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PIBID - Programa Institucional de Bolsa e Iniciação à Docência

Sequência Didática - Tiro ao Álvaro

Col. Estadual Ermelino de Leão

Ministrada de 03/05 a 24/05/13

Curitiba - PR

2013



Programa Institucional de Bolsa e Iniciação à Docência

Aula 7 – Crônica -  03/05/2013

Tema: Leitura de crônica.

Tempo: Uma hora aula (50 minutos)

Objetivos: Realizar a leitura dos textos “O Gigolô das Palavras” e “Sexa” (anexo 1 e 2) do escritor Luís Fernando Veríssimo em conjunto com os alunos e suscitar discussões a respeito da utilização da gramática do âmbito coletivo e o papel que ela desempenha como instrumento de segregação social e preconceitos linguísticos. São estes pontos que se mostram pouco esclarecidos em relação à sociedade. Fomentar uma breve reflexão a respeito do que significa, de fato, ensinar gramática nas escolas e o esclarecimento sobre as diferenças entre a fala, como aquisição natural, e a escrita como um código submetido a convenções simbólicas necessárias para o indivíduo ter assegurado o direito de partícipe no universo letrado.

Metodologia: Numa atividade extraclasse, pretendemos propor aos alunos que façam um círculo para que possamos efetuar a leitura do texto em voz alta. Distribuiremos entre os voluntários à leitura, trechos do texto. Em seguida abordaremos uma discussão, através de retomadas ao texto, da relevância e do espaço dedicado ao ensino de gramática normativa nas escolas.

Material: Cópias do texto.

Anexos:

a)      Anexo 1


O Gigolô das Palavras

Luís Fernando Veríssimo

 

Quatro ou cinco grupos diferentes de alunos do Farroupilha estiveram lá em casa numa mesma missão, designada por seu professor de Português: saber se eu considerava o estudo da Gramática indispensável para aprender e usar a nossa ou qualquer outra língua. Cada grupo portava um gravador cassete, certamente o instrumento vital da pedagogia moderna, e andava arrecadando opiniões. Suspeitei de saída que o tal professor lia esta coluna, se descabelava diariamente com suas afrontas às leis da língua, e aproveitava aquela oportunidade para me desmascarar. Já estava até preparando, às pressas, minha defesa (“Culpa da revisão! Culpa da revisão!”). Mas os alunos desfizeram o equívoco antes que ele se criasse. Eles mesmos tinham escolhido os nomes a serem entrevistados. Vocês têm certeza que não pegaram o Veríssimo errado? Não. Então vamos em frente.

Respondi que a linguagem, qualquer linguagem, é um meio de comunicação e que deve ser julgada exclusivamente como tal. Respeitadas algumas regras básicas da Gramática, para evitar os vexames mais gritantes, as outras são dispensáveis. A sintaxe é uma questão de uso, não de princípios. Escrever bem é escrever claro, não necessariamente certo. Por exemplo: dizer “escrever claro” não é certo, mas é claro, certo? O importante é comunicar. (E quando possível surpreender, iluminar, divertir, comover… Mas aí entramos na área do talento, que também não tem nada a ver com Gramática.) A Gramática é o esqueleto da língua. Só predomina nas línguas mortas, e aí é de interesse restrito a necrólogos e professores de Latim, gente em geral pouco comunicativa. Aquela gravidade sombria que a gente nota nas fotografias em grupo dos membros da Academia Brasileira de Letras é de reprovação total pelo Português ainda estar vivo. Eles só estão esperando, fardados, que o Português morra para poderem carregar o caixão e escrever sua autópsia definitiva. É o esqueleto que nos traz de pé, certo, mas ele sozinho não informa nada, como a Gramática é a estrutura da língua mas sozinha não diz nada, não tem futuro. As múmias conversam entre si em Gramática pura.

Claro que eu não disse tudo isso para meus entrevistadores. E adverti que minha implicância com a Gramática na certa se devia à minha pouca intimidade com ela. Sempre fui péssimo em Português. Mas— isto eu disse — vejam vocês, a intimidade com a Gramática é tão dispensável que eu ganho a vida escrevendo, apesar da minha total inocência na matéria. Sou um gigolô das palavras. Vivo às suas custas. E tenho com elas a exemplar conduta de um cáften profissional. Abuso delas. Só uso as que eu conheço, as desconhecidas são perigosas e potencialmente traiçoeiras. Exijo submissão. Não raro, peço delas flexões inomináveis para satisfazer um gosto passageiro. Maltrato-as, sem dúvida. E jamais me deixo dominar por elas. Se bem que não tenha também o mínimo escrúpulo de roubá-las de outro, quando acho que vou ganhar com isto. As palavras, afinal, vivem na boca do povo. São faladíssimas. Algumas são de baixíssimo calão. Não merecem o mínimo respeito.

Um escritor que passasse a respeitar a intimidade gramatical das suas palavras seria tão ineficiente quanto um gigolô que se apaixonasse pelo seu plantel. Acabaria tratando-as com a deferência de um namorado ou com a tediosa formalidade de um marido. A palavra seria sua patroa! Com que cuidados, com que temores e obséquios ele consentiria em sair com elas em público, alvo da impiedosa atenção de lexicógrafos, etimologistas e colegas. Acabaria impotente, incapaz de uma conjunção. A Gramática precisa apanhar todos os dias para saber quem é que manda.

 

(in VERÍSSIMO, Luís Fernando. O Gigolô das Palavras. Org. Maria da Glória Bordini , L&PM Editora, 1993)


b)      Anexo 2

 Sexa

Luís Fernando Veríssimo

- Pai...

- Hummmmm?

- Como é o feminino de sexo?

- O quê?

- O feminino de sexo.

- Não tem.

- Sexo não tem feminino?

- Não.

- Só tem sexo masculino?

- É. Quer dizer, não. Existem dois sexos. Masculino e Feminino.

- E como é o feminino de sexo?

- Não tem feminino. Sexo é sempre masculino.

- Mas tu mesmo disse que tem sexo masculino e feminino.

- O sexo pode ser masculino ou feminino. A palavra "SEXO" é masculina. O SEXO masculino, o SEXO feminino.

- Não devia ser "A SEXA"?

- Não.

- Por que não?

- Porque não! Desculpe. Porque não. "SEXO" é sempre masculino.

- O sexo da mulher é masculino?

- É. Não! O sexo da mulher é feminino.

- E como é o feminino?

- Sexo mesmo. Igual ao do homem.

- O sexo da mulher é igual ao do homem?

- É. Quer dizer... Olha aqui. Tem o SEXO masculino e o SEXO feminino, certo?

- Certo.

- São duas coisas diferentes.

- Então como é o feminino de sexo?

- É igual ao masculino.

- Mas não são diferentes?

- Não. Ou, são! Mas a palavra é a mesma. Muda o sexo, mas não muda a palavra.

- Mas então não muda o sexo. É sempre masculino.

- A palavra é masculina.

- Não. "A palavra" é feminino. Se fosse masculino seria "o pal..."

- Chega! Vai brincar, vai.

O garoto sai e a mãe entra. O pai comenta:

-Temos que ficar de olho nesse guri...

- Por quê?

- Ele só pensa em gramática.

(in VERÍSSIMO, Luís Fernando. Comédias para se ler na Escola, Ed. Objetiva, 2006)


Programa Institucional de Bolsa e Iniciação à Docência

Aula 8 – Tiro ao Álvaro – 24/05/2013

Tema: Conceitos básicos de variação linguística

Tempo: 1 ou 2 aulas (50 minutos cada)

Objetivos: Fazer uma aula expositiva em relação aos conceitos básicos de variação, a começar pela afirmação de que ela existe em todas as línguas.

Metodologia: Explicar as diferenças entre fala e escrita, a norma culta e outras variantes socialmente desprestigiadas. Apresentar as diferentes definições de ‘gramática’ (as regras presentes em qualquer variedade e aquelas ditadas pela gramática tradicional). Trabalhar todos esses conceitos após uma ilustração com a letra da música Tiro ao Álvaro, de Adoniran Barbosa.

Materiais: Cópias dos textos (letra da música e texto com resumo dos principais conceitos tratados) para cada aluno.

Anexos:


Tiro ao Álvaro – Adoniran Barbosa


De tanto levar

"frexada" do teu olhar

meu peito até

parece sabe o que?

 

"Talbua" de tiro ao "álvaro"

não tem mais onde furar (2x)

 

Teu olhar mata mais

do que bala de carabina

que veneno estriquinina

que pexeira de baiano


Teu olhar mata mais

Que atropelamento

De artomóve

Mata mais

Que bala de revórver

 

Adoniran Barbosa

 

Fonte:http://letras.mus.br/adoniran-barbosa/43970/

Programa Institucional de Bolsa e Iniciação à Docência

Aula 9 – Zaluzejo – 24/05/2013

Tema: Reflexão linguística pautada na música do Zaluzejo- O Teatro Mágico.

Tempo: Duas horas aula.

Objetivos: Através da música Zaluzejo do grupo performático O Teatro Mágico, visamos ressaltar o preconceito linguístico, variedades linguísticas, diferentes dialetos constituído de diferentes registros - como as gírias e o palavreado próprio das chamadas “crendices populares”, de modo que os alunos reconheçam a língua de acordo com seu verdadeiro valor.

Metodologia: A música será apresentada (anexo 1). Na atividade, cutucaremos nossos alunos para o reconhecimento das particularidades presentes na composição da canção, além do caráter social da linguagem. Faremos isso dialogando com os alunos, de modo que seja uma rica discussão acerca do que a música transpassa. Após então, apresentaremos a atividade (anexo 2), que deverá ser completada e debatida em grupos de quatro alunos. Discutiremos oralmente todas as questões, assim como a palavra cruzada (anexo 3), que consta de questões variadas, tanto a respeito da língua, como de diversos outros conhecimentos.

Materiais: Cópias da atividade, conforme seguem anexadas. (Total: 40)

Anexos:
 

a)      ANEXO 1

MULHER:
Ah eu tenho fé em Deus... né?
Tudo que eu peço ele me ouci... né?
Ai quando eu to com algum poblema eu digo:
Meu Deus! me ajuda que eu to com esse poblema!
Ai eu peço muito a Deus... ai eu fecho meus olhos... né?
e Deus me ouci na hora que eu peço pra ele, né?
eu sou uma pessoa muito divistida
eu não sei falar direito

VOCALISTA:
Como não sabe falar direito, Jo?
Você é uma poetisa de natureza
Você reinventa as palavras
Pois é, coisa que os poetas deveriam fazer
A questão é que mais da metade do país não consegue terminar o ensino fundamental
E essas pessoas são discriminadas porque não falam o português coloquial corretamente
Pois é o seguinte, não interessa se você é letrado ou não
O que importa é se você vive aquilo você fala.

Refrão:
Pigilógico, tauba, cera lítica, sucritcho, graxite, vrido, zazulejo (3x)

Tomar banho depois que passar roupa mata
Olhar no espelho depois que almoça entorta a boca
E o rádio diz que vai cair avião do céu
Senhora descasada namorando firme pra poder casar de véu

[Refrão] 2x

Quando for fazer compras no Gadefour:
Omovedor ajactu, sucritcho, leite dilatado, leite intregal,
Pra chegar na bioténica, rua de parelepídico
Pra ligar da doroviária, telefone cedular

[Refrão] 2x

Quando fizer calor e quiser ir pra praia de Cararatatuba, cuidado com o carejangrejo
Tem que ta esbeldi, não pode comer pitz,
Pra tirar mal hálito toma água do chuveiro,
No salão de noite, tem coisa que não sei, Mulé com mulé é lésba e homi com homi é gay
Mas dizem que quem beija os dois é bixcional
Só não pode falar nada, quando é baile de carnaval

[Refrão] 2x

Pra não ficar prenha e ficar passando mal, copo d'água e pílula de ontemproccional
Homem gosta de mulher que tem fogo o dia inteiro, cheiro no cangote, creme rinsa no cabelo
Pra segurar namorado morrendo de amor,
escreve o nome num pepino e guarda no refrigelador
Na novela das otcho, Torre de papel,
Menina que não é virge, eu vejo casar de véu
Mas eu vou casar de véu, eu vou. (4x)

Se você se assustar e tiver chilique,cuidado pra não morrer de palaladi cadique
Tenho medo da geladeira, onde a gente guarda yogute,
porque no fio da tomada se cair água pode dá cicrutche
To comprando um apartamento e o negócio ta quase no fim
O que na verdade preocupa é o preço do condostim
O sinico lá do prédio, certa vez outro dia me disse:
Que o mundo vai acaba no ano 2000 é o que diz o acalipse

Tenho medo de tudo que vejo e aparece na televisão
Os preju do Carajundu fugiram em buraco cavado no chão
Torrorista, assassino e bandido, gente que já trouxe muita dor
O que na verdade preocupa é a fuga do seucrostador
Seucrosta quem não tem dinheiro, quem não tem emprego
e não tem condução
Documento eu levo na proxeca porque é perigoso carregar na mão

Eu falo errado mas falo o que eu quisé (2x)
Eu falo errado mas falo o que eu querer (2x)

Mas quando alguém te disser ta errado ou errada
Que não vai S na cebola e não vai S em feliz
Que o X pode ter som de Z e o CH pode ter som de X
Acredito que errado é aquele que fala correto e não vive o que diz.

Omovedor, Carejangrejo...
Zazulejo.

Atividades relativas ao texto 1:

1) Na música aparecem muitas crendices populares. As crendices populares são, geralmente, como o próprio nome já diz, costumes e crenças que as pessoas aprendem de geração em geração. Sublinhe todas as crendices que aparecem na música, comente o que você acha a respeito delas e escreva alguma outra que você conheça e que não conste na canção.

2) O Teatro Mágico, de uma maneira muito criativa e bem humorada, desenvolveu a música “Zaluzejo” para mostrar um português diferente, falado por muitas pessoas do Brasil. Circule todas essas palavras que fogem daquilo que é conhecido como “gramaticalmente correto” e reescreva-as como dicionarizadas. (Mínimo 20 palavras)

3) Observe as palavras que seguem, tal como registradas na canção: intregal/ doroviária / cedular / refrigelador / otcho. Em todas elas, há troca/alteração de letra ou som. Cite outras palavras em que o ocorre fenômeno semelhante.

4) A banda “O Teatro Mágico”, tem um conceito de arte diferente, chamado de “Arte Independente”. Pesquise os significados dessa expressão.
(ATIVIDADE MANUSCRITA DE NO MÍNIMO 10 LINHAS)

5) Outra característica da banda é ser “performática”. Pesquise e explique o que é isso.
(ATIVIDADE MANUSCRITA DE NO MÌNIMO 5 LINHAS)

Atividade 2:
Faça as palavras-cruzadas aplicando seus conhecimentos, consultando dicionários, gramáticas...
 
Cruzadinha

Lacunas
Obs.: Em alguns quadrados das palavras-cruzadas você reparou que existem alguns números espalhados. A sequência destes números forma o nome do grupo musical que vimos na aula de hoje. Sequencie os números para descobrir!
 

“Viva a tua maneira
Não perca a estribeira
Saiba do teu valor
E amanheça brilhando mais forte
Que a estrela do norte
Que a noite entregou”

Camarada d’água – O Teatro Mágico



Autores: Franciele da Cruz, Sueelem Witsmiszyn, Dalva Mabel Silva Rosa, Camila do Nascimento Francelino, Larissa Armstrong Machado, Thaís Cristina de Souza, Roseana Mayumi de Jesus, Rodrigo Pereira