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PIBID - Programa Institucional de Bolsa e Iniciação à Docência

Sequência Didática - Argumentação

Col. Estadual Santa Gemma Galgani

Curitiba - PR

2012


Programa Institucional de Bolsa e Iniciação à Docência


Tema: Usos da Língua - Representação em Diferentes Gêneros  - Argumentação - I

Tempo: 04 horas-aula (apresentação + atividade)

Objetivos: Apresentar o projeto e delinear nossa linha de atuação - trabalho com gêneros literários, além de sua apresentação

Metodologia: A apresentação do projeto foi feita levando-se em conta que estávamos já no fim do ano letivo, e por consequência não iríamos conviver por muito tempo - de todo modo, ela foi estruturada mais como uma conversa, sem muita pretensão, tanto para acostumar os alunos a um ritmo de aula mais colaborativo quanto para que houvesse uma aproximação mais pessoal, flexivel e duradoura de ambos os lados - e a recepção dessa atitude foi essencial para que desdobrássemos nosso plano de aula nas semanas seguintes.

Como primeira atividade, resolvemos trabalhar o gênero da carta argumentativa - gênero que é pedido na maioria das redações vestibulares do país e que agrega uma ótima possibilidade do reconhecimento de um construto específico - a carta argumentativa é obrigatoriamente escrita sobre um ponto de vista em contradição, onde o autor tem que apresentar argumentos para comprovar seu ponto de vista, diferentemente de uma opinião, o que exemplificaria de maneira prática aonde queríamos chegar: à produção de uma carta baseada nos conceitos que iriamos trabalhar com eles durante o resto do período letivo - o que envolveria um direcionamento temático que fosse concernente ao projeto, o que foi sendo construído a partir das próximas aulas. Como exemplo, montamos um "esquema de construção" de uma carta argumentativa, delineando seus apectos principais e obrigatórios, como a apresentação formal, a introdução ao assunto, a introdução ao posicionamento e o embasamento argumentativo, usando de um texto publicado por Moacyr Scliar na Folha de São Paulo em Agosto de 2000 (em anexo)

Materiais: Aula teórica, sem distribuição

Anexos: Em arquivo - Esquema da carta de Moacyr Scliar, Folha de São Paulo, 14 de agosto de 2000

Programa Institucional de Bolsa e Iniciação à Docência


Tema: Usos da Língua - Representação em Diferentes Gêneros  - Argumentação - II

Tempo: 02 horas-aula

Objetivos: Demonstrar, teoricamente, as diferenças entre fala, escrita, norma (padrão e variabilidades) e língua; avaliar o conhecimento dos alunos sobre alguns desses aspectos.

Metodologia:

Os exercícios propiamente ditos começaram aqui - como direcionamento teórico, utilizamos de um vídeo produzido pela Universidade Federal de Pernambuco, um especial de 3 partes com Luiz Antônio Marcuschi (conforme disponibilzado) denominada "Fala e Escrita". A escolha foi motivada pelo entrevistado ser um dos maiores estudiosos em linguística do Pais (com trabalhos principalmente na área de linguística textual e análise do discurso - o que deu um embasamento bastante abrangente para o assunto) e pela entrevista mencionar aspectos básicos de uma divisão coerente entre língua escrita e falada, normas e variedades de uma maneira bem mais acessível que um tratado teórico - o que, claro, foi complementado com apartes de nossa parte, explicando alguns pontos de interesse maior e que não são normalmente contemplados em sala de aula. Seguindo o vídeo, pedimos que eles fizessem uma apreciação do que tinha ouvido até então, baseado principalmente no que assistiram e no que discutimos - o que avaliaria, além da imersão no gênero, a atenção e a "força de sustentação" de suas opiniões.

Materiais: Cópias dos exercícios, distribuídas por aluno

Anexos:

a) Fala e Escrita - Parte 01

http://www.youtube.com/watch?v=XOzoVHyiDew&feature=share

b) Exercício

Com base no que foi discutido em sala, discorra sofre a afirmação feita por Luiz Antônio Marcuschi.

Obs.: Leve em conta o seu conceito sobre fala e escrita, aquele que você tinha ou tem, antes desta aula. Não tenha medo de discordar!

“O que nós queremos fazer aqui é mostrar que isso é um equívoco [...] tanto a oralidade quanto a escrita são fundamentais, são duas maneiras das pessoas organizarem seu discurso, praticarem as suas interações no dia a dia sem que uma seja mais importante que a outra – cada uma tem seu lugar - são práticas que não concorrem, não competem – são complementares - e são utilizadas harmonicamente no dia a dia.”


Programa Institucional de Bolsa e Iniciação à Docência


Tema: Usos da Língua - Representação em Diferentes Gêneros  - Argumentação - III

Tempo: 02 horas-aula

Objetivos: Produção de texto, de acordo com o assunto trabalhado - Avaliar a reflexão, a força da argumentação e a mobilidade do aluno no gênero

Metodologia:

A terceira aula da sequência foi dedicada ao comentário do primeiro texto (que não foi corrigido, pois se tratava de algo opinativo-argumentativo) e da segunda proposta, onde lemos em conjunto mais dois textos-base: Gramática e Política, do Sìrio Possenti, artigo que serviu de embrião para seu livro "Por que (não) ensinar gramática na escola", e uma carta (em resposta a esse texto) de Miriam Algarra, responsável pelo blog "O Cisne Cantou", onde também foi publicado - de modo a estabelecer as diferenças entre os dois textos e o que tinha (e até onde chegava) de argumentação e contra-argumentação em cada um deles.

Com isso, pedimos que os alunos escrevessem uma carta, dessa vez em resposta à Míriam Algarra, desenvolvendo sua opinião (devidamente embasada por meio de argumentos, baseados principalmente no que viram até aquele momento) a respeito do assunto.

Materiais:

Anexos: Cópias dos textos indicados e dos exercícios, distribuídas por aluno

a) A Liberdade Linguística - Carta Argumentativa em resposta a Sírio Possenti - Gramática e Política (disponível em: http://ocisnecantou.wordpress.com/2012/02/15/a-liberdade-linguistica-carta-argumentativa-em-resposta-a-sirio-possenti-gramatica-e-politica/)

A liberdade Linguística – Carta Argumentativa em resposta à Sírio Possenti – Gramática e Política

Caro Sírio Possenti,

Creio que seria adequado classificar a gramática em dois grupos distintos, sendo um deles embasado nas teorias de linguística moderna, que trabalha com a mudança e a variação e o outro no discurso de senso comum impregnado de concepções arcaicas sobre a linguagem operando sempre com o conceito de “erro”.
Ao meu ver, a língua é entendida como a organização sintática de sons e significados que permitem a interação humana e a noção de erro foi implantada no mundo ocidental em uma relação sócio-cultural estudada pela sociolinguística, compreendida aqui em um conceito muito amplo como o estudo das relações sociais intermediadas pela linguagem.

É fato também, que a gramática precede as mudanças, ajustando-se as variações linguísticas populares e não o contrário. Tendo isto em vista, o que seria, pois, considerado errado?

O erro só existe quando uma variação linguística é usada fora de seu contexto.
Reconheço, obviamente, a importância das normas gramaticais como patrimônio histórico-cultural do Ocidente e até mesmo como forma de arte, mas não para ser classificada como única forma linguística válida.

Concordo quando afirma que a gramática tradicional é um conceito de língua elitista, já que foi constituída com base em preconceitos sociais que revelam o tipo de sociedade onde ela surgiu: escravagista, aristocrática, oligárquica e muito hierarquizada.

Enfim, apesar de concordar com vários pontos de seu texto, tenho para mim que um profissional da educação deve sempre validar o saber prévio dos aprendizes visando a ampliação de sua capacidade comunicativa, reforçando um tipo de construção de linguagem mais democrática e menos discriminativa, pois isso preservaria uma relação respeitosa entre educador e aluno, sendo esta essencial para que a aprendizagem ocorra.

Atenciosamente,
Miriam Algarra

b) Excertos de "Gramática e Política", de Sírio Possenti (usado como base para discussão, não foram feitas cópias individuais)

Resumo do texto Gramática e Política de Sírio Possenti - Sueelem Witsmiszyn

•    Conceito de Gramática.

No sentido mais comum, o termo gramática designa um conjunto de regras que devem ser seguidas por aqueles que querem "falar e escrever corretamente". Neste sentido, pois, gramática é um conjunto de regras a serem seguidas.

Num segundo sentido, gramática é um conjunto de regras que um cientista dedicado ao estudo de fatos da 1íngua encontra nos dados que analisa a partir de uma certa teoria e de um certo método. Neste caso, por gramática se entende um conjunto de leis que regem a estruturação real de enunciados realmente produzidos por falantes, regras que são utilizadas.
Gramáticas do primeiro tipo preocupam se mais com como deve ser dito, as do segundo ocupam-se exclusivamente de como se diz.

Num terceiro sentido, a palavra gramática designa o conjunto de regras que o falante de fato aprendeu e das quais lança mão ao falar. É preciso que fique claro que sempre que alguém fala o faz segundo regras de uma certa gramática [...]. O conjunto de regras linguísticas que um falante conhece constitui a sua gramática, o seu repertório linguístico.

•    Conceito de língua ligado a Gramática.

O primeiro conceito é o mais usual entre os membros de uma comunidade lingüística, pelo menos em comunidades como as nossas. Segundo tal forma de ver a questão, o termo língua recobre apenas uma das variedades lingüísticas utilizadas efetivamente pela comunidade, a variedade que é pretensamente utilizada pelas pessoas cultas. É a chamada 1íngua padrão, ou norma culta.  primeiro conceito é o mais usual entre os membros de uma comunidade lingüística, pelo menos em comunidades como as nossas. Segundo tal forma de ver a questão, o termo língua recobre apenas uma das variedades lingüísticas utilizadas efetivamente pela comunidade, a variedade que é pretensamente utilizada pelas pessoas cultas. É a chamada 1íngua padrão, ou norma culta.

O segundo conceito de língua, ligado a gramáticas do tipo 2, também é excludente [...].Aqui língua equivale a um construtor teórico, necessariamente abstrato. Como tal, é considerado homogêneo, não prevê variações no sistema. O que faz é prever sistemas coexistentes, mas não incorpora, embora trabalhe com base em enunciados da fala, as flutuações da fala.

Considerando se que os falantes não falam uma 1íngua uniforme e não falam sempre da mesma maneira, a terceira concepção de gramática opera a partir de uma noção de Língua mais difícil de explicitar. Digamos, em poucas palavras, que neste sentido 1 íngua é o conjunto das variedades utilizadas por uma determinada comunidade e reconhecidas como heterônimas de uma língua. Isto é, formas diversas entre, si, mas pertencentes à mesma 1íngua.

•    Consideremos agora alguns fatos linguísticos.

[...] as línguas estão estreitamente ligadas a seus usuários, isto é, aos outros fatos sociais. Não são sistemas que pairam acima dos que falam, e não estão isentas dos valores atribuídos pelos que falam.
Um outro fato evidente é que as línguas variam. Não se sabe de nenhuma língua que seja uniformemente falada por velhos e jovens, homens e mulheres, pessoas mais e menos influentes, em qualquer circunstância.
Um terceiro fato evidente é que as línguas mudam. As gramáticas do tipo 1 fazem o possível para ser insensíveis a esta realidade, mas ela é tão forte que mesmo elas acabam por dobrar se, embora parcial, tardiamente e apenas segundo uma razão: por se pautarem nos "bons escritores", que sempre incorporam formas novas ou mesmo criam formas alternativas.

Um outro fato que não pode ser esquecido é que a variedade lingüística estudada e aconselhada por gramáticas do tipo 1 é fruto de um longo e minucioso trabalho explícito voltado não sobre a 1 íngua, no sentido c, mas sobre uma de suas variedades, para "aperfeiçoá la". Um dos resultados deste trabalho é a apresentação desta variedade como se ela não tivesse a mesma origem das outras. Em resumo, aquilo que se chama vulgarmente de linguagem correta não passa de uma variedade da língua que, em determinado momento da história, por ser a utilizada pelos cidadãos mais influentes da região mais influente do país, foi a escolhida para servir de expressão do poder, da cultura deste grupo, transformada em única expressão da única cultura. Seu domínio passou a ser necessário para ter acesso ao poder. 0 que precisa ficar claro é que esta variedade, a mais prestigiada de todas, tem a força que tem em função de dois fatores, ambos desligados de sua, digamos estrutura: pelo fato de ser utilizada pelas pessoas mais influentes, donde se deduz que seu valor advém não de si mesma, mas de seus falantes; e por ter merecido, ao longo dos tempos, a atenção dos gramáticos, dos dicionaristas e dos escribas em geral, que se esmeraram em uniformizá-la ao máximo, em adicionar lhe palavras e regras que acabaram por torná-la, efetivamente, a variedade capaz de expressar maior número de coisas.

[...] é preciso acentuar que no interior das línguas não há variantes, termo que pode dar a idéia de que uma forma deriva, bem ou mal, de outra, que é superior, melhor, mas apenas variedades, isto é, formas coexistentes. [...]. E é preciso dizer com todas as letras que todas as variedades são boas e corretas, e que funcionam segundo regras tão rígidas quanto se imagina que são as regras da "língua clássica dos melhores autores". As variedades não são, pois, erros, mas diferenças.

Não existe erro lingüístico. 0 que há são inadequações de linguagem, que consistem não no uso de uma variedade, ao invés de outra, mas no uso de uma variedade ao invés de outra numa situação em que as regras sociais não abonam aquela forma de fala. [...].  O “erro", portanto, se dá sempre em relação à avaliação do valor social das expressões, não em relação às expressões mesmas. [...].

[...] não existe nenhuma variedade e nenhuma língua que sejam boas ou ruins em si. 0 que há são. línguas e variedades que mereceram maior atenção que outras, segundo necessidades e eleições historicamente explicáveis. Necessidades e eleições claramente políticas. [...] 


c) Exercício:

Escreva uma carta para Miriam Algarra, discutindo suas posições com base nas suas opiniões e no que a gente viu até aqui (mínimo de 15 linhas)


Autores: Anderson Chcrobut, Bárbara Aline Rozário, Leandro Toporowicz, Sueelem Witsmiszyn