por grupo, o que significou que todos os alunos tiveram contato com o livro e esse contato pôde ser muito mais produtivo do que a leitura por outros mecanismos, tais como fotocópias. [...]

Ainda em nossa visita à biblioteca surgiu a ideia de criarmos banners de livros que viraram filmes, que ficariam expostos na biblioteca para que pudéssemos atrair mais leitores; não fizemos tais banners, mas o pôster produzido e apresentado no II Seminário Estadual PIBID do Paraná realizado em outubro de 2014 em Foz do Iguaçu está exposto na biblioteca do CELC, como amostra do resultado do nosso projeto. [...]

Mesmo o CELC possuindo um bom acervo, não havia no colégio nenhum programa de formação de leitores. Também não existia um registro estatístico de empréstimos e o acervo não era informatizado. As pessoas responsáveis pelo atendimento na biblioteca não tinham formação específica na área. A aparência dos exemplares é de bom estado de conservação, muitos com a aparência de novos ou pouco manuseados; encontramos uma situação semelhante ao relatado na pesquisa da Prof.ª Aparecida Paiva em seu livro LITERATURA FORA DA CAIXA [...].”

“Apenas um exemplar por obra na biblioteca: Para esse problema eu não vejo solução, mas uma alternativa, o xerox. Seria ótimo se tivéssemos um livro por aluno, mas essa realidade está bem distante da escola pública. Acho que se elas recebessem mais exemplares por obra a variedade diminuiria bastante, e isso geraria outro problema, a falta de opção. O xerox é uma alternativa cara e pobre, porque um livro ilustrado, por exemplo, perde totalmente a graça quando xerocado. Mas essa foi a solução que encontramos e que funciona, e também está ao alcance de outros professores.”

O USO DA BIBLIOTECA PELA COMUNIDADE ESCOLAR

“Percebemos, ainda, que o espaço da biblioteca era utilizado pelos alunos durante o intervalo (recreio) não apenas para leitura e empréstimos de livros, mas também para jogos de xadrez. [...] Tivemos que nos adaptar com agendamentos prévios para a utilização do espaço. Sem esse agendamento nosso acesso à biblioteca em companhia das turmas para alguma atividade de leitura não era permitido. Observamos durante todo o ano de atuação do projeto que a biblioteca é muito pouco frequentada pelos alunos e que nos horários que antecedem a primeira aula e nos horários de saída dos alunos da escola a biblioteca sempre estava fechada. Em nossa atuação no período noturno, em alguns dias em que atuávamos, a biblioteca se encontrava fechada sem nenhuma justificativa ou informação sobre o não atendimento naqueles dias.

Tínhamos a intenção de utilizar a biblioteca como usuários, mas não nos foi permitido; informaram-nos que o empréstimo era apenas para a comunidade escolar. Devido a isso, sempre que pretendíamos utilizar uma obra, comprávamos usando nossos próprios recursos, emprestávamos de outras bibliotecas ou emprestávamos de pessoas conhecidas, como por exemplo, de nossa coordenadora.

Ao final deste ano de atuação do projeto PIBID no CELC, observamos que não havia nenhum projeto em andamento ou sinalização de que haverá alguma ação específica por parte da escola ou da biblioteca para o incentivo à leitura e utilização do espaço para esse fim.”

“Outro problema encontrado foi o número de exemplares de cada livro no acervo. Como nosso projeto trabalhou com livros em turmas de aproximadamente trinta alunos e os livros costumavam ter no máximo cinco exemplares na biblioteca, tivemos que trabalhar muito com fotocópias, o que impossibilita o trabalho com o livro integral. Trabalhamos apenas com partes e capítulos. Para o trabalho em sala de aula seria muito bom se houvesse pelo menos 15 exemplares de livros que seriam trabalhados no ano, pois assim alunos poderiam revezar e ler em duplas em sala de aula, sem a necessidade de xerox e com a possibilidade de ler o texto completo.”

Um exemplar por biblioteca: “Nas primeiras reuniões, antes mesmo de visitarmos a escola, já tínhamos que pensar em um modo de superar o primeiro problema: falta de livros do acervo. O PNBE disponibiliza livros excepcionais às escolas mas apenas um volume de cada livro, o que dificultaria o acompanhamento das leituras pelos alunos. Recorremos, então, ao uso de cópias mesmo sabendo que não seria o ideal – este sendo a utilização dos livros físicos.”

“Quanto à biblioteca, está cheia de livros bons e acredito que a demanda por eles deveria ser maior. Para isso a escola poderia investir em projetos dentro da biblioteca, como saraus, feiras literárias, contação de história, sessões de cinema de filmes inspirados em livros, e etc. Transformar a biblioteca como parte da escola, utilizar seus recursos e tornar o ambiente aconchegante e propício à leitura são coisas que devem ser pensados para a formação de leitores.”

RECURSOS HUMANOS: as bibliotecárias e os alunos; as bibliotecárias e os bolsistas:

“O segundo passo foi conversar com a bibliotecária e conferir a disponibilidade da utilização do espaço para ministrar essas atividades. Muito receptiva, a bibliotecária Jane nos informou que se agendássemos previamente, a biblioteca cederia o espaço para que pudéssemos aplicar nossas aulas.”

“No nosso primeiro semestre de atuação fomos auxiliados pela bibliotecária Jane, a qual nos apresentamos e com quem a coordenadora Milena conversou e explicou o projeto. Entretanto, a Jane entrou em licença no segundo semestre e, em seu lugar, entrou uma bibliotecária cujo nome nunca descobrimos. Durante os períodos livres, nos quais não estávamos em sala de aula, ficávamos na biblioteca preparando as aulas e lendo os livros do acervo PNBE. Em nossa segunda ida à biblioteca no segundo semestre fomos abordados pela nova bibliotecária perguntando se sempre iríamos ficar na biblioteca e quantos éramos. De forma muito grosseira ela disse que deveríamos reservar a biblioteca caso quiséssemos utilizá-la, pois senão atrapalharíamos os alunos. Nunca havíamos visto a biblioteca cheia, ou com mais de meia dúzia de alunos. Além do mais, ficávamos em um espaço que não era destinado aos alunos, uma mesa atrás do balcão. Mesmo com as contradições, reservamos a biblioteca para todas as quintas de tarde.”

“Outro episódio ruim foi o dia em que uma delas [funcionárias da escola] me confundiu com outra bolsista. De uma maneira muito grosseira me pediu um livro que eu supostamente havia emprestado da biblioteca e que só poderia ficar com ele uma semana. Eu disse que não tinha emprestado nada e que sabia qual era a política do colégio, de que só os alunos poderiam emprestar as obras. Porém ela me levou  até a biblioteca pois tinha certeza de que era eu que havia pegado o livro. Quando chegamos lá a outra bibliotecária disse asperamente: ‘É essa guria aí que tá devendo livro?!’ Enfim no caderno dela estava anotado o nome da [Fulana], outra bolsista do EM, e o número de telefone! A devolução não estava atrasada e mesmo assim a funcionária ligou para ela! Não ouvi nenhum pedido de desculpas e saí da biblioteca!”

“Um dos principais problemas que encontramos para a atuação do PIBID na escola foi a recepção da biblioteca. Nosso projeto, que pretende integrar biblioteca e sala de aula, teve dificuldades para promover tal integração, pois nós, bolsistas, éramos mal recebidos e tínhamos nosso acesso limitado por uma bibliotecária, a liberdade era mínima. Além de dificultar o trabalho dos bolsistas, percebi também que os alunos passavam por situações bastante desconfortáveis lá dentro. Eram inquiridos sobre o porquê de estarem ali, eram levados até lá como castigo, para fazerem provas que haviam perdido etc. Além disso, o espaço era fechado em vários períodos em que alunos poderiam estar utilizando-a, especialmente turmas noturnas. / Acredito ser essencial que a biblioteca funcione em mais horários e que se torne um ambiente mais acolhedor para que os alunos sintam vontade de visitá-la, permanecer lá, fazer empréstimos, estudar e pesquisar. O nosso trabalho de divulgar o acervo do PNBE e de aproximar a sala de aula e a biblioteca requer tais mudanças na biblioteca e na atitude dos funcionários em relação a ela.”

“A bibliotecária do primeiro semestre, Jane, apoiava bastante nosso trabalho, porém no segundo semestre ela entrou em licença e outra bibliotecária assumiu o lugar. / Durante uma das vezes em que eu estava na biblioteca um aluno entrou sem uniforme e ela começou a gritar com o aluno dizendo que como ele estava sem uniforme não poderia ficar lá. O aluno argumentou que tinha esquecido o uniforme em casa e só queria sentar para ler enquanto a aula não começava. E ela gritando disse que sem uniforme ele não poderia ficar, mandou ele sair e falou que só voltasse uniformizado. Claro, o aluno não voltou. / Outra vez em que eu estava lá ela me abordou, de maneira grosseira, perguntando se eu tinha reservado a biblioteca para estar ali. Eu disse que não, que nem sabia que era necessário. Ela respondeu que para utilizar a biblioteca deveria marcar horário porque a gente (pibid) estava atrapalhando os alunos e tirando o lugar deles. Nesse momento só tinha um aluno na biblioteca e eu. / Durante a atividade de leitura do Reforma da Natureza feita pelos alunos na biblioteca eu fui perguntar à bibliotecária se eu poderia empurrar as mesas para fazermos um círculo de alunos sentados no chão, me comprometendo a organizar tudo depois. A bibliotecária, que estava lendo, não tirou os olhos das páginas para me olhar e simplesmente não respondeu. Eu repeti a pergunta e ela me olhou de cara feia e respondeu apenas “não”. Eu perguntei o motivo e só faltou ela me responder “porque a biblioteca é minha e quem manda aqui sou eu”, mas as resposta, em tom de voz mais alto, foi “se eu soubesse de que vocês iriam fazer essas coisas não tinha deixado vocês virem dar a aula aqui”.

“O propósito da ida à biblioteca era justamente mostrar aos alunos que esse ambiente não é um local ‘proibido’, de castigo ou apenas pesquisa. Queríamos que eles vissem a biblioteca como um espaço de aprendizagem e acolhimento. Como podemos fazer isso se até mesmo os funcionários não veem a biblioteca dessa forma?”

“Dificuldade de acesso dos alunos aos livros e nosso à biblioteca. / Esse é um problema estrutural da escola. As bibliotecárias que trabalham lá são professoras afastadas de função, logo não tem formação adequada e estão cansadas. Penso que isso poderia ser resolvido com um curso de preparo para essas pessoas, que as ensinasse que a biblioteca escolar deve ser um local de circulação e uso dos alunos, e não um ambiente intocável e de preservação. Acredito que a sua intenção seja mesmo a de preservar o acervo, e manter a biblioteca em silêncio, mas de que adianta ela existir se ninguém a usa? / Quanto à nossa dificuldade de acesso isso só aconteceu nos últimos meses, quando a bibliotecária que acompanhou o início do projeto se afastou e entrou outra em seu lugar. Essa nova funcionária nos exigiu que marcássemos horário para estar na biblioteca! O problema foi resolvido quando reservamos todas as tardes em que estaríamos lá. A bibliotecária que se afastou era bastante conhecedora do acervo, diferentemente da que entrou em seu lugar.”

A biblioteca como ESPAÇO de APRENDIZAGEM

“A atuação das turmas dentro da biblioteca escolar foi bastante produtiva. Os alunos se mostraram entusiasmados com o fato de manusear o livro e de decidir sobre qual poema iriam discorrer. Foi surpreendente perceber como o ambiente da biblioteca e o contato com o objeto livro contribuiu para o clima de entusiasmo pela leitura.”

“Como essa seria nossa despedida dos alunos, [antes do recesso da copa e das férias de julho] e pensando que o objetivo do projeto é fazê-los conhecer, ler e emprestar o acervo do PNBE, ou ainda, passar a frequentar e fazer uso da biblioteca, propusemos uma atividade relativamente livre que proporcionasse aos alunos esse contato com o acervo. Em ambas as turmas levamos os alunos à biblioteca e pedimos que escolhessem três livros. Desses três livros eles deveriam ler capa, contracapa, e introdução, e escolher um deles para escrever (1) Sobre o que trata o livro? (2) Por que você se interessou por ele? (3) Como você acha que a história se desenvolve? / Antes de buscar os alunos na sala nós escolhemos e deixamos em cada mesa entre três e cinco livros do PNBE. Um ou dois grupos se limitaram a olhar os livros que escolhemos, mas a maioria dos alunos escolheu outros títulos para olhar também. Como conhecíamos o perfil dos alunos não nos surpreendemos com algumas atitudes de má vontade, mas o comportamento de outros nos surpreendeu positivamente. Poucos alunos não participaram, fugiram da aula ou ficaram sentados sem sequer olhar as prateleiras, e as surpresas boas foram mesas com alunos interessados em saber mais sobre o livro que estavam olhando, alguns alunos que andavam pelas prateleiras com intimidade, alguns meninos que pegaram o livro Crônicas para ler na escola, de Marcelo Rubens Paiva (PNBE 2013), e ficaram rindo das histórias, e um aluno hiperativo da turma de inclusão que sentou sozinho e só pegou livros grossos porque, segundo ele, livro fino não tem graça. Apenas um aluno levou o livro pra casa, e este foi James e o pêssego gigante. Perguntei o porquê da escolha e ele disse que tinha visto o filme e gostado. / Nosso objetivo com essa atividade era levá-los à biblioteca, fazê-los ter contato com o acervo e observar seu comportamento. Mas acredito que isso tenha sido feito um pouco tarde. Se tivéssemos feito essa atividade no início das aulas teríamos, quem sabe, planejado outras atividades na biblioteca para fazê-los ter mais contato com os livros e se familiarizarem com o acervo.”

SUGESTÕES

“As observações realizadas no ambiente escolar e, principalmente, na biblioteca deixaram claro que é preciso fazer com que os alunos do Leôncio Correia passem a perceber a biblioteca como instrumento de apoio na aprendizagem. O local não é percebido pela maioria como um lugar que lhes pertence. A comunidade escolar não sabe que a biblioteca existe e está dentro de um programa do governo federal de distribuição e criação de acervo, ou seja, eles não sabem que aquele lugar é um direito deles.

O primeiro trabalho que deveria ser feito, é pelos professores com os alunos no sentido de conscientização da existência e pertencimento do espaço. É de importância indiscutível a necessidade de que os alunos passem a usar a biblioteca da escola extraindo dela tudo o que oferece.

Os servidores da biblioteca devem ser escolhidos a dedo. Vimos que não dá para ter na biblioteca meros técnicos, mas é preciso que hajam entusiastas da leitura, generosos e imbuídos em facilitar o acesso do aluno aos livros que são de seu interesse, indicando obras, autores quando possível, pesquisando modos de suprir a demanda dos alunos daquela escola. O profissional tem que ser conhecido pela comunidade e precisa ser procurado quando uma necessidade surgir. Além disso, deve ser a pessoa que sabe como dispor, catalogar e expor os livros. Precisa ser o mais íntimo da biblioteca, o que promove atividades que despertem o interesse dos estudantes pela leitura. A direção e o corpo docente deve ter uma preocupação real com as práticas que serão adotadas na escola para incentivo à leitura, treinando seus funcionários e instruindo seus alunos. As regras referentes ao toque, aos empréstimos e as posturas de leitura não precisam ser tão rígidas promovendo o afastamento dos interessados.

No início de cada ano letivo poderiam acontecer reuniões com os bibliotecários, direção e professores para definir as atividades do ano e os métodos que serão adotados. No fim do primeiro semestre, mais uma reunião para debater aquilo que foi feito, quais os resultados alcançados e o que precisa mudar. Essa prática possibilita a reflexão sobre o uso da biblioteca e quais as atividades surtem melhores efeitos. Um cronograma de aulas na biblioteca poderia ser elaborado de forma que, pelo menos, uma vez por semana o aluno frequente o local e seja incentivado a emprestar algum livro. O professor pode sugerir livros que tenham relação com o conteúdo abordado em suas aulas. Essa é uma atividade interdisciplinar, mas que, frequentemente, é exigida apenas do professor de português. A biblioteca é de todos e contribui com todas as áreas do saber. ”


Os comentários dos bolsistas interessam seja pela suposta objetividade (por meio da qual podemos supor quais são os limites da ação pedagógica no espaço da biblioteca), seja pela postura crítica e demandante assumida por eles. A bibliografia lida por eles ao longo deste ano e as discussões havidas no grupo deram destaque à biblioteca escolar como eixo fundamental da aprendizagem e, ainda mais, da formação de leitores. Se os embates pessoais e materiais os desanimam, eles não são suficientes porém para fazerem-nos perder as esperanças, nem desistir da biblioteca.

As reflexões, proposições e as demandas dos bolsistas são em grande medida um reflexo do que eles aprenderam neste ano de leitura, discussões e atuação. Destaco uma reflexão de Michèle Petit a respeito desse espaço vital para as escolas:

"Mesmo no interior da escola, a biblioteca deveria ser um espaço cultural, mais do que um complemento didático, para dar lugar a percursos singulares, a achados imprevistos (em particular no caso de quem não pode ter acesso a uma biblioteca familiar). Ela não deveria estar a serviço apenas da pedagogia, mas se afirmar como um espaço de ‘não obrigação no interior da obrigação’, para retomar a fórmula de Ani Siro. Claro, isso não significa não trabalhar mais com os professores, mas, pelo contrário, propiciar que se conheçam e inventar outras abordagens, pois, por pouco por toda parte, a regra é o desconhecimento mútuo: muitos bibliotecários imputam aos professores o pouco gosto que os adolescentes teriam pela leitura, ao passo que muitos professores ignoram aqueles que dão vida às bibliotecas e aos centros de documentação, ou os veem como meros técnicos."(Michèle PETIT, 2009, p. 274)