UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

Graduandos: Bolsistas Português 2 2016

Orientadora: Professora Doutora Teresa Cristina Wachowicz

Projeto PIBID- Português

Resenha da segunda parte do livro “Argumentação” de José Luiz Fiorin

 

Parte III

 

A organização do discurso

 

Na terceira e última parte de seu livro “Argumentação”, José Luiz Fiorin irá expor alguns conceitos relativos à disposição da estrutura argumentativa, que é uma das bases da retórica.

A estruturação do discurso segue um percurso, entretanto, apesar de seguir um percurso e uma organização formal, essa forma não é estanque admitindo uma certa liberdade, pois os gêneros não são estáveis e possuem apenas uma relativa estabilidade.

Aristóteles na antiguidade clássica já demonstrava uma preocupação em abordar o tema dos gêneros, mais especificamente dos gêneros retóricos: deliberativo, judiciário e o epidítico.

Os três gêneros propostos por Aristóteles possuem receptores específicos:

- Deliberativo: voltado para as assembleias;

- Judiciário: voltado para os juízes;

- Epidítico: voltado aos participantes de algum ato público.

O discurso no conceito de Aristóteles possui toda uma dinâmica no seu percurso:

- Exposição do assunto;

              - Prova (através da tese envolvida em sua demonstração).

 

 

A organização dos textos dissertativos

 

Na organização dos textos dissertativos contemporâneos encontramos elementos que possuem como base a retórica clássica, sendo que todos os manuais de redação seguem de certa maneira o modelo da retórica clássica e apresentando os seguintes pilares:

- Introdução: enuncia-se o problema;

- Desenvolvimento: discute-se o problema e tenta-se resolvê-lo, e:

- Conclusão: faz-se um balanço da discussão.

Os três pontos apresentados acima de certa forma são uma releitura do modelo proposto pela retórica clássica, na retórica clássica a introdução era chamada de exórdio, o desenvolvimento (mas com a junção da narração e da digressão clássicas) e a conclusão, análoga a peroração.

A organização dos textos dissertativos contém na sua estrutura basicamente este modelo de distribuição: introdução, desenvolvimento e conclusão, mas que possuem certos elementos que frequentemente os constituem como por exemplo:

 

 

A introdução

 

Apresenta uma ideia geral, trabalhando com a memória discursiva dos fatos do mundo, apresentando em seguida a problemática que será abordada para na sequência argumentativa passar-se ao desenvolvimento.

 

 

O desenvolvimento (a tese)

 

Para o desenvolvimento de uma tese existem alguns planos muito comuns para se organizar a tese que será defendida como:

- Plano dialético: tese, antítese e síntese;

- Plano de problema, causas e soluções:

- Aqui temos introdução e desenvolvimento para a construção da argumentação, com uma introdução e o desenvolvimento que inclui causa e solução da problemática discutida durante a dissertação;

Plano de inventário:

Como o plano anterior também temos introdução e desenvolvimento, entretanto o plano de inventário difere do plano de problema  porque sua exposição não apresenta necessariamente a solução de um problema, mas propõem-se a explicar algum fenômeno específico.

Como o próprio nome sugere é inventário porque vai enumerar elementos de determinado assunto, ponto por ponto para comprovar algo.

 

Plano comparativo

 

- Trabalhará comparando fatos e conceitos distintos para desenvolver sua argumentação;

 

 

Plano de ilustração e explicitação de uma afirmação

 

De certa forma nesse plano temos na sua construção elementos dos planos anteriores combinados de maneiras diferentes.

 

 

A conclusão

 

A conclusão é o ponto de chegada, o resumo do que foi abordado antes, é uma síntese da problemática abordada, mas que possui uma ligação orgânica do que a precedeu, sendo necessário a existência de uma relação do que foi desenvolvido na argumentação e a sua conclusão.

Vimos ao longo do livro que as teorias do discurso contemporâneas possuem uma base nos estudos da retórica(mesmo muitas vezes não admitindo isso), e devem levar em consideração em suas próprias análises séculos de estudos já realizados, e usá-los como uma lente para se olhar problemas teóricos atuais.

 

PARTE II

Os argumentos quase lógicos

 

Na segunda parte do seu livro “Argumentação”, José Luiz Fiorin começa por fazer uma explanação a respeito da falta de conhecimento por parte de alguns estudiosos com relação à definição do que seriam argumentos quase lógicos.

Segundo, Fiorin, há uma visão muito superficial do que seriam os argumentos quase lógicos, para o senso comum (e no livro o autor cita uma jornalista renomada nesse capítulo) argumentos quase lógicos tem forte carga negativa.

Os raciocínios necessários decorrem das premissas enunciadas, ou seja, argumentos que pertencem ao domínio da lógica, em contrapartida nos raciocínios preferíveis a conclusão é provável, mas não necessariamente lógica, por isso são os raciocínios da esfera da retórica.

A retórica segundo alguns autores estuda a demonstração, pois nos negócios humanos não trabalhamos com verdades baseadas na lógica, mas sim com raciocínios da esfera das relações humanas: “...nos negócios humanos, não operamos com verdades lógicas, mas com posições fundamentadas em convicções religiosas, em crenças políticas, em princípios morais, em preferências estéticas, etc.” (Argumentação, p. 116).

 

 

Tipos de Argumentos

 

Existem diversas formas de se construir a argumentação, e são constituídas de formas distintas, fundadas em princípios como:

Argumentos fundados no princípio da identidade

No geral esses argumentos possuem características que em lógica enunciam-se com a proposição a=a, ou seja, sujeito e predicado remetem ao mesmo referente, a tautologia, a definição, a comparação, a reciprocidade, a transitividade, a inclusão, a divisão, o argumentum a pari, a regra do precedente, o argumentum a contrario e o argumento dos inseparáveis são baseados no princípio da identidade.

Os estudiosos da lógica não levam em conta as complexidades pragmáticas e semânticas da linguagem, em outras palavras, a relação linguagem/mundo.

Argumentos fundamentados na estrutura da realidade

Esse grupo de argumentos como o próprio nome sugere é fundamentado na estrutura da realidade, a significação existente no mundo objetivo com: causalidade, sucessão, coexistência e hierarquização.

A lista para esses tipos de argumentos é ampla e não convém aqui nessa resenha listarmos esses tipos de argumentos, já que estamos apenas fazendo uma exposição geral da problemática da argumentação.

 

 

Argumentos que fundamentam a Estrutura do Real

 

Esses tipos de argumentos não são organizados conforme a maneira como se estrutura a realidade, são argumentos que partem do geral para o particular, ou que se transpõe para outro domínio e aceito em um campo específico. São argumentos baseados no exemplo, na ilustração ou por analogia.

Argumentos por exemplo:

São argumentos formulados a partindo de um princípio geral a partir de um caso específico.

Argumentos por ilustração:

Esse tipo de argumento tem como princípio reforçar uma tese tida como aceita, não se destina à comparação, mas sim a comoção, é voltada para o sentimento do auditório .

Argumento por analogia

Também chamado argumentum a simili  é semelhante ao argumento por comparação, entretanto existem diferenças significativas entre os dois, como por exemplo, o argumento por analogia não é fundado no princípio da identidade mas sim na experiência. Admite-se uma determinada tese, transpondo-a de uma esfera de sentido para outra.

Num segundo bloco dos tipos argumentativos encontramos os argumentos que tem como base a dissociação de ideias, são organizados através de pares hierarquizados: essência e aparência, letra e espírito, figurado e literal, etc.

Entretanto, essa organização de pares é relativa, porque cada sistema de pensamento opera com um sistema de pares que considera positivo ou negativo, com um determinado ponto de vista inerente a esse sistema de pensamento, ou seja, o que é positivo para um sistema pode ser negativo para outro e vice-versa.

 

 

Outras técnicas argumentativas

 

Há algumas técnicas argumentativas que não foram estudadas (ou não foram levadas em consideração) por estudos modernos, entretanto, desde a antiguidade clássica algumas técnicas de argumentação eram estudadas, como os argumentos falaciosos como por exemplo a falácia, que é um tipo de estratégia argumentativa que sempre foi empregada no discurso político, na publicidade, etc.

Visto que argumentar é persuadir, na construção do convencimento os argumentos das distintas formas existentes são usados visando um receptor presumido, esse receptor possuirá um páthos específico e o argumentador precisará orientar o seu discurso de acordo ou moldando de acordo com o páthos do auditório, ou usando um termo do pensador russo Mikhail Bakhtin “índices sociais de valor” ou seja, do que o auditório é constituído, politicamente, socialmente, seus valores morais, etc.

O argumentador precisará construir uma imagem de si mesmo (o éthos) e essa imagem será constituída no próprio ato de dizer, o orador precisará transmitir uma confiabilidade ao auditório e essa confiabilidade aliada às técnicas argumentativas permitirão ao argumentador convencer ou não o auditório que ele terá como alvo.