No texto “Escrita, efeito de memória e produção de sentidos” do livro Questões de Escrita organizado por Carme Regina Schons, Tânia M. K. Rösing – Passo Fundo Editora Universitária – 2005. Carme Regina Schons traz a relação entre a memória e o ato de escrever. Relação esta que segundo a autora, é parte essencial para que o texto represente “possibilidades na ordem dos sentidos” (p. 138). Ou seja, a memória- auxiliar que o sujeito – leitor traz consigo, de leituras passadas, é utilizada para formar novas (re) escritas e serve de base para o sujeito- leitor situar seu caminho de leitura e sua interpretação. Desta forma, o ato de repetir está relacionado diretamente ao ato de escrever e também ao diálogo, já que toda a nossa comunicação se dá através da elocução de leituras, ideologias e conhecimentos históricos/ sociais que acumulamos no decorrer de nossas vivências. Mas este ato de repetição não é a cópia, é sim a nossa bagagem de interpretação e memória refletindo em nossa escrita e assim, tornando- se “uma prática única” (p. 140). Schons ressalta também o ato da reescrita como uma necessidade do homem “assim como a linguagem, somos permanentemente incompletos”, (p. 141) e por isso a nossa necessidade de (re) transmitir, (re) escrever, num ciclo interminável ao longo da existência. Isto leva a autora a se questionar como regular sentido de naturezas tão diversas em práticas de linguagens uniformizantes. Para tanto, a mesma entende a escrita como: “trabalho da memória, como uma prática política, entrando aí os modos particulares do fazer linguagem como constitutivo de espaços sociais e de constituição de identidades individuais e coletivas” (p. 141). Nesta concepção, a escrita é vista numa perspectiva discursiva, que é da incompletude, que tem memória e historicidade, já que um texto não produz sentidos apenas pela sua estrutura. Portanto, para que o sujeito- autor produza um texto com efeito de sentidos, é necessário pensar o processo de construção levando em conta não só suas especificidades, mas também, as especificidades do sujeito- leitor, já que este também traz suas experiências de leitura e sua história. Desse modo, a estrutura por si só e a palavra unicamente, não são capazes de sozinhas levarem o sujeito – autor a produzir os efeitos de sentido que deseja, tendo em vista o poder de sentidos que a própria palavra tem. Porém, ainda que a palavra detenha esta qualidade, “a linguagem é regulada, pois não se diz o que se quer em qualquer situação e de qualquer maneira” (p. 143). Por isso, há várias formas de expor suas palavras, opiniões e de reprodução dos discursos, cabendo ao sujeito- autor escolher qual o melhor a ser utilizado em sua produção para atingir o seu objetivo maior que é a interpretação do sujeito – leitor. Mas para que esta comunicação se realize de fato entre sujeito – autor e sujeito – leitor é necessário que a escola esteja preparada e preocupada com a formação de sujeitos- autores, estes que segundo Schons são aqueles “que tendo o domínio de certos mecanismos discursivos, diante da escola ou fora dela, assumem, pela linguagem, seu papel na ordem social em que estão inseridos” (p. 144). Sendo assim, a escola deve preparar- se para ouvir os educandos e disposta a fazê – los exporem suas ideias e opiniões estimulando a leitura, não só a de livros, mais também a de textos como, crônicas e afins, desenvolvendo desta maneira os sujeitos – leitores que, trazendo sua bagagem de memória e interpretação, ao efetuarem sua leitura “repetem não o texto, que ilusoriamente, deu origem, a essa reescrita, repetem não o discurso de um sujeito- autor, mas sob o efeito do interdiscurso, repetem os discursos que ignoram ser da ordem do já – dito” (p. 145). Assim, tanto sujeito – autor quanto o sujeito – leitor utilizam – se da repetição como aliada para a construção de um sistema abstrato que se dá através da “língua [que] é reconhecida por sua opacidade e pela forma como nela intervêm a sistematicidade e o imaginário” (p. 149). Desta forma, memória – auxiliar, interpretação, repetição, historicidade, participação de outros textos/ discursos fazem parte da constituição dos sujeitos e dos sentidos que um texto pode ter, ainda que o próprio espaço do texto seja simbólico. Assim sendo, é importante que a instituição de ensino e os professores compreendam que a estrutura pela estrutura e/ou a palavra pela palavra não ocasionam sentido algum ao texto, e que o retorno, a repetição trazem sim, uma (re) significação, um novo sentido, que muito provavelmente o texto base não tinha, e cabe aos professores, com um novo olhar sobre o texto, como sujeitos – leitores que o são observarem além da forma e verem o funcionamento do texto, onde “a repetição pode ser repetição mesmo, ou não” (p. 154). Afinal como afirma Schons “o sentido não depende só da estrutura, mas das condições de produção” (p. 154). Condições estas que são as oportunidades para que cada educando sendo estimulado à leitura de diversos gêneros – textuais, e tendo respeitada suas especificidades, possa assim construir sua própria identidade para que a partir daí torne – se sujeito – autor e sujeito – leitor do mundo. (Resenhado por Sueelem Witsmiszyn)

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