Português 2 > Posts > Sequência Didática - Grupo 3 - Contos
PIBID - Programa Institucional de Bolsa e Iniciação à Docência
Sequência Didática
Col. Est. Manoel Ribas
Curitiba - PR
2013Programa Institucional de Bolsa e Iniciação à Docência
Aula 05 - Grupo 03 - Coraline e Clarice
Turma: 9º ano A
Tempo: 50 min (01 hora-aula)
Tema: Apresentação do
gênero.
Objetivos: Fazer uma discussão a
respeito do filme Coraline dialogando com outros textos e materiais
cinematográficos que já foram trabalhados. Além disso, dar início a
respeito de estruturas do gênero Conto e efetuar a leitura do conto de
Clarice Lispector, ‘Restos de Carnaval’.
Metodologia: A primeira parte da aula se discorrerá a respeito da animação Coraline. Os alunos serão impulsionados a participarem de uma discussão a respeito do filme e como este pode dialogar com outros materiais já trabalhados. Na segunda parte da aula, iniciamos o trabalho com o gênero conto, ressaltando os principais aspectos (inclusive alguns já trabalhados), como narrador, brevidade do conto, entre outros. Após esta explicação será feito a leitura do conto de Clarice Lispector.
Material:
a) Cópia do conto
Anexos:
a) Conto
Não, não deste último carnaval. Mas não
sei por que este me transportou para a minha infância e para as
quartas-feiras de cinzas nas ruas mortas onde esvoaçavam despojos de
serpentina e confete. Uma ou outra beata com um véu cobrindo a cabeça
ia à igreja, atravessando a rua tão extremamente vazia que se segue ao
carnaval. Até que viesse o outro ano. E quando a festa já ia se
aproximando, como explicar a agitação que me tomava? Como se enfim o
mundo se abrisse de botão que era em grande rosa escarlate. Como se as
ruas e praças do Recife enfim explicassem para que tinham sido
feitas.Como se vozes humanas enfim cantassem a capacidade de prazer que
era secreta em mim. Carnaval era meu, meu.
No entanto, na realidade, eu dele pouco participava. Nunca tinha ido a
um baile infantil, nunca me haviam fantasiado. Em compensação
deixavam-me ficar até umas 11 horas da noite à porta do pé de escada do
sobrado onde morávamos, olhando ávida os outros se divertirem. Duas
coisas preciosas eu ganhava então e economizava-as com avareza
paradurarem os três dias: um lança-perfume e um saco de confete. Ah,
está se tornando difícil escrever. Porque sinto como ficarei de coração
escuro ao constatar que, mesmo me agregando tão pouco à alegria, eu era
de tal modo sedenta que um quase nada já me tornava uma menina feliz.
E as máscaras? Eu tinha medo, mas era um medo vital e necessário porque
vinha de encontro à minha mais profunda suspeita de que o rosto humano
também fosse uma espécie de máscara. À porta do meu pé de escada, se um
mascarado falava comigo, eu de súbito entrava no contato indispensável
com o meu mundo interior, que não era feitosó de duendes e príncipes
encantados, mas de pessoas com o seu mistério. Até meu susto com os
mascarados, pois, era essencial para mim.
Não me fantasiavam: no meio das preocupações com minha mãe doente,
ninguém em casa tinha cabeça para carnaval de criança. Mas eu pedia a
uma de minhas irmãs para enrolar aqueles meus cabelos lisos que me
causavam tanto desgosto e tinha então a vaidade de possuir cabelos
frisados pelo menos durante três dias por ano. Nesses três dias, ainda,
minha irmã acedia ao meu sonho intenso de ser uma moça - eu mal podia
esperar pela saída de uma infância vulnerável - e pintava minha boca de
batom bem forte, passando também ruge nas minhas faces. Então eu me
sentia bonita e feminina, eu escapava da meninice.
Mas houve um carnaval diferente dos outros. Tão milagroso que eu não
conseguia acreditar que tanto me fosse dado, eu, que já aprendera a
pedir pouco. É que a mãe de uma amiga minha resolvera fantasiar a filha
e o nome da fantasia era no figurino Rosa. Para isso comprara folhas e
folhas de papel crepom cor-de-rosa, com os quais, suponho, pretendia
imitar as pétalas de uma flor. Boquiaberta, eu assistia pouco a pouco à
fantasia tomando forma e se criando. Embora de pétalas o papel crepom
nem de longe lembrasse, eu pensava seriamente que era uma das fantasias
mais belas que jamais vira. Foi quando aconteceu, por simples acaso, o
inesperado: sobrou papel crepom, e muito.
E a mãe de minha amiga - talvez atendendo a meu mudo apelo, ao meu mudo
desespero de inveja, ou talvez por pura bondade, já que sobrara papel -
resolveu fazer para mim também uma fantasia de rosa com o que restara
de material. Naquele carnaval, pois, pela primeira vez na vida eu teria
o que sempre quisera: ia ser outra que não eu mesma.
Até os preparativos já me deixavam tonta de felicidade. Nunca me
sentira tão ocupada: minuciosamente, minha amiga e eu calculávamos
tudo, embaixo da fantasia usaríamos combinação, pois se chovesse e a
fantasia se derretesse pelo menos estaríamos de algum modo vestidas -
àidéia de uma chuva que de repente nos deixasse, nos nossos pudores
femininos de oito anos, de combinação na rua, morríamos previamente de
vergonha - mas ah! Deus nos ajudaria! não choveria! Quando ao fato de
minha fantasia só existir por causa das sobras de outra, engoli com
alguma dor meu orgulho que sempre fora feroz, e aceitei humilde o que o
destino me dava de esmola.
Mas por que exatamente aquele carnaval, o único de fantasia, teve que
ser tão melancólico? De manhã cedo no domingo eu já estava de cabelos
enrolados para que até de tarde o frisado pegasse bem. Mas os minutos
não passavam, de tanta ansiedade. Enfim, enfim! Chegaram três horas da
tarde: com cuidado para não rasgar o papel, eu me vesti de rosa.
Muitas coisas que me aconteceram tão piores que estas, eu já perdoei.
No entanto essa não posso sequer entender agora: o jogo de dados de um
destino é irracional? É impiedoso. Quando eu estava vestida de papel
crepom todo armado, ainda com os cabelos enrolados e ainda sem batom e
ruge - minha mãe de súbito piorou muito de saúde, um alvoroço repentino
se criou em casa e mandaram-me comprar depressa um remédio na farmácia.
Fui correndo vestida de rosa - mas o rosto ainda nu não tinha a máscara
de moça que cobriria minha tão exposta vida infantil - fui correndo,
correndo, perplexa, atônita, entre serpentinas, confetes e gritos de
carnaval. A alegria dos outros me espantava.
Quando horas depois a atmosfera em casa acalmou-se, minha irmã me
penteou e pintou-me. Mas alguma coisa tinha morrido em mim. E, como nas
histórias que eu havia lido, sobre fadas que encantavam e desencantavam
pessoas, eu fora desencantada; não era mais uma rosa, era de novo uma
simples menina. Desci até a rua e ali de pé eu não era uma flor, era um
palhaço pensativo de lábios encarnados. Na minha fome de sentir êxtase,
às vezes começava a ficar alegre mas com remorso lembrava-me do estado
grave de minha mãe e de novo eu morria.
Só horas depois é que veio a salvação. E se depressa agarrei-me a ela é
porque tanto precisava me salvar. Um menino de uns 12 anos, o que para
mim significava um rapaz,esse menino muito bonito parou diante de mim
e, numa mistura de carinho, grossura, brincadeira e sensualidade,
cobriu meus cabelos já lisos de confete: por um instante ficamos nos
defrontando, sorrindo, sem falar. E eu então, mulherzinha de 8 anos,
considerei pelo resto da noite que enfim alguém me havia reconhecido:
eu era, sim, uma rosa.
Aula
06 - Grupo 03 - Clarice Lispector e o Conto
Turma: 9º ano A
Tempo: 50 min (01 hora-aula)
Tema: Desenvolvimento
do gênero.
Objetivos: Apresentar o gênero conto, abordando seus elementos costitutivos, mostrando o quanto o gênero faz parte do nosso imaginário.
Metodologia: Será feita a
explicação referente ao gênero conto - com base no conhecimento dos
alunos - referente aos Contos de Fadas, explorando através destas
histórias os elementos que o compõem. Após, será feita a leitura do
conto Restos de Carnaval de Clarice Lispector, juntamente com a
exibição do vídeo de Léo Rodrigues.
a) Slides com a apresentação do gênero (em pendrive)
b) Cópias do conto "Restos de Carnaval", de Clarice Lispector
c) Vídeo baseado no conto, de Léo Rodrigues.
Anexos:
a) Conto;b) Slides: acessíveis pelo link:
c) Link para o vídeo:
Autores-Participantes: Elaine Cristina da Silva, Franciele da Cruz, Sueelem Witszmiszyn