Ao longo deste ano, discutimos no grupo alguns artigos e livros que fundamentam nossas ações. Dentre eles, destaco:

CANDIDO, Antônio. “O direito à literatura” in: Vários escritos. 3.ed. rev. ampl. São Paulo: Duas Cidades, 1995.

MACHADO, Ana Maria. Como e por que ler os clássicos universais desde cedo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.

MARTINS, Milena R. ; FERNANDES, C. R. D. ; VIEIRA, A. S. ; SILVA, Márcia Cabral da. Organização e uso da biblioteca escolar e das salas de leitura. 1. ed. Brasília: Ministério da Educação, 2005.

PETIT, Michelle. Os jovens e a leitura: uma nova perspectiva. Tradução de Celina Olga de Souza. São Paulo: Ed. 34, 2008.

PETIT, Michelle. A arte de ler ou como resistir à adversidade. Tradução de Arthur Bueno e Camila Boldrini. São Paulo: Ed. 34, 2009.

SILVA, Márcia Cabral da; MARTINS, Milena R. Experiências de leitura no contexto escolar. In: Aparecida Paiva; Francisca Maciel; Rildo Cosson. (Org.). Literatura: Ensino Fundamental. Coleção Explorando o Ensino. Brasília-DF: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2010, v. 20, p. 23-40.

SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.

Para além da objetividade dos dados das referências bibliográficas, cito alguns trechos escolhidos pelos bolsistas:

"Ora, se ninguém pode passar vinte e quatro horas sem mergulhar no universo da ficção e da poesia, a literatura concebida no sentido amplo a que me referi parece corresponder a uma necessidade universal, que precisa ser satisfeita e cuja satisfação constitui um direito." (Antonio Candido)

“Uma sociedade justa pressupõe o respeito dos direitos humanos, e a fruição da arte e da literatura em todas as modalidades e em todos os níveis é um direito inalienável." (Antonio Candido)

"Uma vez que os livros já estejam alojados em sua escola e que já tenha sido estabelecida a maneira pela qual se organizará o acesso a eles, é preciso manter viva, ao longo do ano letivo, a atenção de toda a comunidade escolar para a importância que a leitura precisa ter no projeto da escola. / Essa importância manifesta-se, por exemplo, na previsão de atividades específicas de leitura em todas as classes, ao longo de todo o ano. Tais atividades precisam fazer parte do planejamento escolar, isto é, precisam ser agendadas com antecedência para cada classe, para que todos se preparem e os livros do acervo possam circular de forma harmoniosa nas diferentes turmas." (Marisa Lajolo)

“Desse modo, a leitura estende-se da habilidade de traduzir em sons sílabas sem sentido a habilidades cognitivas e metacognitivas; inclui, dentre outras: a habilidade de decodificar símbolos escritos; a habilidade de captar significados; a capacidade de interpretar seqüências de idéias ou eventos, analogias, comparações, linguagem figurada, relações complexas, anáforas; e, ainda, a habilidade de fazer previsões iniciais sobre o sentido do texto, de construir significado combinando conhecimentos prévios e informação textual, de monitorar a compreensão e modificar previsões iniciais quando necessário, de refletir sobre o significado do que foi lido, tirando conclusões e fazendo julgamentos sobre o conteúdo. / Acrescente-se a essa grande variedade de habilidades de leitura o fato de que elas devem ser aplicadas diferenciadamente a diversos tipos de materiais de leitura”. (SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. 2.ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2004, p.69)

"Daí decorre que uma atividade de leitura desenvolvida na escola deve ter objetivos claros em cada etapa: não é possível ao leitor iniciante (nem mesmo ao experiente) perceber de uma só vez todas as sutilezas de um texto – ambiguidades, ironia, lirismo, estratégias de persuasão, referências intertextuais e factuais, seu enquadramento num gênero, elementos de sua estrutura, da linguagem utilizada ou construída, relações entre o texto e as imagens que compõem seu projeto gráfico, etc. Ao trabalhar com um determinado texto, cabe ao professor ter clareza sobre onde quer chegar e sobre o caminho a ser trilhado para atingir seus objetivos. É importante também – para além da previsibilidade do planejamento – que o professor esteja atento aos comentários dos alunos, muitas vezes surpreendentes, que lançam novas luzes sobre os textos.
Os objetivos do ensino de leitura são, como se vê, numerosos. Ao solicitar aos alunos que extraiam do texto uma informação, por exemplo, o professor está colocando em prática alguns elementos importantes do processo de leitura. Mas sabemos que a leitura não se reduz à busca de informação, embora este seja um dos seus usos mais disseminados. Mais do que informativos, os textos são formadores do indivíduo." (Silva e Martins, p.37-8)

"Compreendemos que por meio da leitura, mesmo esporádica, [os jovens] podem estar mais preparados para resistir aos processos de marginalização. Compreendemos que ela os ajuda a se construir, a imaginar outras possibilidades, a sonhar. A encontrar um sentido. A encontrar mobilidade no tabuleiro social. A encontrar a distância que dá sentido ao humor. E a pensar, nesses tempos em que o pensamento se faz raro." (Michèle Petit. Os jovens e a leitura, p.19)

"Outra coisa muito prazerosa que encontramos num bom livro é o prazer de decifração, de exploração daquilo que é tão novo que parece difícil e, por isso mesmo, oferece obstáculos e atrai com intensidade. Como quem se apaixona.É uma delicia irresistível. ir se deixando fascinar, se permitindo ser conquistado por aquelas palavras e ideias, tentando ao mesmo tempo conquistar e vencer as dificuldades da leitura. [...] hoje em dia cada vez se fala mais na leitura como uma atividade, não apenas ocmo um recebimento ou um consumo passivo." (Ana Maria Machado, p.21)

Se a indicação das fontes é importante, mais importante ainda é a sua apropriação pelos leitores, os bolsistas. Veja-se, a título de exemplo, o comentário de uma bolsista a respeito do livro de Rildo Cosson:

“Um dos aspectos que mais me levaram à reflexão durante todo esse ano está relacionado ao que Cosson denomina “interpretação”, a última etapa de sua sequência. Para ele este momento se divide em interior e exterior. Durante toda minha vida escolar eu não passei pelo momento exterior da interpretação, a hora em que se discute com o professor e os colegas sobre suas impressões a respeito do livro. Tanto que a primeira vez em que discutimos sobre isso em reunião, achei algo totalmente novo. Para mim, tanto a leitura quanto a interpretação sempre foram coisas muito solitárias e sempre acreditei que não interessava a ninguém saber das impressões de outra pessoa sobre determinada obra. Inclusive já dentro da universidade. / Quando entendi e comprovei por que a discussão não só é desejável, mas necessária para a construção de sentido, pensei, é claro, em toda minha vida escolar sem o estímulo para a discussão, mas, principalmente, compreendi a importância de um professor em sala ciente deste processo e que não o ignora como se fosse algo dispensável após a leitura. É claro que a interpretação interna é importante, sem que ela ocorra não há como haver o segundo momento. Mas não se pode parar aí. A interpretação externa é o momento mais rico de todo o processo, é onde o diálogo é o protagonista e onde se percebe que apesar de o outro pensar de forma diferente, as ideias dele são tão boas ou melhores que as minhas, e isso enriquece a interpretação de todos. Criando-se o espaço para o diálogo, cria-se também o espaço para o respeito. Isso aprendi com o Cosson e levarei para o futuro como docente.” ― Comentário da bolsista Deborah.