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PIBID - Programa Institucional de Bolsa e Iniciação à Docência
Sequência Didática: Diminutivos
Col. Estadual Ermelino de Leão
Curitiba - PR
2012
Programa Instituicional de Bolsa e Iniciação à Docência
Tema: Usos da Língua - Diminutivos
Tempo: Duas horas-aula
Objetivos: Demonstrar uma faceta
interessante da evolução da língua; determinar aos alunos
algumas das diretrizes de formação e de contextualização dos
diminutivos frente ao uso, e não frente ao que foi consagrado na
norma-padrão (o que acabou agindo também como reforço de
disciplina)
Metodologia:Usamos de dois textos: uma crônica de Luís Fernando Veríssimo intitulada "Diminutivos", que demonstra com a peculiaridade do autor como funcionam os diminutivos de uma maneira mais sensível e irônica. Depois da leitura, houve perguntas relacionadas à interpretação do autor sobre os fenômenos da formação do diminutivo - permitindo também a discussão aberta sobre o texto - formando assim o gancho para a explicação teórica, usando da folha entregue aos alunos como base, que contemplou tanto a formação propriamente dita (sintático-semântica) quanto o seu respaldo no uso - o que estabeleceu um contraponto com o que é aprendido pela gramática normativa. Além disso, foi proposto um exercício, onde os alunos, baseados em figuras representativas de cada sentido visto, formariam frases com os diminutivos elencados naquela categoria. Não havia mais nenhuma exigência sobre a forma da frase, para preservar a criatividade da montagem.
Materiais: Cópias dos textos
"Diminutivos", de Luís Fernando Veríssimo, e da ficha teórica usada
como base para a discussão em sala de aula intitulada "Valores do
Diminutivo"
Anexos:
a) Texto:Sempre pensei que ninguém batia o brasileiro no uso do diminutivo,
essa nossa mania de reduzir tudo à mínima dimensão, seja um cafezinho,
um cineminha ou uma vidinha. Só o que varia é a inflexão da voz. Se
alguém diz, por exemplo, "Ô vidinha", você sabe que ele está se
referindo a uma vida com todas as mordomias. Nem é uma vida, é um
comercial de cigarro com longa metragem. Um vidão. Mas se disser "Ah
vidinha..." o coitado está se queixando dela, e com toda a razão. Há
anos que o seu único divertimento é tirar sapatos e fazer xixi. Mas nos
dois casos o diminutivo é usado com o mesmo carinho.
O francês tem o seu "tout petit peu", que não é um diminutivo, é um
exagero. Um "pouco todo pequeno" é muita explicação para tão pouco. Os
mexicanos usam o "poco", o "poquito" e -- menos ainda que o "poquito"
-- o "poquetín". Mas ninguém bate o brasileiro.
Era o que eu pensava até o dia, na Itália, em que ouvi alguém dizer que
alguma coisa duraria um "mezzoretto". Não sei se a grafia é essa mesma,
mas um povo que consegue, numa palavra, reduzir uma meia hora de
tamanho -- e você não tem nenhuma dúvida de que um "mezzoretto" dura os
mesmos trinta minutos de uma meia hora convencional, mas passa muito
mais depressa -- é invencível em matéria de diminutivo.
O diminutivo é uma maneira ao mesmo tempo afetuosa e precavida de usar
a linguagem. Afetuosa porque geralmente o usamos para designar o que é
agradável, aquelas coisas tão afáveis que se deixam diminuir sem perder
o sentido. E precavida porque também o usamos para desarmar certas
palavras que, na sua forma original, são ameaçadoras demais.
"Operação", por exemplo. É uma palavra assustadora. Pior do que
"intervenção cirúrgica", porque promete uma intervenção muito mais
radical nos intestinos. Uma operação certamente durará horas e os
resultados são incertos. Suas chances de sobreviver a uma operação...
sei não. Melhor se preparar para o pior.
Já uma operaçãozinha é uma mera formalidade. Anestesia local e duas
aspirinas depois. Uma coisa tão banal que quase dispensa a presença do
paciente.
[...]
No Brasil, usa-se o diminutivo principalmente em relação à comida. Nada
nos desperta sentimentos tão carinhosos quanto uma boa comidinha.
- Mais um feijãozinho?
O feijãozinho passou dois dias borbulhando num daqueles caldeirões de
antropófagos com capacidade para três missionários. Leva porcos
inteiros, todos os miúdos e temperos conhecidos e, parece, um
missionário. Mas a dona de casa o trata como um mingau de todos os
dias.
- Mais um feijãozinho?
- Um pouquinho.
- E uma farofinha?
- Ao lado do arrozinho?
- Isso.
- E quem sabe mais uma cervejinha?
- Obrigadinho.
O diminutivo é também uma forma de disfarçar o nosso entusiasmo pelas
grandes porções. E tem um efeito psicológico inegável. Você pode passar
horas tomando "cervejinha" em cima de "cervejinha" sem nenhum dos
efeitos que sofreria depois de apenas duas cervejas.
- E agora, um docinho.
E surge um tacho de ambrosia que é um porta-aviões.
b) Ficha "Valores do Diminutivo" (complementada aqui com a explicação resumida dada em sala de aula)
1. Atenuativo
- Uso para suavização de termos que podem ser tomados como agressivos,
desagradáveis, intensos ou que diminua sua importância frente a alguma
situação.
a. Semana que vem irei fazer uma operaçãozinha.
b. Você só tem que tomar uma injeçãozinha e já melhora
2. Afetivo -
Demonstra afetividade, carinho, contemplação amistosa
a. Mais um feijãozinho?
b. Lavamos o barco todinho.
c. Eu tenho uma filhinha.
3. Pejorativo
- Uso intenso da atenuação, geralmente com sentido de humilhação ou
desprezo
a. Aquela mulherzinha me desafiou.
b. Oh lugarzinho ruim...
c. Essazinha aí não tem educação.
4. Intensivo -
Como indicador de detalhismo, perícia, exagero (ironia)
a. O céu está azulzinho.
b. Hoje o mar está calminho.
c. A roupa já está sequinha.
5. Valor Pragmático
(não contemplado, apesar de sair no material - então foi feita uma
explicação mais básica, focando no sentido prático do uso de expressões
como "minutinho", "instantinho", etc.)
Programa Instituicional de Bolsa e Iniciação à Docência
Tema: Usos da Língua - Internetês
Tempo: Duas horas-aula
Objetivos: Reforçar os conceitos
de mudança e variabilidade como intrínsecos ao sistema linguístico -
além de discernir os fatores sociais que podem influir nesses
movimentos.
Metodologia: A tarefa proposta
(um texto ficcional criado nos "moldes do internetês", além dos debates
sobre o tema em sala de aula) foi como um elo entre a compreensão
efetiva de um fato da língua (até aqui, os alunos observaram que a
língua não funciona exatamente como ela é vista nas gramáticas
escolares, mas muda e evolui conforme o tempo, seu uso, sua
caracterização social ou cultural e que muitas coisas que ainda são
ensinadas como sendo corretas perderam totalmente a validade frente ao
que realmente está acontecendo - inclusive muita coisa que os próprios
alunos vivenciaram) e um ponto de discussão sobre a tarefa que viria a
ser desenvolvida a seguir - usando o "reconhecimento" do internetês -
grafia que acompanhou o crescimento informacional e tecnológico e preza
pelo imediatismo de sua compreensão -não como modalidade válida de
comunicação, inclusive com um funcionamento gramatical próprio, mas sim
como uma "degeneração irremediável da palavra escrita" -
desconsiderando o uso, a mobilidade e qualquer outro aspecto que
caracteriza essa variedade (inclusive as "escapadelas" em documentos de
vocábulos reduzidos - como o" vc", o "kd", o "pq", tratadas mais como
um problema do que um objeto de discussão) tornando isso um fato
patente, também, de como funciona o preconceito linguístico.
Materiais: Cópias dos exercícios
e da tabela de correção de textos narrativos proposta pelo grupo.
Anexos:
a) Exercício:
Crie uma narrativa, a partir do diálogo
da atividade sobre o “internetês”, levando em conta todos os critérios
de estruturação deste gênero textual apontados acima.
Não esquecendo que sua criatividade é o ponto chave desta construção
textual.
Obs.: Mínimo de 15 linhas e máximo de 30.
Programa Instituicional de Bolsa e Iniciação à Docência
Tema: Usos da Língua -
Preconceito e Estigmatização
Tempo: 02 horas-aula
Objetivos: Basificar as noções
de variedade e preconceito lingúistico, além de estimular a pesquisa e
a criação de uma consciência linguística propria
Metodologia: Uma das questões
mais pertinentes sobre o uso e o ensino da língua portuguesa é como
entender a estigmatização de diferentes variedades de uma língua,
classicamente frente a um modelo que conseguiu tornar-se padrão por
conta de uma certa importância - social, econômica, cultural, ou até as
três ao mesmo tempo. O atrito frequente entre essas variações (não pela
semelhança, mas pelas diferenças, que não são nada frente a organização
das variedades de uma mesma língua) não só gera arbitrariedades em como
se pensa e se executa o ensino e análise da língua nas escolas e na
sociedade, mas também dá vazão para outro problema, esse exclusivamente
(e infelizmente) humano, que toma a norma-padrão como expressão
máxima, indiscutível e perfeita do que é o domínio da língua, excluindo
e depreciando todas as demais, e, por extensão, seus falantes também: o
chamado preconceito linguístico. Nosso objetivo, ao fazê-los
notar tais particularidades, foi estabelecer as bases necessárias
para que o aluno, por si, começasse a realizar esse discernimento.
As atividades foram planejadas como a
maioria das outras atividades da sequência - tendo em vista
suscitar a discussão e principalmente a reavaliação de conceitos pelos
próprios alunos, principalmente de suas relações sociais com a língua,
dando mais base para que a compreensão dos fatos linguísticos surja da
pesquisa e não de uma arbitrariedade social.
Um dos veículos para isso foi o livro A língua de Eulália,
de Marcos Bagno que traduz muitos postulados da linguística (aliás,
existiram relatos de gente que já tinha tido contato com o livro,
embora isso, claro, não se verificasse na maioria dos alunos) - e leva,
no caminho, muitos argumentos do autor, como a sua visão do que é e
como funciona o preconceito linguístico, desenvolvidos de modo mais
funcional em seus outros trabalhos - numa linguagem mais acessível que
a maioria das publicações sobre o tema, sendo especialmente recomendado
para o público infanto-juvenil, além de alguns exercícios que tratariam
diretamente do tema.
- Com base nos quadrinhos de Chico Bento, criado pelo cartunista
brasileiro Maurício de Sousa, e do texto do livro de Bagno, comente
quais são as posições das personagens a respeito da Língua, ressaltando
principalmente as diferenças de opinião.
Materiais:
Anexos:
A história em quadrinhos abaixo demonstra uma situação comum em nossa vida: a diferença entre a língua que falamos e a língua considerada correta pela escola.
Ainda a respeito da mesma temática, foi extraído um capítulo do livro "A Língua de Eulália", de Marcos Bagno.
QUEM RI DO QUÊ?
Depois do almoço, que foi mesmo uma grande festa, Ângelo voltou ao trabalho e Eulália foi dormir sua sesta habitual da tarde. Vera, Sílvia e Emília saíram para passear pela chácara com Irene.
— A senhora tem um jardim deslumbrante, dona Irene! — comenta Sílvia, maravilhada diante dos canteiros de rosas e hortênsias.
— Para começar, deixe a “senhora” de lado e esqueça a “dona” também — diz Irene, sorrindo. — Já é um custo aguentar a Vera me chamando de “tia” o tempo todo. Meu nome é Irene. “Dona” Irene ou, pior, “Professora Doutora” Irene, eu cobro só de quem não gosto. Todas sorriem. Irene prossegue:
— Agradeço os elogios para o jardim, só que você vai ter de fazê-los para a Eulália, que é quem cuida das flores. Eu sou um fracasso na jardinagem. A Eulália, não, acho que tem um “dedo verde”. Basta alisar uma planta murchinha para ela ficar toda brejeira, verdinha e viçosa. Uma coisa impressionante.
— Foi ela também que preparou o almoço, não foi? — pergunta Emília.
— Foi — responde Irene. — Eu gosto de cozinhar, mas quando tem visita, a Eulália não me deixa chegar perto das panelas. Faz questão de preparar tudo sozinha. A maior glória para ela é quando alguém louva a comida que fez.
— Parece que a Eulália é mesmo muito prendada — comenta Sílvia.
— Prendada? Essa é boa! — ri Irene. — Menina, em que século passado você nasceu? Sílvia fica corada.
— Para dizer a verdade — prossegue Irene —, a Eulália é um poço sem fundo de conhecimento e sabedoria. Todo dia aprendo uma coisa nova com ela. Só de remédios caseiros, feitos com ervas medicinais, dava para encher uma enciclopédia. E como conselheira para momentos de angústia e depressão não conheço melhor psicólogo do que ela.
— Pode até ser — comenta Emília enquanto as quatro se sentam num grande banco de madeira sob um caramanchão. — Mas ela fala tudo errado. Isso para mim estraga qualquer sabedoria.
— Eu tive de me segurar para não rir quando ela disse aquelas coisas na mesa — acrescenta Sílvia.
— Que coisas? — quer saber Vera.
— Ah, sei lá... agora não me lembro — responde Sílvia.
— Eu me lembro — adianta-se Emília. — Ela disse “os probrema”, “os fósfro”, “môio ingrês”...
— É mesmo — confirma Sílvia —, e a mais engraçada foi: “percurá os hôme”...
Sílvia ri, e Emília a imita. Irene fica séria por alguns instantes. De repente, vira-se para
as duas moças e diz:
— Or tu chi se’, che vuoi sedere a scranna / Per giudicar da lungi mille miglia, / Con la veduta corta d’una spanna? Sílvia, Emília e Vera, tomadas de surpresa, ficam mudas.
— E então? Não querem rir também do que eu disse, como riram das coisas que a Eulália falou?
— Mas você falou em italiano — diz Vera.
— Se era italiano, por que devíamos rir? Eu não posso achar graça naquilo que não entendo — diz Emília.
— E por que você não entende? — pergunta Irene.
— Ora, porque não falo italiano — responde Emília.
— E o que é que você fala? — continua Irene.
— Eu falo português — diz Emília, já intrigada.
— E o que é o italiano para alguém que fala português? — quer saber Irene.
As moças param um instante para pensar. É Sílvia quem responde:
— É outra língua.
— Uma língua diferente — completa Vera.
— Muito bem — diz Irene. — Vocês não entenderam o verso de Dante que eu citei há pouco porque era italiano. Mas e se eu disser assim: “No mundo non me sei parelha, mentre me for’ como me vay, Ca já moiro por vos — e ay!”?
— Esse quase dá para entender, afinal é espanhol — diz Sílvia.
— Não senhora — corrige Irene. — É português.
— Português?! — espanta-se Emília.
— Português, sim, só que do século XII, Idade Média — explica Irene. E que tal alguma coisa assim: “Estou-me nas tintas se não te apetece uma bola de Berlim”?
— Vai me dizer que isso também é português? — duvida Sílvia.
— Claro que é, é português falado em Portugal. Significa: “Estou pouco ligando se você não gosta de comer sonho”.
Vera impacienta-se:
— Tia, aonde é que você quer chegar?
— Vocês não entenderam o Dante porque o italiano é diferente do português. Vocês não entenderam o português do século XII porque ele é diferente do português de hoje. E não entenderam o português de Portugal porque é diferente do português do Brasil.
— E o que tem isso a ver com a fala errada da Eulália? — pergunta Emília.
— A fala da Eulália não é errada: é diferente. É o português de uma classe social diferente da nossa, só isso — explica Irene.
— Para mim é errado — diz Emília.
— É errado dentro das regras da gramática que se aplicam ao português que você fala — diz Irene. — Mas na variedade não-padrão falada pela Eulália essas regras não funcionam.
— Variedade não-padrão? Que coisa é essa, tia? — pergunta Vera. Irene dá um suspiro, sorri e diz:
— Essa é uma história comprida, Vera, e não sei se dá para resumir aqui, no jardim, nesta tarde fria de julho, depois de ter comido tanto no almoço.
— Mas agora eu fiquei curiosa — diz Vera.
— Eu também — diz Sílvia.
— E eu mais ainda — diz Emília. — Quero ver a senhora... você me convencer que a Eulália não fala errado. Irene se levanta e diz:
— Vamos combinar o seguinte. Hoje à noite, a gente se reúne na sala, acende a lareira, se enrola nuns cobertores e bate um longo papo sobre este assunto. Por coincidência, eu estou mesmo preparando um livrinho que trata destes problemas. Vou aproveitar o resto da tarde para ler um pouco e lá por volta das oito horas a gente se encontra. Enquanto isso, Vera, leve as meninas para passear aqui pelos arredores. Combinado?
— Combinado — diz Vera.
— Antes eu quero saber o que foi aquilo que você disse em italiano...Irene sorri:
— São uns versos da Divina Comédia, de Dante. A tradução é difícil, mas significam alguma coisa como: “quem você, tão presunçoso, pensa que é para julgar de coisas tão elevadas com a curta visão de que dispõe”?
Emília e Sílvia se entreolham.
— É impressão minha, ou foi uma indireta? — pergunta Sílvia.
— Indireta nenhuma, querida — responde Irene, puxando Sílvia para junto de si e abraçando-a com carinho. — São uns versos bonitos que guardei de cor, só isso.
— E aquele português da Idade Média, o que era? — pergunta Emília.
— São os primeiros versos de uma cantiga de amor — responde Irene. —Essa cantiga é considerada o texto mais antigo escrito em língua portuguesa, data de 1189. É tão antiga que até hoje os filólogos discutem sobre o significado exato das palavras... Mas agora chega de conversa. Vão passear. Durante o passeio, aproveitem para pensar na resposta que vocês dariam à seguinte pergunta: “Quantas línguas se fala no Brasil?” Não digam nada agora. À noite a gente se vê.
Autores: Anderson Chcrobut, Franciele da Cruz, Leandro Toporowicz, Nathália Barbosa Alves dos Santos, Sueelem Witsmiszyn