PIBID - Programa Institucional de Bolsa e Iniciação à Docência

Sequência Didática

Col. Est. Manoel Ribas

Curitiba - PR

2013

Programa Institucional de Bolsa e Iniciação à Docência

Aula 01 - Conjunta -  Inicial

Tema: Apresentação e pesquisa de gostos

Tempo: 02 horas-aula

Objetivos: Realizar uma breve apresentação do projeto, conhecer um pouco os alunos e os gostos que têm em relação à literatura, filmes e músicas e qual a relação que têm com livros e outras mídias para conhecer o público-alvo e embasar o trabalho a ser relaizado.

Metodologia: Os alunos irão sentar-se em circulo e no meio do circulo serão expostas diversas imagens com temas diferentes. Eles serão advertidos a pensar nos temas literatura, música e filmes e escolher alguma imagem que possa representar seus gostos nesses temas. Após escolherem, cada um, começando pelos próprios pibidianos, apresenta-se dizendo seu nome, mostrando a imagem e explicando por que a escolheu de maneira a apresentar seus gostos literários, musicais e de filmes. Na conversa são perguntados tambpem sobre sua relação com a leitura e obras que já conhecem.

Materiais: Diversas imagens impressas e coladas em papéis coloridos.

Anexos: Exemplos de imagens utilizadas.



Real1

Real6

Real6



Aula 02 - Conjunta - Realismo Fantástico

Tema: Apresentação do gênero

Tempo: 02 horas-aula

Objetivos: Apresentar aos alunos o gênero Realismo Fantástico e instigar sua curiosidade e interesse em relação ao tema.

Metodologia: Os pibidianos fazem uma pequena introdução aos alunos do que seria o Realismo Fantástico. Em seguida, os alunos assistem ao trailer dublado do filme “Alice no País das Maravilhas” (2010), do diretor Tim Burton. Por fim, fazemos uma roda e lemos o conto “Calor de Agosto”, de W. F. Harvey – os alunos têm a liberdade de escolher se querem ler em voz alta para o grupo ou não – e discutimos sobre o texto ao final da leitura.

Avaliação: Perceber se o aluno teve interesse nas atividades, ainda que não tenha se expressado oralmente.

É importante prestar atenção a alguns detalhes e esclarecê-los para os alunos durante a leitura, como, por exemplo, porque faz tanto calor no mês de agosto no conto, explicar porque falta o último número do ano na data. Também é válido fazer uma pausa no meio do conto e perguntar se os alunos entenderam o fato ali ocorrido, se eles compreendem o que significa aquele nome estar escrito naquela lápide.

Materiais:

a) Pen drive com o trailer do filme

b) Cópias do texto suficientes para todos os alunos

Anexos:

a) Trailer do Filme: http://www.youtube.com/watch?v=uJqMRLFezbo

b) Conto:

Calor de Agosto

W. F. Harvey

Phenistone Road, Clapham, 20 de agosto de 190—

O dia de hoje foi, sem dúvida, o mais extraordinário da minha vida, e quero registrar detalhadamente o que ocorreu enquanto os eventos ainda estão vívidos em minha memória.

Permitam-me dizer logo de saída que meu nome é James Clarence Withencroft.

Por profissão, sou desenhista; não muito bem-sucedido, mas minhas ilustrações em preto e branco rendem o suficiente para suprir minhas necessidades básicas.

Minha única parenta em primeiro grau, uma irmã, morreu há cinco anos, o que significa que não dependo de ninguém e ninguém depende de mim.

Tomei o café às nove da manhã e, depois de folhear o jornal, acendi o cachimbo e deixei o pensamento divagar na esperança de esbarrar em algum tema adequado ao meu lápis.

Mesmo com as portas e janelas abertas, fazia um calor sufocante no quarto, e eu acabara de chegar à conclusão de que o local mais fresco e confortável na vizinhança seria a parte mais funda da piscina pública quando veio a inspiração.

Comecei a desenhar. Fiquei tão absorto em meu trabalho que nem toquei no almoço, parando apenas quando o relógio da igreja de São Judas Tadeu bateu quatro horas.

A ilustração, apesar de feita às pressas, era minha obra-prima.

Retratava um malfeitor no banco dos réus logo após o juiz pronunciar a sentença. O homem era gordo — extremamente gordo. Sua carne dependurava-se em camadas sob o queixo; desdobrava-se em pregas em torno do pescoço largo e atarracado. Ele estava de barba feita (talvez fosse mais apropriado dizer que, alguns dias antes, ele provavelmente estivera de barba feita) e era quase careca. Estava em pé, seus dedos curtos e grosseiros agarravam o parapeito e ele olhava reto para frente. A sensação que seu semblante despertava era menos de horror que do mais completo e absoluto desânimo.

Nada no homem parecia ser forte o bastante para suportar aquela montanha de carne.

Enrolei o desenho e, sem saber bem o porquê, guardei-o no bolso. Em seguida, com aquela rara sensação de felicidade que nos dá a consciência de um trabalho bem feito, saí de casa.

Acho que minha intenção era fazer uma visita ao meu amigo Trenton, pois me lembro de seguir pela Lytton Street e virar na Gilchrist Road, no sopé do morro, onde operários montavam os novos trilhos do bonde.

A partir daí, tenho apenas uma vaga lembrança do caminho que tomei. Só estava ciente do calor insuportável, que se elevava do asfalto empoeirado como uma onda quase palpável. Eu ansiava pelo temporal que os aglomerados de nuvens baixas e plúmbeas no horizonte prometiam.

Devo ter percorrido oito ou nove quilômetros quando um menino interrompeu meu devaneio ao indagar as horas.

Faltavam vinte minutos para as sete da noite.

Quando ele se afastou, comecei a prestar atenção nos arredores. Vi que estava em frente ao portão de um quintal cercado por uma extensão de terra seca, ajardinada de flores púrpuras e gerânios vermelhos. Na entrada havia uma placa com a inscrição:

CHS. ATKINSON GRAVADOR DE INSCRIÇÕES TUMULARES

EM MÁRMORE INGLÊS E ITALIANO

Vindo do quintal, ouvia-se um alegre assobio, as pancadas de um martelo e o som frio do metal contra a pedra.

Um impulso me levou a entrar.

Sentado de costas para mim, um homem trabalhava com afinco em uma laje de mármore raiado. Virou-se ao ouvir meus passos e parou de repente.

Era o homem que eu havia desenhado, cujo retrato trazia no bolso.

Ficou sentado ali, imenso e elefantino, o suor escorrendo do crânio, que enxugava com um lenço de seda vermelho. As feições eram as mesmas, mas a expressão era completamente diferente.

Saudou-me com um sorriso, como se fôssemos velhos amigos, e apertou minha mão.

Eu me desculpei pela intromissão.

“Está tão quente e ofuscante lá fora”, eu disse. “Este lugar parece um oásis no deserto”.

“Não estou certo de que seja um oásis”, ele retrucou, “mas sem dúvida está fazendo calor, um calor infernal. Queira sentar-se, por favor!”

Indicou a extremidade da lápide na qual estava trabalhando, e eu me sentei.

“Que bela pedra você arranjou”, eu disse.

Ele discordou com um abano de cabeça.

“De certo modo, até que é”, explicou. “A superfície é tão lisa quanto se poderia desejar, mas tem uma grande falha no lado posterior. Não que alguém fosse perceber, mas eu jamais conseguiria executar um bom  trabalho num bloco de mármore desses. Assim como está, resistiria muito bem durante o verão; não racharia nesse maldito calor. Mas espere até o inverno chegar. Não há nada como uma boa geada para revelar as imperfeições da pedra.”

“Para que serve, então?”, perguntei.

O homem caiu na gargalhada.

“Você não vai acreditar, mas é para uma exposição, essa é que é a verdade. Os artistas expõem suas obras; da mesma forma que os merceeiros e os açougueiros. E nós também temos nossas exposições. Com todas as novidades em termo de lápides, entende?”

Ele continuou a discorrer sobre mármores; quais os tipos que resistiam melhor ao vento e à chuva e quais eram os mais fáceis de trabalhar; depois falou sobre seu jardim e da nova espécie de cravo que adquirira. De dois em dois minutos, largava as ferramentas, enxugava a cabeça reluzente e praguejava contra o calor.

Falei pouco; eu estava apreensivo. Havia algo de estranho, de inusitado, naquele encontro.A princípio, tentei me convencer de que já o vira antes, de que seu rosto, que me era desconhecido, havia se alojado em algum canto remoto da minha memória, mas eu sabia que isso não passava de autoengano, da busca por uma justificativa plausível.

O senhor Atkinson terminou seu trabalho, cuspiu no chão e se levantou dando um suspiro de alívio.

“Pronto! O que você acha?”, perguntou com indisfarçável orgulho.

A inscrição, que li então pela primeira vez, dizia:


CONSAGRADA À MEMÓRIA

DE

JAMES CLARENCE WITHENCROFT.

NASCIDO EM 18 DE JAN. DE 1860.

FALECEU INESPERADAMENTE

A 20 DE AGOSTO DE 190—


No meio da vida estamos na morte.

Fiquei algum tempo em silêncio. Logo um calafrio percorreu minha espinha. Indaguei onde ele tinha visto aquele nome.

“Ah, em lugar nenhum”, respondeu o senhor Atkinson. “Eu precisava de um nome e gravei o primeiro que me veio à cabeça. Por que a pergunta?”

“É uma estranha coincidência, mas esse nome é o meu.”

Ele deu um longo e baixo assobio.

“E quanto às datas?”

“Só posso confirmar uma delas, e está correta.”

“Que coisa mais esquisita!”, ele disse.

Ele não sabia da missa a metade. Contei o que eu tinha feito de manhã. Tirei o desenho do bolso e mostrei para ele. Sua expressão foi mudando enquanto olhava; ficava cada vez mais parecida com a do homem que eu retratara.

“E foi justo anteontem”, ele disse, “que eu falei para a Maria que fantasmas não existem!”

Nenhum de nós tinha visto um fantasma, mas entendi o que ele quis dizer.

“Provavelmente você ouviu meu nome por aí”, eu disse.

“E você deve ter me visto em algum lugar e não lembra! Você esteve em Clacton-on-Sea julho passado?”

Nunca na vida eu fora a Clacton. Passamos algum tempo em silêncio. Olhávamos, ambos, para a mesma coisa: as duas datas na lápide, uma das quais estava correta.

“Faça o favor de entrar e jante conosco”, disse o senhor Atkinson.

A esposa dele é uma mulher pequena e jovial, com as faces vermelhas e escamosas de quem foi criada no campo. O marido me apresentou como um amigo e disse que eu era um artista. O que foi lamentável, porque depois de terminarmos as sardinhas e o agrião, ela me trouxe uma bíblia ilustrada por Gustave Doré e eu fui obrigado a passar quase meia hora sentado, expressando minha admiração.

Saí para dar uma volta e encontrei Atkinson fumando, sentado na lápide.

Retomamos a conversa do ponto onde paramos.

“Perdoe-me a curiosidade”, eu disse, “mas você se lembra de ter feito algo coisa que possa levá-lo a julgamento?”

Ele negou com a cabeça.

“Não estou falido, os negócios vão bastante bem. Três anos atrás, doei perus para algumas instituições beneficentes na época do Natal, mas não consigo pensar em mais nada. E, além disso, eram perus pequenos”, acrescentou depois de refletir por um instante.

Levantou-se, foi buscar uma vasilha na varanda e começou a regar as plantas.

“Duas vezes por dia, sem falta, quando o tempo está quente”, disse. “E mesmo assim o calor às vezes é demais para as plantas mais sensíveis. As samambaias, por exemplo, Deus do céu, essas não aguentam mesmo! Onde você mora?”

Disse a ele meu endereço. Apertando o passo, eu levaria uma hora para chegar em casa.

“O negócio é o seguinte”, ele disse. “Vamos deixar de rodeios. Se voltar para casa hoje à noite, você acaba sofrendo um acidente. Pode ser atropelado por uma carroça, e as ruas estão cheias de cascas de banana e laranja, isso para não falar em escadas que podem cair na sua cabeça.”

Ele enumerava essas improbabilidades com uma seriedade tão profunda que teria sido engraçado seis horas antes. Mas não achei graça.

“O melhor que você tem a fazer”, ele prosseguiu, “é ficar aqui até a meia-noite. Vamos subir e fumar um charuto; deve estar mais fresco lá dentro”.

Para meu espanto, concordei.

Estamos sentados em um aposento extenso e de teto baixo sob o beiral do telhado. Atkinson mandou a esposa dormir. Está ocupado em amolar algumas ferramentas numa pequena pedra de afiar enquanto fuma um de meus charutos.

O ar está carregado, na iminência de tempestade. Escrevo debruçado sobre uma mesa instável diante da janela aberta. A perna da mesa está rachada, e Atkinson, que parece ser hábil com suas ferramentas, vai consertá-la assim que terminar de afiar o cinzel.

Já passa das onze. Irei para casa daqui a menos de uma hora.

Mas o calor está de rachar.

Capaz de enlouquecer qualquer um.

Tradução de Ronaldo Passarinho, disponível em: http://ronaldopassarinho.blogspot.com/2009/10/calor-de-agosto-august-heat.html



Aula 03 - Conjunta  - Realismo Fantástico II

Tema: Desenvolvimento do gênero em diferentes suportes de mídia

Tempo: 02 horas aula

Objetivos: Apresentar aos alunos as estruturas que compõe o gênero literário “Conto” e o gênero cinematográfico  “Curta-Metragem”.

Metodologia: Apresentar um pouco da história do gênero de filmagem cinematográfica “Curta Metragem” e a organização do gênero conto. Tendo como a temática das aulas será a relação entre pais e filhos, iremos apresentar os curtas “Ensaio” (Marcos Salem) e “A Fábrica” (GRAFO Audiovisual) e trabalhar com o conto “Luz sob a porta”, de Luiz Vilela.

Avaliação: Perceber se o aluno teve interesse nas atividades, ainda que não tenha se expressado oralmente.

Materiais:

a) Pen drive com o trailer do filme

b) Cópias do conto suficientes para todos os alunos

Anexos: 

a) Link do curta: http://portacurtas.org.br/filme/?name=ensaio

b) Conto:

Luz sob a Porta

LUIZ VILELA

– E sabem o quê o cara fez? Imaginem só: deu a maior cantada! Lá, gente, na porta da minha casa! Não é ousadia

demais?

– E você?

– Eu? Dei té-logo e bença pra ele; engraçadinho, quem que ele pensou que eu era?

– Que eu fosse.

– Quem tá de copo vazio aí?

– Vê se baixa um pouco essa eletrola, quer pôr a gente surdo?

– Você começou a me falar aquela hora...

– Kafka? Estou lendo. O processo. Delirando. Kafka deixa a gente angustiada.

– Já passei minha fase de Kafka. Estou lendo agora é Sartre; O muro, já leu? Bárbaro.

– Gosto mais de A náusea.

– Vocês não vão dançar?

– Toninho, põe os Beatles.

– Escuta essa aqui, gente, escuta só essa aqui, é o máximo; conta, Guido, conta aí...

– Vocês não conhecem? A das duas bichas fazendo tricô?...

– Onze e vinte: já vou.

– Você está doido? Agora que a festa começou, agora que está ficando bom; aquelas duas ali que chegaram, viu só  que material?... Agora que a coisa está ficando boa, e você vai embora? Pra quê essa pressa?

– Já te falei, é aniversário da minha mãe, preciso ir lá.

– Você vai deixar isso tudo aqui?

– É aniversário dela, não fui lá ainda.

– Você vai amanhã. Será que ela vai morrer se você não for hoje?

– Você não compreende; ela deve estar lá me esperando; eu nunca deixei de ir.

– Você está com algum macete aí fora e não quer contar. Onde já se viu sair de uma festa dessas pra ir na casa da mãe.

– Qual foi o galho aí, gente?

– A mãe do Nélson.

– Quê que houve com sua mãe, Nélson? Ela está doente?

– Ele está dizendo que vai embora; é aniversário dela, ele vai lá. Eu disse pra ele que...

– Embora? De jeito nenhum. Não tem nem uma hora que você chegou aqui.

– Preciso dar uma chegada lá, Maria, é aniversário dela, não fui lá ainda.

– Essa hora? Sua mãe já está dormindo.

– Não está não, eu sei.

– Te garanto. Mais de onze horas. Você vai lá amanhã.

– Vocês não compreendem.

– Complexo de Édipo...

– Não, você não vai embora não. Deixa sua mãe pra depois; que diabo, você está fazendo pouco-caso de minha festa? Vou encher seu copo.

– Não, Maria.

– Deixa de onda, Nélson; enche o copo dela aí, Maria, pode encher.

– Cadê seu copo?

– Não, Maria, já estou indo.

– Poxa, você é casado com sua mãe, ou quê que é?

– Vocês não compreendem.

– Você tem medo de sua te pôr de castigo?

– Tadinho, a mãe dele vai pôr ele de castigo...

Ao sair do táxi, olhou as horas: cinco pra meia-noite. Havia luz sob a porta, ela estava esperando-o.

– Eu sabia que você vinha.

– A senhora não devia ter-me esperado até essa hora. Mamãe, já é tarde; eu viria amanhã.

– Não estou com sono. E, além disso, eu tinha certeza de que você vinha. Você nunca deixou de vir.

Sentada à mesa, a mãe sorria feliz para ele.

– Veio mais alguém aqui? – ele perguntou.

– Encontrei com a Dulce na porta, ela lembrou e disse que vinha, mas não veio: decerto tornou a esquecer. Pensei também no Rubens; ele sempre vinha, o ano passado mesmo ele veio; mas dessa vez ele também não apareceu, não sei por quê.

– Quer dizer que a senhora passou o dia sozinha?

– Passei, mas não teve importância; eu arranjei uma costurinha para fazer. Pensei que você vinha de tarde e fiquei te esperando; toda hora que eu ouvia passos no corredor, eu pensava que era você; mas depois passou a tarde, e, como você não veio, eu pensei que você tinha deixado pra vir de noite.

– Eu queria vir mais cedo. Se eu tivesse vindo, a senhora não precisaria ficar esse tempo todo me esperando.

– Não estou com sono; gente velha não tem sono.

– A senhora não é velha – beliscou de leve a mão dela, num carinho. – Já falei que a senhora não é velha: a senhora é um broto, viu? Não fale mais que é velha.

A mãe sorriu.

– Comprei umas garrafas de guaraná, para o caso de vir alguém; mas não veio ninguém... Quer tomar uma? Fiz também daqueles biscoitinhos que você gosta...

Ela foi buscar.

Encheu o copo dele.

– E a senhora, não vai tomar?

– À noite não gosto de comer.

– Segunda eu vou trazer um presente pra senhora, hoje de manhã não tive tempo de comprar.

– Incomoda não; eu sei que você não anda bom de dinheiro; eu também não estou precisando de nada. Meu presente é você ter vindo...

– Eu podia ter passado o dia com a senhora.

– Você quase não tem tempo, Nélson.

– À tarde eu tive; eu podia ter vindo.

– Você veio agora, já está bom.

– Se eu tivesse vindo, a senhora não teria passado o dia sozinha.

– Eu arranjei essa costurinha para fazer.

Comeu outro biscoito e tomou um gole de guaraná.

– E o Álvaro? Também não veio?

– O Álvaro? Há tanto tempo que não vejo o Álvaro, tanto tempo que ele não vem aqui... A gente vai ficando velha, os outros vão se afastando...

– A senhora não está velha.

– Estou sim, Nélson; eu sei que é amor de filho, mas eu estou: setenta anos é muita coisa.

– Vovó viveu até os noventa e cinco.

– Eu sei, mas eu não quero viver isso tudo. Depois de certa idade, a gente só dá trabalho aos outros, não quero viver tanto assim.

– Mas eu quero, Mamãe.

– Setenta anos é muito; já basta. A gente começa a se sentir cansada, vai perdendo o gosto pelas coisas. Não quero

viver muito tempo.

– Quer sim, Mãe. A senhora tem de querer.

Segurou-lhe o queixo com carinho:

– Tem de querer, viu?

A mãe baixou os olhos: estavam molhados.

– Por que a senhora está chorando?...

– Você demorou tanto, Nélson... Já estava pensando que você não vinha mais...

– Eu nunca deixei de vir, Mamãe.

– Eu sei... Mas você demorou tanto... Você nunca tinha demorado assim... Eu não queria pensar isso, mas você nunca que vinha... Eu te esperava, mas você nunca mais que chegava...

Ela chorava, de cabeça baixa.

– Está bem, Mamãe – disse, pondo a mão no braço dela –; mas agora não chore mais; eu já estou aqui.

– Eu não queria pensar isso... Eu sei que você nunca deixou de vir... Eu não queria pensar isso... mas você estava demorando tanto...

– Está bem; não tem importância. Mas agora não chore mais.

(Tarde da noite. 4. ed. São Paulo, Ática, 1988.)


Aula 04 - Conjunta -  Inicial

Tema: Apresentação e pesquisa de gostos

Tempo: 02 horas-aula

Objetivos: Mostrar aos alunos como é trabalhado o realismo fantástico na cinematografia – através da exibição do longa- metragem Coraline – com direção e roteiro de Henry Selick – baseado na obra literária de mesmo nome de Neil Gaiman.

Metodologia: Os alunos serão levados a sala de multimídia para assistirem a exibição do longa- metragem. Após, breve discussão sobre os pontos que mais lhe chamarão a atenção.

Avaliação: Será feita de forma contínua através do interesse demonstrado pelos alunos pelo filme, ainda que este não seja feito na forma oral.

Materiais:

a) Dvd do filme Coraline.

b) Sala de multimídia.

Autores: Camila do Nascimento Francelino, Daniela Maria Rocha, Elaine Cristina da Silva, Franciele da Cruz, Giovanna Schneider Ingles, Ísis Knoblauch, Luiz Guilherme Delenski Giublin, Sueelem Witszmiszyn.