PIBID Português – Daniela Maria Rocha - Bolsista ID

 

Minha primeira leitura foi “Ronque Ronque”, de Dulce Rangel. Não me recordo quantos anos tinha na época quando atingi esse grande feito na vida, de dominar a leitura de um livro completo sem a ajuda de ninguém. Lembro somente de ter lido dezenas de vezes esta obra infantil de poucas páginas, até que finalmente conseguisse entender o que aquele amontoado de letrinhas queria dizer, o que “ronque ronque” queria dizer. Era a barriga da menina, que estava com fome. Minha mãe é professora de Educação Infantil, então tanto eu quanto minhas irmãs sempre fomos incentivadas a  ler, já que a casa estava sempre cheia de livros. Lembro-me de que quando tinha meus 2 anos, via minha mãe sentada à mesa, trabalhando em provas e trabalhos escolares dos seus alunos, escrevendo e lendo muito. Achava impressionante o que ela fazia com a caneta, como com um simples movimento da mão direita saiam coisas que ela estava pensando e que poderiam ser lidas pela chefe dela e ela ia saber o que toda aquela tinta no papel significava.

Eu e minhas irmãs ganhamos uma coleção de fábulas e contos de fada infantis de meus avós e a história da Cigarra e da Formiga me interessava demais: eu me encatava pelo ritmo de bon vivant da Cigarra, enquanto a Formiga só trabalhava, igual à todas as outras.

Aos 11 anos, minha irmã mais nova locou o filme “Harry Potter e a Pedra Filosofal”. Me encantei pela história do garoto Potter e decidi que queria o segundo livro da coleção de presente de Natal para aquele ano, para saber o que acontecia na sequência da história. Vejo este livro como um marco transformador da minha vida, não pela história, mas pelo o que ela causou em mim. Li aquelas 200 e poucas páginas em poucos dias e ansiei por mais. A admiração que tive pela personagem Hermione Granger me despertou a vontade de ser como ela, estudiosa e inteligente. É fato que nunca atingi nenhum destes méritos na escola com a mesma grandeza que a personagem, mas uma coisa aquele livro me despertou: a leitura. Queria ser estudiosa e inteligente como a Hermione, mas como os assuntos da escola não me pareciam assim tão interessantes, me ative mais a o que me interessei de verdade: ler! E como eu lia! A bibliotecária da escola chegava a deixar  separados os livros que achava que ia gostar, e eu chegava a ler um livro curto em uma tarde, no meio de uma aula desinteressante, entre os intervalos, numa aula vaga, no ônibus de volta pra casa. Passava os finais de semana em casa lendo, e chegava a ficar tonta de tamanho tempo que empenhava nessa tarefa.

Ler me incentivou a buscar pessoas mais parecidas comigo e um universo mais parecido com o que lia nos livros, principalmente em Harry Potter, minha leitura favorita, por isso resolvi prestar provas para entrar em uma escola de ensino médio melhor, e consegui: estudei os 3 anos do meu Ensino Médio na melhor escola do Paraná, o CEFET. De lá, a vida tomou tantos rumos diferentes: conheci gente, conheci lugares, conheci leituras, conheci. Enxerguei um mundo diferente do que a vida pequena que tinha quando nova teria me proporcionado, criei novos desejos e ambições, almejei ser diferente.

Devo ao “vício” da leitura enquanto adolescente a vida que tenho hoje. Talvez nada disso não tivesse acontecido se eu não achasse que estudando para ser como a Hermione Granger eu teria uma vida mais legal, se eu não achasse que o CEFET pudesse ser um pouco como Hogwarts, e no fundo eu acho que deve ter sido, por que pelo menos eu acho que a minha vida acabou sendo um pouco mais mágica por causa dos livros.

 

             Guilherme  Giublin - Bolsista ID

              Quando muito pequeno, não me recordo quantos anos tinha, meus pais liam para mim fábulas e contos de fadas.

                Gostava muito das fábulas, todas edições da Disney – acho que a única que meus pais conheciam. Desses livros tenho vagas lembranças: um sapo cujo nome não sei que morava numa árvore a beira do rio, um menino que virava cachorro que me assustava e, ´principalmente, de muitas fotos. Mas lembro também de muito prazer enquanto ouvia dezenas de vezes as mesmas histórias, mais prazer do que quando brincava ou quando via televisão, o mundo me encantava e eu entrava nas histórias a partir de suas ilustrações.

                Quando entrei na escola passei a achar os livros chatos, tinha que ler um por bimestre mas não via nada de bom neles. Provavelmente foi a obrigação de lê-los que me irritava tanto. Lembro-me de pouquíssimos, mas tive que  ler, mesmo que parcialmente, cerca de 32 livros no ensino fundamental. O Reizinho Mandão eu não esqueço pois foi a primeira vez que fiz teatro na minha vida. Não gostei muito do livro, mas me lembro de que gostei muito de atuar. O Teatro de Sombras de Ofélia também me marcou muito. Lembro que foi meu primeiro contato com poesia. Aquele livro misturava prosa poética com desenhos sombrios e teatro, era muito bom.

                No segundo grau me deparei com a periodização literária. A literatura de informação matou de vez minha vontade de ler. Dessa fase da minha vida só consigo lembrar de um autor lido: José Paulo Paes.

                Não sei se foi por que provavelmente foi o autor mais “contemporâneo” que lemos, ou por ser poesia  coloquial, mas até hoje ele é meu poeta brasileiro favorito, tendo lido e relido todos seus poemas.

                No último ano do ensino médio lembro-me de um dia que estava entediado e peguei O Segredo de Chimneys, de Agatha Christie. Virei fã de literatura policial, da qual gosto até hoje. Li uma dezena de livros dela que tinha aqui em casa e depois comecei a frequentar a biblioteca do clube, onde aluguei todos os livros dela que tinham lá, mais de vinte.

                Depois do terceirão fui pra faculdade de Comércio Exterior, mas em pouco tempo descobri que não era o que queria, esperava algo voltado para Relações Internacionais, mas o que tinha era um curso de Administração para quem falava inglês.

                Larguei o curso muito no começo e tive um ano sabático, porém não sabia o que fazer com ele. Resolvi entrar no andar de cima da antiga Vídeo Um da Praça da Espanha e lá conheci o “cinema alternativo”, começando com Stalker, de Andrei Tarkovski.

 A partir daí resolvi conhecer o mundo da cultura.

Fui na biblioteca do clube procurar um de Franz Kafka. Não o conhecia mais tinha ouvido falar que ele escrevia coisas esquisitas e resolvi experimentar. Kafka é um dos meus autores favoritos até hoje, importante em minha monografia e um dos autores estudados no mestrado que não terminei.

                Porém aquela biblioteca era esquisita, não tinha Kafka, mas em literatura tcheca, nos autores iniciados com “K”, tinha um outro, chamado Milan Kundera.  O livro era A Vida Está em Outro Lugar.

                Seu psicologismo, seu narrador comentando cada ato sutil durante a obra, seu jovem personagem tão perdido no mundo quanto eu naquela época me fez adorar literatura, preferir ela até que o cinema.

Resolvi pegar um dinheiro que tinha na poupança e investir em livros de uma coleção barata que tinha saído: os clássicos da Martin Claret. Na época não sabia nada sobre suas traduções.

Comprei vinte e poucos livro, mais por intuição do que por conhecer. Fui por nomes que tinha ouvido falar, como Kafka, Dostoievski, alguns que gostei da sonoridade do nome, como Florbela Espanca, alguns apenas por serem clássicos como Odisseia e O Manifesto Comunista. Comprei filosofia também, os mais pessimistas que consegui achar no resumo de trás do livro: Nietzsche e Schopenhauer.

Li todos esse livros e minha paixão pela literatura só aumentava, cheguei a ler três de cada vez. Passava horas no quarto, até comprei uma poltrona por que as costas começavam a doer de ficar sentado. Estava tão empolgado que construí minhas próprias estantes e prateleiras.

A inscrição para o vestibular estava chegando e eu não sabia qual curso fazer. Estava entre História, Filosofia e Relações Internacionais, mas não queria muito nenhum deles. No último dia da inscrição conversava com amigos sobre meu dilema no antigo ICQ e meu primo me aconselhou letras, por gostar tanto de ler e escrever. Achei estranho não ter pensado nisso antes e me inscrevi na hora.

O curso ajudou-me muito a conhecer autores que me seriam impossíveis de ler, se fizesse outros cursos. Hoje gosto de ler quase de tudo, desde as primeiras narrativas em prosa até autores ainda vivos.

 

Mabel S. Rosa - Bolsista ID

  História de Leitor

 

Minha trajetória escolar começou no Rio Grande do Sul e lá, se lembro bem, eu não tinha muito contato com livros ou bibliotecas. Em casa nunca vi livros. Na escola via a biblioteca de longe. Aos quatorze anos vim morar em Curitiba. Na casa onde fiquei hospedada, mais exatamente em um armário do quarto onde eu dormia, havia vários livros da coleção Sabrina. Nunca havia lido nada antes, além das cartilhas da escola, e não encontrando atividade interessante no lugar, me dediquei a ler aquele amontoado de romance água com açúcar. Não lembro o motivo, mas era proibido mexer naqueles livros, então eu os lia durante a madrugada pra ninguém ver, o que me deixava com muito sono no dia seguinte. Chegaram a me dar vitaminas por causa das olheiras... Devo ter lido uma dúzia daqueles romances, até que acabaram. Nos últimos que li era já costumeiro começar a aventura sabendo, de antemão, que no final o casal ficaria junto e feliz. Não lembro de nenhuma descrição que  tenha me causado algum espanto. Por fim achei bom que tivessem terminado porque eu já não aguentava mais: naquela casa não se fazia a sesta...

Já contei, e em toda minha vida escolar frequentei um total de 11 diferentes escolas, situadas nas cidades de Canoas, Chapecó e Curitiba. Lembro, portanto, de muitas escolas, porém poucas bibliotecas. Lembro de uma escola na vila Guaíra na qual era preciso procurar no pátio o responsável pela chave da biblioteca. Lembro de outra escola central em que a biblioteca funcionava à portas fechadas. Quando lá se entrava era necessário referir o título procurado para que a bibliotecária, e somente ela, fosse buscar o livro. Lembro de uma escola no Ahú, a Loureiro Fernandes, onde a biblioteca ficava aberta durante o recreio e o aluno é quem procurava o livro que quisesse porque a responsável estava sempre muito ocupada. Nesta biblioteca li “Fernão Capelo Gaivota”. Achei muito legal as descrições de voos rasantes e manobras mil que o protagonista da trama realizava. Li “O livro de Areia”, “A marca de uma lágrima” e sabe-se lá o que mais. Devo mencionar também que eu tinha asma crônica, além de pouco dinheiro para comprar a bombinha (remédio broncodilatador), de modo que quase nunca fazia educação física. Então usava essas aulas e o recreio pra ler. Não por aplicação, mas por vexame de não conseguir fazer exercício físico. De qualquer forma essa história de ficar lendo no recreio, em vez de correr com os outros, não causava boa impressão. Me perguntavam assim: “Filha, por que você não vai brincar com os amigos em vez de ficar aí sozinha? Ou então eu ouvia: “Tadinha, ela fica sentadinha lendo, tá tristinha?”.

Um dia conheci a Biblioteca Pública do Paraná. Fui até lá porque soube que davam aulas de xadrez e eu fiquei querendo aprender. Não obtendo êxito na carreira enxadrística (era muito difícil pra mim), o que me restou foi conhecer o restante da biblioteca. Emprestava os livros e ia ver o pessoal do xadrez no terceiro andar. Eu acompanhava os campeonatos de ping (partida de xadrez de cinco a três minutos de duração) e o pessoal “curtia com a minha cara”: “Empresta livro fininho óh, porque quando a mesa tiver bamba, a gente pode calçar o pé com ele!”

Na BPP eu fiquei até perdida com aquele mundo todo de livros. Naquele tempo o sistema não era informatizado e a gente tinha que procurar os títulos em umas fichinhas de papel que ficavam em arquivos cheios de gavetinhas pequenas. Aquilo era o inferno porque eu não achava o endereço do título... Então simplesmente passei a passear pelas estantes e quando via um título interessante eu pegava pra ver o que era. Foi na BPP que eu li “Brida”, do Paulo Coelho. Na época achei que em matéria de cenas sensuais os volumes de Sabrina eram mais bem resolvidos, já que deixavam claro que era esse um dos objetivos da narrativa. Pensei também que a parte do esoterismo era muito fraca, porque eu tinha acabado de ler “As Brumas de Avalon” e comecei a comparar, então achei que os nós que motivavam a trama eram frouxos, diferente do que acontecia com a trilogia anteriormente lida.

 Alguns títulos de que eu lembro: “O Macaco Nu”, que eu sempre quis ter, mas que nunca encontrei pra comprar. “Meu Pé de Laranja Lima” e “Adeus às Armas” que me fizeram chorar rios de lágrimas.  “Um Amor na Alemanha” e “Quando eu Voltar a Ser Criança”, que eu nunca mais vi de novo. Eu lia poucos títulos brasileiros. Não sei o porquê, talvez eles estivessem na prateleira do vestibular. Esses eu não pegava porque achava que eram pra se ler com ajuda de professor. Como professor nenhum pedia pra ler, eu deixava pra lá. “Dom Casmurro” mesmo, eu fui ler às vésperas do vestibular.

Tive muitos professores. Tive os que faltavam muito, e a turma ficava sem aula e ia para o pátio. Tive vários que trabalhavam com exemplares de poemas nas aulas, como por exemplo, “O Açúcar” de Ferreira Gullar. Tive dois professores que liam contos juntamente com a classe. Um deles trabalhava com o conto em sala de aula, este leu “O Peru de Natal”. Um outro lia o conto até a parte mais emocionante, quando então parava a leitura e na sequência ele escrevia no quadro negro o nome do conto, do autor e do livro. Este leu “Passeio Noturno”. Quem quisesse matar a curiosidade que fosse procurar o fim da história contada pela metade. De vez em quando eu me lembro de algum desses meio-contos, algum que eu não procurei pra ler, e fico me perguntando como será o fim daquela história...

 

Gesualda Rasia – Coordenadora PIBID Português

Uma história de leitora/leituras

 

A lembrança mais distante que tenho de contato com aquele estranho mistério de letras sobre um papel remonta à história da pobre-moça rejeitada que,  impedida pela madrasta  e pelas irmãs, foi impedida de ir ao baile. E, resignada em frente ao borralho, subitamente tem, diante de seus olhos, tudo transformado – as condições são criadas – o deslumbrante vestido aparece, a carruagem, etc, etc.

O livro, de onde saía a história, tantas e tantas vezes repetida pelos lábios de minha irmã, quando eu ainda não sabia ler, era pequeno, escassas e ralas ilustrações sem cores. Mas cada palavra era sorvida no mais absoluto envolvimento, temerosa de que a irmã suprimisse partes, ansiosa por terminar, adormecer....

Havia outras e tantas histórias, mas essa, indiscutivelmente, produzia a maior e mais inexplicável epifania.

Depois veio a escola, e, com ela,  a possibilidade de decifrar o mistério das letras – separadas, depois reunidas.... Enfim, não precisar depender de ninguém para acessar aqueles mundos. O primeiro livro inteiramente meu, presente do pai: os três ursinhos... (seriam ursinhos???) que  carinhosamente acolhem a menina perdida na floresta. E em cujas caminhas ela não cabe, precisa juntá-las para dormir... Depois deste, muitos outros. Os recursos financeiros, sempre parcos, mas o pai não abria mão de investir em livros. E enciclopédias. Vendedores sempre faziam festa á nossa festa!

E o hoje tão malfadado livro-didático... Ah! Foi por ele que, com 8 anos, conheci  versos que até hoje  retornam à minha memória em noites de chuva: “Por cima do meu telhado, pirulim-lulim, lulim. Um anjo todo molhado, soluça em seu flautim. Parece que vou sofrer: pirulim-lulim-lulim.

Livros didáticos tornados possíveis pelas famílias de escassos recursos, a custo de muitas e variadas manobras. Inclusive a de “apagar” os escritos pelo irmão que o utilizara no ano anterior. Todinho! Céus!  Quanta borracha....

Prá fora das janelas e muros da escola os tempos não eram os mais coloridos da história: a ditatura dos generais, a interdição do dizer, o desaparecimento ainda hoje inexplicado de tantos que ousaram resistir... Até nós, crianças, essas histórias não chegavam. Chegava a dos heróis colados nas páginas dos livros de História do Brasil. Tínhamos a inocente alegria de entoar diariamente o Hino Nacional. E melhor orgulho ainda se convidados a hastear ou arriar a bandeira. Não recordo se cheguei a ter essa honra...

Na sétima série, 1978, a professora de História ousou nos contar outras versões e nos fazer pensar sobre as coisas que aconteceram, as que aconteciam e as que poderiam acontecer. Coincidentemente ou não, quase à mesma época em que os príncipes das histórias de fadas começavam a virar sapos e perder seu encanto. Porque os meninos por quem eu me apaixonava não eram nada principescos... Meu coração conseguia sempre a façanha de escolher “os piores” . E que, além de tudo, ainda não me queriam como eu os queria.

Veio, então, o Ensino Médio, então 2. Grau, embalado pela MPB romântica que silenciava a Tropicália calada. E pela música na estranha língua do tio Sam, a qual aprendíamos a odiar, sob o argumento de que era a língua da dominação, do colonizador. Paradoxalmente, era a mais escutada nas faixas de rádio, cujas músicas eram ansiosamente esperadas. Antes da era “baixaqui”.

E seguíamos lendo: este paradoxo das músicas, entre tantos outros.

1984 – A entrada na universidade, sob o embalo da canção “Coração de estudante”, símbolo do processo de abertura democrática e do movimento das “Diretas Já.” Em meio a essa efervescência, novos mundos de leitura apresentados  no nível Superior: desde a descoberta da literatura infanto-juvenil de emancipação, como “A bolsa amarela”, de Lygia Bojunga Nines, passando, com o olhar do estudioso sobre os clássicos de nossa literatura, e chegando à contemporânea. Quanto deslumbramento! Quantos mistérios e universos a desbravar/ganhar... Que difícil decisão sobre  o que escolher para aprofundar os estudos...

Mas a certeza da profissão professora, esta tornava-se, a cada dia, inarredável. E com esta certeza fui para a sala de aula, inaugurando um outro momento da História, quando minha geração,  entre misto de alegria e tristeza, retira do posto o primeiro presidente eleito por voto direto. Estávamos aprendendo o exercício da democracia, por tantos anos negado a nós. A essa época, ler já agregava outra dimensão: a de formar leitores, ajudando-os a entenderem a história, tão premente, tão presente, tão borbulhante, tão escassa de heróis nomeados.  Em contrapartida, com tantos heróis anônimos!

Num salto que me traz ao terceiro milênio, eis que me vejo formando formadores de leitores. E escuto as suas histórias. Tantas,  distantes na linha do tempo e na linha geográfica, mas nem sempre  e nem em tudo  tão diferentes da minha.  Da narrativa da Cinderela, tão plena de imaginação quanto escassa de recursos gráfico-imagéticos, até as histórias hoje possíveis de “folhear” na tecnologia touch-screem, há um oceano... E há, certamente, mudanças nos modos como nos constituímos leitores. Penso ser esse um dos desafios diante das novas gerações que formamos: como intervir, quando os instrumentos de mediação são tantos e diferentes, e nós, mediadores, saímos de histórias tão antigas e diferentemente contadas? Outro desafio é como lidar com o excesso de oferta, excesso este que chega a banalizar o ato de ler, diluí-lo? Não, não quero a escassez de outrora. Longe de mim! Mas penso que algo escapa nessa fluidez. Como não se perder? Como no tornamos, mutuamente leitores melhores?