Resenha sobre o artigo “A Universidade Pública Sob Nova Perspectiva”, de Marilena Chauí, in: Revista Brasileira de Educação, Set/Out/Nov/Dez, nº 24, 2003.

Marilena Chauí (2003) aborda novas perspectivas e alterações decorrentes que influenciam a educação superior. A autora começa com a visão do que é e como funciona uma instituição social de ensino. As relações que ela possui com a sociedade, a sua autonomia por constituir-se, contemporaneamente, como instituição pública e laica. Instituição esta que acompanha as transformações do tempo e do espaço em que se insere. A universidade, como uma instituição social, só é possível em um estado republicano e democrático, sendo um espelho da estrutura social e do estado, mas por ser diferenciada e ter autonomia intelectual, pode também ter um relacionamento conflituoso e com a sociedade e o estado.

Com a reforma ocorrida, a educação passou para o setor de serviço não exclusivo do estado, junto com a saúde e a cultura. Nisso a educação perdeu o estatuto de direito e passou a configurar-se mais como serviço publico, de caráter público ou privado. Com essa reforma então, se olha a educação como uma organização social e não uma instituição. Marilena Chauí explica de forma clara essa diferença:

Uma organização difere de uma instituição por definir-se uma pratica social determinada de acordo com a sua instrumentalidade: está referida ao conjunto de meios (administrativos) particulares para obtenção de um objetivo particular (...)Por ser uma administração, é regida pelas ideias de gestão, planejamento, previsão, controle e êxito.

E essa transformação de instituição social para uma organização social ocorre porque no capitalismo todas as esferas da vida social são fragmentadas. A organização social depende de sua adaptação às mudanças sociais de forma rápida. A intenção já não é mais a formação, mas a adaptação para poder se encaixar no meio comercial. Essas organizações buscam a fragmentação (meio pelo qual sobrevivem), para que por meio dela, a organização tenha uma estratégia delimitada que possa controlar. A consequência disso é a fragmentação competitiva na universidade, pois está privatizada e as suas pesquisas são direcionadas pelas exigências impostas pelos financiadores. Ou seja, os conhecimentos vindos dessas pesquisas feitas por universidades públicas são direcionadas à apropriação privada. Ou seja, ciência se tornou o próprio capital.

E com esse novo sistema, a autora demonstra uma preocupação com as consequências deste modelo de modernização, com sinais de duas ideias, a sociedade do conhecimento e educação permanente ou continuada. A sociedade do conhecimento é “o uso intensivo e competitivo do conhecimento”, é o que de fato ocorre, o conhecimento se torna o próprio capital, sendo comandado pelo mercado. A sociedade do conhecimento tem um vinculo muito forte – praticamente inquebrável – com a velocidade, principalmente pelo meio tecnológico. Há também a questão espaço-temporal, no qual se diminui o tempo de estudo, para que se tenha novos ‘alunos’ em um tempo mais rápido, aumentando o capital financeiro. A outra ideia é de educação permanente ou continuada, uma estratégia para que possam ocorrer as adaptações

necessárias. Segundo ela, com esse novo modelo de educação isso não é possível, pois como há uma grande rotatividade, sempre adaptando-se às condições sociais, a mão-de-obra se torna obsoleta rapidamente. Em contrapartida a essa corrente de pensamento, a autora afirma que “A educação é inseparável da formação e é por isso que ela só pode ser permanente”.

Pela visão de Marilena Chauí, a universidade precisa ser vista como um investimento social e politico, voltar a ser um direito. A autora pontua as condições e formas para ocorrer essa mudança: 1) Educação superior como um direito do cidadão, 2)Autonomia universitária pelo direito e pelo poder de definir suas normas de formação, docência e pesquisa, 3)Desfazer a confusão entre democratização da educação superior e massificação, 4)Revalorizar a docência, que foi desprestigiada e negligenciada com a chamada ‘avaliação da produtividade’, 5)Revalorizar a pesquisa, estabelecendo não só as condições de sua autonomia, mas também as condições materiais de realização, bem como o tempo para o mesmo.

Carolini Arcari – Bolsista ID