Resumo
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O presente artigo trás a nossa atual realidade o testemunho de uma Educadora, Dona Narcinda Ramos.
Nascida em uma família de professores, esta mulher foi uma das responsáveis pelo aprendizado de muitas crianças, as preparando para desvendar e entender o mundo científico que o ensino nos dá.
Em seu testemunho, gravado em 08 de Fevereiro de 2012, dada entrevista exclusiva para este artigo, relata a sociedade da época antes mesmo de Matinhos ser Município. A primeira escola e o ensino, dentre outras importâncias que bem observadas, explica um pouco do desenvolvimento socioeconômico, cultural e politico da região.
Esta ideia de pesquisar a historia da escola e seus primeiros percussores, veio de alguns ensinamentos de Paulo Freire e Rubens Alves quando se referem a importância da história de vida do sujeito para o aprendizado.

Assim, procuramos conhecer quem são esses Protagonistas da Educação Litorânea.

Pesquisa feita pela acadêmica em Licenciatura em Ciências – UFPR Litoral e Bolsista deste programa, Rennata Orrico, PIBID no Sub Projeto Ciências na Perspectiva da Educação Científica para a Diversidade e Educação Ambiental, Coordenadoria de Luiz Everson da Silva, também professor desta instituição.

Orrico R.

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Os Protagonistas
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A começar pela avaliação do aprendizado do alunado, nos deparamos com um especialista no assunto, o 'inspetor'; que vinha uma vez no ano de Paranaguá-PR para aplicar uma única prova, o qual o conteúdo desconhecia. Uma verdadeira "roleta russa" para os estudantes, que dependiam desta para 'passar de ano'.

Logo quando Matinhos se tornou Município, a educação escolar local sofreu as modificações necessárias, passando a responsabilidade do ensino para o corpo docente da então nova comarca. Já podendo aplicar as provas e corrigi-las, assim começaria autonomia, tendo nas mãos o poder da 'aprovação e reprovação'.


Segundo o relato da Professora Narcinda Ramos¹, se organizanvam em reuniões para definirem o conteúdo delas e ali mesmo era feito o sorteio do rodizio entre os professores nos períodos de provas, ou seja, os professores trocavam de escolas para aplicação e correção das avaliações. Isso era para não haver "facilitações".


Naquela época, as salas de aula eram alugadas. A Prefeitura locava uma casa, ou a sala de uma casa, ou galpão, em fim, qualquer espaço que pudesse comportar a quantia de alunos para determinada turma/série para aquele ano. Imaginem, se neste ano o numero de alunos para as 2ª séries é de 60. Então, dificilmente se arranjaria uma sala que comportasse esse numero, o feito seria, alugar 3. E assim foi, para "aquele" ano se alugou uma sala lá no Bairro Rivieira, outra na Vila dos Pescadores e outra no Tabuleiro. E a cada ano que se passava eram feito estes arranjos.
Mas existiam outros detalhes, como por exemplo o Livro Didático. Ele ainda não existia, pelo menos por estas bandas do sul! Apenas um seu parente próximo fazia visitas eventuais, o Livro de Leitura - "Era por isso que se pedia muita leitura em voz alta aos alunos!", conta.


Biblioteca não existia apenas por falta de espaço físico, mas também por não existir livros. Aliás, o Livro de Leitura, nem sempre era disponível pelo Governo, e quando, era restrito apenas aos professores que compartilhava com os alunos. Para a construção do conhecimento em sala e conteúdo para o aprendizado, eram os próprios professores que buscavam. Que com frequência se deslocavam até Paranaguá e compravam livros, sem contar com bonifico do Município, nem do Estado e quem dirá do Governo Federal! Havia sim uma grande cumplicidade entre os professores, que de inicio somados eram em seis (6). Do planejamento ao conteúdo, o que os alunos iriam aprender e como aprender, em fim, tudo estava a mercê destes cidadãos com forte comprometimento com o futuro daquelas crianças.


Com tão rico relato, um série de interrogações surgem em nossas mentes, não é mesmo? Vou tentar adivinhar uma delas; - E a Merenda? -. Acertei? Claro que acertei e na mosca! Para assim fechar o retrato 3x4 do que conhecemos por "Escola". Afinal, de forma popular é assim que pensamos hoje: salas de aula e recreio com merenda!
Já se é sabido que as aulas eram restritas a quatro paredes, o Livro Didático não existia e apenas o de Leitura! Diante disso, do que vemos ainda com fragilidade e fama, é a Merenda Escolar. Sim, ela existia! Ah, que alívio! É uma resposta positiva! Mas o que há de positivo num quadro frágil, débil e necessário? Nela era servido apenas Leite. Isso mesmo! O Leite que hoje lemos em sua embalagem a frase: "Não deve ser servido como única fonte de alimento." Porém, a astúcia desses professores pedia mais e eles acrescentavam as bolachinhas! Com o passar do tempo, o Governo a “evoluiu” e passou a ser uma espécie de "ração", mais conhecida como PTS (carne de soja). Os temperos e a mistura eram feitos com o que alunos levavam. Todos eram solidários e participantes da alimentação, cada trazia de casa algum igrediente e assim se fazia a Merenda Escolar. A coisa funcionava da seguinte maneira, os professores lembravam durante a aula o que se precisaria para o cozimento do dia seguinte (tomate, cebola, alho, e outros), e a dita "vaquinha alimentar" seguia adiante.

Ler tudo isso e imaginar, tal como desenho antigo com o preto no branco, cheio de romantismo e sonhos, anula as dificuldades que todos enfrentavam, o dia a dia da escola era cheio de aventuras! Ao começar pelo despertar em casa, se chovia era preferível que se passasse pelo mato em vez de encarar a estrada. O trajeto era outra dificuldade enfrentada por professores e alunos, aliás, todos da comunidade!


Dona Narcinda foi uma das primeiras professoras efetivadas do Município de Matinhos e dizem que foi a terceira a se aposentar. Sobrinha legítima por parte de pai da Professora Tereza da Silva Ramos. Nascida aqui, assim como seus genitores, foi protagonista da realidade da educação no Litoral Paranaense e ajudou a escrever nossa história. A família Ramos é conhecida como a de educadores, professores. Tanto é verdade, que esse vírus se propaga até em seus filhos, todos lecionam.


Agora retomando o contexto didático de nossa prosa, a desenvoltura destes professores é um fato que nos chama muito a atenção. Sem recursos literários fornecidos pelo Governo, sem estrutura física apropriada, sem formação acadêmica e somando todos os outros "sem", ainda assim não foram suficientes para impedir a instrução das letras àquelas crianças. E a pergunta é: " Como?" Para este “Como” veem o esforço dos Protagonistas, os Professores, que unidos, planejavam as aulas, compravam livros e faziam todo o trabalho de planejamento (que hoje é feito pelas secretarias). Construíam o conhecimento de uma forma didática aplicável ao entendimento daqueles serzinhos de olhares curiosos e gestos destrambelhados de crianças.


No relato da Professora Narcinda, conta que um dia se ensinava português e no outro matemática. As matérias de Ciências e História eram dadas uma vez na semana, sempre respeitando a regrinha básica, o desempenho dos alunos no com-preender, aprender. A prioridade era da língua materna e da matemática, as ou-tras estavam em segundo plano, assim serviam dois dias para português e dois para matemática e um para ciências ou história, tudo dependia de como os alu-nos respondiam ao aprendizado - se os alunos aprenderam bem o conteúdo se ini-ciava outro. As provas passaram a ser bimestrais, mas sempre seguindo o esquema de rodizio de professores que trocavam de escolas.

Atualmente no Município comporta mais de 400 professores, 16 escolas pú-blicas, sendo 11 municipais² e 5 esta-duais³.
Dona Narcinda, mesmo após adquirir a aposentaria, continua nos bastidores atuando nas aulas de catequese. Como ela mesma relata, 'Ser Professor é padecer no paraíso, um vício, um modo de vida!” A esta mulher, ainda não se compreende com o que a acomete em ainda prota-gonizar na arte de ensinar? Sabe-se apenas que a cada olhar seu generoso e palavra amável se constrói um gesto educativo. E estas são suas caracterís-ticas, comprovadas no carinho e gratidão por todos que continuam a dizer; - Olá Professora! Ensinamentos que vão além do conhecimen-to cientifico, saberes trabalhados como ferramentas para uma vida vivida com dignidade. Foi este também um dos afares dessa nossa professora.


Ponto um figurativo 'ponto final' neste assunto, abriremos agora outra discussão que envolve, no âmbito cien-tífico as questões locais. Tudo para pontuar um pouco a nossa compreensão sobre o assuntado. Na busca de um contra ponto – realidade local x científico (que nem sempre consegue abranger todo o universo de diversidades que há na comu-nidade terrestre, em culturas e socie-dades, mas que pode sim abrir nossas mentes para viés questionáveis). Afinal, é deveras importante o seu conceito para validar os relatos de nossa história. Encontramos em detalhes da fala da Pro-fessora alguns pontos, começando por en-tender esse contado de Professor x Aluno e Conhecimento x Avaliação. O ato dos professores trocarem de escolas para aplicar a prova a estudantes que não são seus alunos e avaliá-los é um fator cu-rioso e diga que para a Ciência, o re-sultado disso hoje lhes daria alguns in-dicadores. Conhecendo a destreza cien-tifica, que é tamanha - quase comparada ao simbolo do infinito, ela se detalha também nesta questão e dá-se o nome de Docimologia:


"Que explica esta dualidade
presente nos nossos atos
momentaneamente avaliativos: se
por um lado percebemos que ao
avaliar um instrumento respondido
pelos alunos não somos capazes de
aplicar os mesmos critérios para
todos eles (há interferências
emocionais em nossos atos), por
outro, o mesmo instrumento
aplicado em um aluno será quase
obrigatoriamente corrigido por
outros profissionais da educação
com resultados diferentes.
Ensinar e avaliar são atos
diferentes, mas sequências de um
mesmo processo." - (Fundamentos
Teóricos do Processo de Avaliação
na Sala de Aula, Pg.: 6 - Editora UFPR).


Avançando mais um pouco para o contexto histórico utilizando-se da visão de Vygostsky (1993) - como zona de Desenvolvimento Proximal (1993). Onde a "área de um triângulo" indica em que direção os sujeitos da educação (professor, aluno e conhecimento) estão transitando.


Pedagogia da Intuição (ou ensino): forte relação entre professor e o conhe-cimento. Possível que este seja o que o retrataria a estrutura da época, visto que o único método avaliativo aceitável eram as provas (acompanhado do "decorar as definições"). Neste caso as reflexões dos alunos não eram aceitadas nas pro-vas, apenas nos momento do ensino e ali o lecionando tinha noção em que nível de aprendizado do alunado estava.


Pedagogia Diretiva (ou formativa): forte relação entre professor e aluno. Neste caso, pode ser gerado uma dúvida com relação a anterior. Porém o que a exclui é o fato dos professores buscarem o conhecimento cientifico e transmitiam aos alunos e esperavam deles, as defi-nições na "ponta da língua". "Se a relação que se prioriza é a do aluno com o professor ter-se-á uma Pedagogia Diretiva (ou formativa), onde o conhecimento será o intruso e não se poderá solicitá-lo ao aluno que nas avaliações interfira no que lhe foi ensinado, tendo que "regogitar" os conteúdos tais quais estavam na boca do professor."


E por fim, a Pedagogia Não Diretiva (ou aprendizado): forte relação entre os alunos e o conhecimento. Nesta são poucos os que acreditam nela assim da forma que se apresenta. Para muitos a tutoria é muito importante, seja ela em qual grau for! E não se excluiria a esta, mesmo que num grau relativo.


Em tudo que se ver hoje em dia, com este bombardeio de informações, conhecer a nossa história nos ajuda muito a compreender onde estamos e para que rumo poderemos seguir.
A educação no Litoral do Estado do Paraná conta com a presença da Universidade Federal do Paraná - Litoral, em que busca fornecer uma educação de qualidade a estes municípios. Com três cursos voltados exclusivamente para a Licenciatura, que são: Ciências, Artes e Linguagem & Comunicação. Adere a metodologia por projetos com diferenciais, respeita a diversidade local e visa fortalecer a cultura do povo caiçara e dos que aqui optaram para viver e fazerem parte dessa história. Construindo saberes e vivencias neste lugar.

Dos que foram, dos que estão e dos que serão Protagonistas da Educação, rumo a igualdade desigual, a pátria matriarcal do saber, amar e respeitar, o Brasil Nação, o Pacifico Sul, o Atlântico Norte, o perfume azul. Os ventos nos braços é sorte! Verdes a viver e vivenciar educar para estudar! Estudar os saberes de viver a Educação que está no ar! Relato, relembro relendo os fatos que são, firme ciclo com o alvo nos prazeres que dá a Educação!

E que esta cidade continue a homenagear os Protagonistas da Educação, perpetuando suas memórias nos nomes de suas escolas, assim como tem feito até aqui!

Orrico, R.
Lic. Ciências - 2010
UFPR Litoral - Sub Projeto Corujando Ciências


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.........................Curiosidade:

a. Dona Narcinda Ramos é sobrinha da falecida Professora Tereza da Silva Ramos - que hoje a Escola do Bairro Tabuleiro carrega o seu nome em homenagem. E é nesta escola que o PIBID esta vinculado, através do Corujando Ciências.


b. Matinhos era ligado a Guaratuba - que passou a pertencer a Paranaguá em dia 27 de Janeiro de 1951, desmembrando se em a 12 de junho de 1967, pela Lei Estadual n° 05, sancionada pelo governador Paulo Pimentel, ganhando a condição de município emancipado.

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Notas:
¹Narcinda da Silva Ramos: Nascida 07-08-1944, Matihos/PR - nasceu de parteira - Tia Ana, irmã de seu Pai Máximo da Silva. Sua mãe, Maria Ramos da Silva, assim como seu pai era leiga na leitura e escrita, porém não se explica o fato de fazer cálculos de matemática financeira apenas de cabeça. Para atualização do currículo e regularização da profissão fez o Projeto Logos - 5 anos. Aposentada desde final de 1989 - pegou licença prêmio (seis meses tem direito a um ano), como Professora e Merendeira.
Seu último trabalho foi na Escola Estadual Sertãozinho, sempre como funcionária do Município de Matinhos/PR. - Entrevista gravada por Rennata Orrico em 08 de Fevereiro de 2012, elaborado especialmente para a criação deste artigo.

² São essas as escolas Municipais: Escola Municipal Quatro de Março, Escola Municipal Wallace Thadeu de Mello e Silva; Escola Municipal Pastor Elias Abrahão; Escola Municipal Professora Caetana Paranhos; Escola Municipal Oito de Maio; Escola Municipal Monteiro Lobato; Escola Municipal Professora Leocádia Orlowski dos Santos; Escola Municipal Luiz Carlos dos Santos; Escola Municipal Francisco dos Santos Junior. Como se pode voservar, a maior parte das escolas carrega o nome em homenagem a um professor (a).
Fonte: Cultura de Matinhos, site:http://culturadematinhos.blogspot.com/2011/07/escolas-municipais-de-matinhos.html

³ São essas as escolas Estaduais no Município de Matinhos/PR: Escola Estadual Sertãozinho; Escola Estadual Tereza da Silva Ramos - Tabuleiro; Escola Estadual Abgail Santos Corrêa; App da Escola Gabriel de Lara; Colégio Estadual Gabriel de Lara
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