Pedagogia 1 > Posts > AS TECNOLOGIAS DIGITAIS NO PROCESSO EDUCATIVO DO ENSINO FUNDAMENTAL: PROPICIANDO O ABRIR DE NOVOS HORIZONTES
As tecnologias digitais no processo educativo do ensino fundamental: propiciando o abrir de novos horizontes
Autora: Dulce Dirclair Huf Bais[1]
Coautoras: Mariana Parmigiani de Paula e Roberta Anselmo da Silva[2]
Trabalho apresentado no V Encontro Nacional das Licenciaturas e IV Seminário Nacional do PIBID, na forma de comunicação oral e texto completo.
Resumo – O projeto “Tecnologias Digitais e Formação de Professores: integração curricular de diferentes ferramentas para a aprendizagem no ensino fundamental”, vinculado ao Projeto Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID), foi desenvolvido numa escola municipal de Curitiba-PR, com o objetivo de usar as tecnologias de informação e comunicação (TIC) como recursos educacionais. As TIC integram o processo educativo, presente dentro e fora da escola, dialogando com realidades distintas e abrindo de novos horizontes. Alencar (2012) aponta o papel do professor no uso das TIC no processo ensino-aprendizagem, destacando que, ao considerar o contexto socioeducacional discente, as TIC representam uma forma de mediação na prática pedagógica. Os objetivos norteadores do projeto visaram o desenvolvimento do pensamento crítico-reflexivo no uso das TIC na escola. A estrutura tecnológica da escola serviu como suporte no desenvolvimento das atividades, em laboratório de informática com acesso a internet, netbooks e internet Wi-fi de acesso aberto e gratuito. O projeto iniciou com discussão coletiva, a partir da realidade discente. As atividades propostas contemplaram os diferentes eixos da formação humana. As crianças aprenderam a usar as TIC para a localização espacial e para pesquisar e filtrar conteúdos, oportunizando momentos de discussão e reflexão sobre o uso das tecnologias no cotidiano. O projeto teve oito licenciandos, atendendo alunos do 3° ao 5° ano do ensino fundamental. As demandas específicas e a formação do público-alvo foram essenciais para o direcionamento das atividades discentes. Enquanto cada grupo debatia, revia, construía e recriava seus conhecimentos, a troca de experiências expostas pelos corredores da instituição enriquecia os planejamentos. Ao final do ano, cada turma construiu um blog com os resultados das atividades realizadas. Houve grande envolvimento dos estudantes no projeto e a aproximação dos docentes com as TIC, desmistificando a visão de inacessíveis e distantes do planejamento, sendo recurso a favor da aprendizagem.
Palavras-chave: Tecnologias de informação e comunicação. Recursos educacionais. Blog educacional.
1 INTRODUÇÃO
Apesar do grande avanço tecnológico dos tempos atuais, o uso das tecnologias da informação e comunicação (TIC) é, ainda, um desafio para professores e alunos dos cursos de licenciatura, no sentido de levar as TIC para dentro da sala de aula como recursos educacionais. A pretendida qualidade na escola engloba o uso das TIC no processo educativo, considerando a familiaridade que a geração atual, nativas digitais, possui com as tecnologias, exigindo que a escola se aproprie de habilidades inovadoras que, de acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica (BRASIL, 2013, p. 22), devem ser “fundamentadas na capacidade para aplicar técnicas e tecnologias orientadas pela ética e pela estética.”
Este trabalho resultou de um projeto intitulado “Tecnologias Digitais e Formação de Professores: integração curricular de diferentes ferramentas para a aprendizagem no ensino fundamental”, vinculado ao Projeto Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID), desenvolvido por alunos do curso de pedagogia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), através do PIBID-UFPR, no subprojeto Pedagogia 1, ao longo do período letivo de 2013. O desenvolvimento do projeto envolveu alunos dos 3° ao 5° ano de uma escola da rede municipal de ensino de Curitiba-PR.
Reconhecendo que a qualidade na escola resulta da participação coletiva, norteada pelo princípio educacional da responsabilidade social, na tentativa de superar a distância existente entre as TIC disponibilizadas no tempo atual e os recursos tradicionais ainda adotados pela escola de hoje, este projeto teve como elemento propulsor o estímulo à criatividade e à inovação na seleção e no uso de recursos tecnológicos de informação e comunicação. Desse modo, o uso das TIC neste projeto foi estabelecido como um processo de dinamização dos ambientes de aprendizagem, buscando a consolidação de novas práticas didático-pedagógicas, através da proposição de atividades de estudo com o uso das TIC como recursos educacionais.
Os objetivos que nortearam o projeto visaram o desenvolvimento do pensamento crítico-reflexivo no uso das TIC e a apropriação das tecnologias como recursos educacionais. A estrutura tecnológica da escola serviu como suporte para o desenvolvimento das atividades que, por sua vez, contemplaram os diferentes eixos da formação humana, pautados pelos princípios éticos, estéticos e políticos.
2 Fundamentação Teórica
O reconhecimento do homem como um animal sociável por natureza constitui um princípio aristotélico perpetuado ao longo dos séculos. Para Aristóteles (1966, p. 11), o homem só atinge a sua plenitude política através do convívio social, devendo viver em sociedade para se construir socialmente. Segundo Alencar (2012, p. 65), “o homem além de ser social é comunicativo, além da fala, utilizou-se de vários meios para manter a sua comunicação [sinais, desenhos, símbolos, sons, etc].” Nos meios digitais, essas proposições se mantêm, sabendo que a comunicação possui uma linguagem característica, visando sempre a construção de um espaço de socialização.
Atualmente, com o advento da internet, é possível em poucos segundos conectar-se com diferentes sujeitos em qualquer lugar do mundo. Com apenas um “click”, o acesso à informação está na palma das suas mãos. Como previa Herbert McLuhan (apud. Gadotti, 2003, p.15), “na década de 60, o planeta tornou-se a nossa sala de aula e o nosso endereço. O ciberespaço rompeu com a ideia de tempo próprio para a aprendizagem. O espaço da aprendizagem é aqui, em qualquer lugar; o tempo de aprender é hoje e sempre.” No entanto, é preciso reconhecer que essa amplitude que o livre acesso à internet oferece, quando no uso indiscriminado dos recursos tecnológicos, representa um grande risco à plenitude do ser social, se utilizada de forma irracional, na reprodução de saberes sem o questionamento crítico ou a preocupação com a veracidade das informações apresentadas.
Em meio a essas realidades tecnológicas disponíveis nos tempos atuais, é possível ouvir alguns questionamentos sobre a real necessidade de existir professores, uma vez que um sítio eletrônico é capaz de responder os questionamentos dos estudantes. No entanto, apesar das facilidades tecnológicas, o papel do professor é indispensável, pois cabe a ele a função de mediar as relações entre o acesso a informações e a construção do conhecimento. Nesse sentido, Freire e Guimarães (2011, p. 45) assim se expressam:
a questão que se colocaria não era o fim da escola, a morte da escola. Para mim, é a demanda de uma escola que estivesse à altura das novas exigências sociais, históricas que a gente experimenta. Uma escola que não tivesse, inclusive, medo nenhum de dialogar com os chamados meios de comunicação.
Portanto, a ação de ensinar e aprender assume hoje uma nova forma capaz de dialogar e horizontalizar as relações entre alunos e professores em busca de uma aprendizagem significativa e sem imposição de verdades, uma vez que ambos são agentes construtores de conhecimentos. Porém, para que estudantes e professores possam se apropriar dessas ferramentas é fundamental que se rompa a barreira da simples instrumentalização e que as tecnologias se tornem como objeto de estudo de forma crítica.
2.1 CONHECENDO AS TIC
Segundo Pinto e Cabrita (2005, p. 498), os termos: tecnologia, informação e comunicação se sustentam isoladamente. No entanto, as “novas” tecnologias representam o diálogo entre esses três domínios.
As TIC surgem como o conjunto de tecnologias que permite a aquisição, produção, armazenamento, tratamento, comunicação, registo e apresentação de informações, de forma rápida e em grande quantidade, em forma de voz, imagens, e dados contidos em sinais de natureza acústica, óptica, ou electromagnética.
Para Zanela (2007, p. 25), TIC “compreende o conjunto de tecnologias microeletrônicas, informáticas e de telecomunicações, que produzem, processam e transmitem dados em formas de imagens, vídeos, textos ou áudios”. Desse modo, observa-se que não é exclusividade da educação o uso das TIC. No entanto, para Kenski (1996) as TIC podem ser consideradas como elementos estruturantes de um novo fazer pedagógico. Parada (2013, p. 6), por sua vez, aponta as TIC como a relação entre homem, computador e máquina, esclarecendo que,
Em termos sucintos, as Tecnologias de Informação e Comunicação perfazem, deste modo, o somatório das ferramentas, métodos e procedimentos a utilizar pelo Homem, implicados na recepção e no armazenamento de informação, que é a sua matéria-prima, assim como no tratamento, transformação e transmissão desses conteúdos informativos através de computadores. Destacam-se, assim, três elementos fundamentais no contexto das TIC, nomeadamente: 1) o Homem, que emite e/ou recebe a informação; programa e administra o aparelho eletrônico; 2) o computador, que é esse instrumento que, mediante instruções prévias, processa os dados 3) e a informação, que pode apresentar múltiplos conteúdos e assumir diversos formatos: texto, áudio, vídeo, entre outros, por vezes combinando vários formatos num único documento.
É indiscutível a relevância das no cotidiano da sociedade atual, em constante evolução no aprimoramento e na sofisticação. Alencar (2012, p. 66) relata que “as tecnologias de informação e comunicação convencionais foram sendo substituídas gradativamente pelas novas tecnologias de informação e comunicação, nos mais variados aspectos e setores da vida humana.”
Bastos (2010) ao apresentar as “velhas TIC” indica que a história de inclusão de TIC na educação da América Latina conta com um percurso de 40 anos, iniciada no final de 1960 com o uso de rádios e televisão em sala de aula como recursos educativos. Para Alencar (2012, p. 67), “as novas tecnologias de informação e comunicação, cada vez mais sofisticadas, intensificam o pensamento complexo, interativo e transversal, criando novas formas de lidar com o que pode ser gerado, recuperado, acessado, administrado, disponibilizado e utilizado”.
2.2 O USO DA TECNOLOGIA NO CONTEXTO ESCOLAR
Com o advento dos recursos tecnológicos a fim de facilitar o desenvolvimento das atividades diárias, além de dispor ao simples toque de um dedo, de qualquer canto do planeta, todas as informações em tempo real, e facilitar a comunicação entre os sujeitos, faz-se necessário (re)pensar as várias dimensões e possibilidades do uso pedagógico destas novas tecnologias.
Ao referir-se às “novas” tecnologias como instrumentos favoráveis à ação pedagógica, não se exime a utilização dos recursos anteriormente pensados para facilitar a vida humana, visto que, segundo Alencar (2012) todas as épocas possuem suas tecnologias próprias que atuam como um fator de produto e de mudança social, buscando mecanismos que facilitem sua sobrevivência e afetam diretamente no desenvolvimento humano.
Propõem-se nesse caso, o uso concomitante destes recursos, buscando suprir as necessidades dos sujeitos e contemplar suas variações. Isso significa que “novas” e “velhas” tecnologias podem ser usadas simultaneamente pelo mesmo usuário, de modo que não haja uma ruptura entre elas. Incluir tecnologias no contexto escolar, não significa, portanto, deixar de utilizar os materiais didáticos e demais recursos que fundamentam a prática docente e sim, conviver com os tradicionais cadernos, livros, mapas e demais materiais, ao passo que se ampliam as possibilidades de aprendizagem com a inserção de novos recursos.
Nas Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica (BRASIL, 2013, p. 22), a abordagem da organização curricular dirigida a alunos da era digital contempla as TIC, assim enfatizando:
As tecnologias da informação e comunicação constituem uma parte de um contínuo desenvolvimento de tecnologias, a começar pelo giz e os livros, todos podendo apoiar e enriquecer as aprendizagens. Como qualquer ferramenta, devem ser usadas e adaptadas para servir a fins educacionais e como tecnologia assistiva; desenvolvidas de forma a possibilitar que a interatividade virtual se desenvolva de modo mais intenso, inclusive na produção de linguagens. Assim, a infraestrutura tecnológica, como apoio pedagógico às atividades escolares, deve também garantir acesso dos estudantes à biblioteca, ao rádio, à televisão, à internet aberta às possibilidades da convergência digital.
São evidentes os benefícios que o avanço tecnológico pode proporcionar à prática educativa, porém, incorporar e fazer uso das TIC na educação e, especificamente no contexto escolar, é uma tarefa complexa, que demanda da organização de todos os sujeitos envolvidos. Para que o processo de mudança não se atenha apenas ao espaço físico da sala de aula, é necessário que seja mais que uma demanda pedagógica, que compreenda uma ação política, administrativa e cultural. Portanto, a tarefa de desenvolver uma cultura que incorpore as TIC às práticas escolares, não é incumbência única do professor.
O uso das TIC na educação exige competências muito específicas, principalmente no que se refere ao domínio das questões técnicas que envolvem esse processo, tornando fundamental uma formação capaz de acompanhar estas necessidades. Cabe aos professores e pedagogos dialogar os saberes técnicos e pedagógicos para que a aprendizagem ocorra de forma significativa. Segundo Valente (2005, p. 23), “o domínio do técnico e do pedagógico não deve acontecer de modo estanque, um separado do outro. (...) O melhor é quando os conhecimentos técnicos e pedagógicos crescem juntos, simultaneamente, um demandando novas ideias do outro.”
Nessa perspectiva, todos os sujeitos envolvidos tornam-se responsáveis pelos resultados da inserção das tecnologias de informação e de comunicação no processo pedagógico. Apesar de não ser o único responsável, o papel do professor é fundamental na utilização e mediação destes recursos. Segundo Cortelazzo (s.d) é necessário que o professor não perca o controle da tecnologia que precisa, ou que se dispõe a utilizar. É de suma importância que ele domine estes recursos e ensine os alunos a manipulá-los, sem que se deixem manipular por eles.
Para Gadotti (2003, p. 32), devido os avanços das novas tecnologias, “elas precisam ser selecionadas, avaliadas, compiladas e processadas para que se transformem em conhecimento válido, relevante e necessário para o crescimento do homem como ser humano em um mundo sustentável”.
Deste modo, Cortelazzo (s.d) evidencia que, para que o professor se torne um profissional habilitado para o uso adequado das novas tecnologias, é necessário que ele saiba da sua existência, que se aproxime das mesmas, familiarizando-se com elas e apropriando-se de suas potencialidades. É fundamental que o professor saiba controlar seu uso e possa com isto, criar novos saberes e novos usos, mostrando-se, de fato, no controle das mesmas e desta forma possa orientar seus alunos. Com isso, torna-se decisiva a influência da formação desses profissionais, para que se efetive a utilização das TICs no contexto escolar.
2.3 AS TIC E A FORMAÇÃO PARA AUTONOMIA E CRITICIDADE
Visando constituir uma relação harmônica entre a escola e este mundo em constante transformação, se faz necessário buscar ferramentas que favoreçam o processo de ensino-aprendizagem e solidifiquem uma prática educativa libertadora, que compreenda o aluno como protagonista deste processo. Nesse sentido, as TIC são um excelente recurso, pois a sua utilização consciente, permite ao professor potencializar o desenvolvimento da criatividade, do espírito crítico e da pesquisa, facilitando o entendimento dos conteúdos escolares e favorecendo a aprendizagem.
O uso das TIC, de forma consciente e integrada, possibilita aos estudantes, a partir da pesquisa, selecionar assuntos diversos segundo seus interesses, ampliando os olhares de um mesmo conteúdo – processo fundamental na emancipação dos sujeitos e a formação de um cidadão crítico e reflexivo. De acordo com Cortelazzo (s.d.), é urgente a necessidade de incorporar (efetivamente) estes novos recursos à prática docente. Segundo a autora,
a urgência se deve não apenas no sentido de preparar os indivíduos para usá-las, mas principalmente, para prepará-los como leitores críticos e escritores conscientes das mídias que servem de suporte a essas tecnologias. Não basta ao cidadão, hoje, aprender a ler e escrever textos na linguagem verbal. É necessário que ele aprenda a ler outros meios como o rádio, a TV, o videogame, o programa de multimídia, o programa de computador, as páginas da WWW. Ao usar as tecnologias, é fundamental que ele não se deixe usar. (CORTELAZZO, s.d., p.01)
Se utilizadas de modo significativo, as tecnologias possibilitam o enriquecimento das aulas, tendo o professor, a disponibilidade de trabalhar com uma grande gama de materiais, dentre eles imagens, vídeos, sons e informações atualizadas. Estes recursos permitem ilustrar a explicação de conteúdos de difícil compreensão, possibilitando uma aprendizagem de maneira concreta.
3 O PROJETO
3. 1 CARACTERIZAÇÃO DA INSTITUIÇÃO
O projeto “Pedagogia 1” foi desenvolvido em uma escola da rede municipal de ensino, localizada no bairro Tingui em Curitiba-PR. A instituição atende estudantes residentes no entorno da escola e, por estar próxima à área limítrofe de Curitiba com o município de Colombo, atende também estudantes daquele município.
Conforme dados apresentados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (INEP), o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) da escola contempla anualmente as metas projetadas, atingindo o índice de 6,6 em 2013.
No que se refere à estrutura voltada às tecnologias, a escola conta com internet wi-fi de livre acesso, possui um laboratório de informática com computadores desktop, telão e aparelho de projeção e um número significativo de netbooks, com armários adequados para o armazenamento e carregamento de energia. A escola conta também com uma televisão por sala, além de um sistema integrado de rádio e vídeo.
Evidenciou-se, porém, durante o projeto, que apesar de disponíveis, estes recursos eram raramente utilizados para fins pedagógicos, dificultando a integração destas ferramentas ao cotidiano escolar. O laboratório de informática era visto por muitos
3.2 PIBID – PEDAGOGIA 1
O Projeto PIBID Pedagogia 1 da Universidade Federal do Paraná (UFPR) teve por propósito integrar as tecnologias digitais, promovendo possibilidades de aprendizagem que ultrapassassem a limitada carga horária destinada ao estudo das tecnologias educacionais presentes no currículo da universidade. Durante o ano de 2013, o projeto contou com a participação de oito licenciandos, acadêmicos do curso de Pedagogia da UFPR.
Os licenciandos desenvolveram as atividades do projeto em três turmas da instituição, do 3° ao 5° ano do ensino fundamental. Os objetivos norteadores do projeto foram delimitados durante reuniões com a presença da orientadora e da supervisora do projeto, realizadas na universidade. Na delimitação dos objetivos foi considerada a realidade da instituição e, com base no exposto, definiu-se como produto final de todo o desenvolvimento das atividades, a criação de um blog para cada turma.
Este recurso serviria como ferramenta de registro das pesquisas e resultaria na construção coletiva de um espaço destinado à comunicação e à partilha de experiências, tornando este processo ainda mais dinâmico. Apesar da presença de um projeto que orientasse o trabalho, cada turma apresentou características e demandas muito específicas, que acabaram por direcionar as práticas pedagógicas por caminhos distintos.
Conforme apresentado anteriormente, ao utilizar-se das tecnologias educacionais é preciso romper as barreiras do instrumentalismo e tornar estas ferramentas um objeto de estudo, objetivando que os estudantes não sejam meros receptores dessas informações, mas desenvolvam a capacidade da analisar criticamente os conteúdos pesquisados. Desse modo a primeira atividade realizada com os estudantes foi uma dinâmica, na qual cada um deveria apresentar ao grande grupo o que consideravam como tecnologia. O direito à palavra só seria concedido a quem detivesse em mãos a ponta de um barbante que pertencia a um grande rolo, ao término de sua fala, o estudante deveria então, segurar uma das partes do barbante e jogar o rolo, para que outro colega pudesse apresentar a sua concepção, e assim sucessivamente até que todos tivessem a oportunidade de falar. Após todos explanarem sobre seus conceitos foi criada uma grande teia com o cordão.
A partir de um diálogo sobre o objetivo da atividade, os estudantes puderam perceber a importância da comunicação e ao relacionar esta proposta com a internet, levantou-se a preocupação com a ética uma vez que o conteúdo proferido por uma única pessoa afetou a todos da rede.
Considerando as tecnologias como um recurso educacional capaz de auxiliar o diálogo entre as diferentes disciplinas tornando o ensino menos segmentado, optou-se durante a reunião dos licenciandos por um tema que pudesse contemplar diferentes eixos de pesquisa: a cultura de diferentes países. No entanto, antes de compreender o mundo era fundamental que os estudantes se apropriassem do espaço que ocupavam partindo da micro para a macro realidade. O recurso utilizado foi o Google Street View e o Google Earth pela facilidade do acesso e a riqueza de informações no aspecto geográfico.
Após desenvolverem o conceito de espaço os estudantes iniciaram o processo de pesquisa para registro no blog. Considerando as diretrizes e as demandas de cada turma as metodologias e objetos de pesquisa foram diferenciados. Os estudantes do 5° ano realizaram uma série de pesquisa sobre a geografia do Paraná. Os alunos recebiam cartas de um mascote escolhido pelos próprios alunos, contendo informações sobre alguma cidade, complementadas por pesquisas de dados sugeridos pelos alunos e pela identificação da localização da cidade pesquisada.
Atividade idêntica foi desenvolvida pelos alunos do 4° ano, utilizando como recurso educacional a busca de vídeos na internet e a projeção coletiva dos mesmos, seguida por debates mediados pelos acadêmicos-licenciandos do ensino fundamental.
Os alunos do 3° ano realizaram uma votação para decidir qual país seria objeto de pesquisa. O Brasil foi o país escolhido pela maioria dos estudantes. A partir de três perguntas norteadoras: “ o que sabemos sobre?”, “o que gostaríamos de saber sobre?” e “ o que descobrimos sobre?” os estudantes puderam apresentar suas dúvidas e de forma coletiva limitaram o objeto de estudo da pesquisa. A turma foi dividida em três grupos para facilitar a mediação dos licenciandos, observou-se a grande dificuldade em se trabalhar em grupo e construir de maneira coletiva. Os estudantes utilizaram as TIC visualizando vídeos com danças folclóricas e durante o período de pesquisa. Cada grupo construiu um material e apresentou a toda turma os resultados obtidos.
Durante as atividades realizadas foi possível observar a dificuldade dos estudantes em trabalhar de forma colaborativa e de debater ideias com um grande grupo. No entanto, o foi uma grande satisfação, perceber a aproximação dos estudantes e professores com as tecnologias considerando-as como recursos educativos a favor da aprendizagem.
Reflexões Finais
Encarar a realidade do ensino público constitui uma experiência gratificante, criando possibilidades de acertos, confirmados pelo envolvimento e motivação dos estudantes na implementação de projetos de iniciação docentes, tanto para os alunos-licenciandos como para os alunos-aprendizes do ensino fundamental.
Vale lembrar que, em projetos dessa natureza todos são aprendizes e sujeitos abertos a novos horizontes. Eventuais dificuldades se constituem em oportunidades de crescimento profissional e aprendizagem de vida, desafiando a criatividade na busca de outros recursos para a garantia de bons resultados na concretização de projetos inovadores.
A experiência de acadêmicos licenciandos, integrando um projeto de iniciação à docência, revelou a possibilidade de auxiliar na superação de algumas lacunas dos cursos de licenciatura, no que se refere ao diálogo constante e enriquecedor da teoria com a prática. Para as professoras, atuando como orientadora e supervisora, o PIBID constitui uma oportunidade de formação continuada, favorecendo a revisão constante das práticas e a busca de novos horizontes teóricos para fundamentar a prática.
Resumindo, é a partir das vivências que o professor se constrói, conhece e compreende as especificidades dos sujeitos envolvidos no processo educativo de busca pelo conhecimento, fundamentado nos princípios éticos, estéticos e políticos.
The Use of Digital Technologies in the Process of Elementary Education: Creating the Chance to Open New Horizons
ABSTRACT – The project “Digital Technologies and Training for Teachers: a curriculum integration by adding different tools during the learning process in elementary education”, is linked to the Institutional Project of Scholarship for Teaching Initiation (PIBID - Projeto Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência), and was developed in a local school in Curitiba-Parana-Brazil, with the goal of using information and communication technologies (ICT) as educational resources. ICTs are an important part of the educational process, inside and outside the school, bringing all the different realities together in order to open new horizons and possibilities. Alencar (2012) points out the Teacher’s role when using ICT during the teaching-learning process, noting that when considering the student social-educational context, ICT represents a form of ‘mediation’ in the pedagogical practice. The guiding objectives of the project aimed at the development of critical-reflective thinking in the use of ICT in school. The technological structure in the school played an important role in supporting the development of the activities in the computer lab, with free internet access, netbooks and open free Wi-fi. The project started with open group discussions, focusing on the students’ reality. The proposed activities focused on the different elements of human formation. The children learned to use ICT for spatial location, to search and filter content, creating opportunities to discuss and reflect on the use of technology in everyday life. The project had eight fellow students registered, to teach students from 3rd to 5th year of elementary school. The specific demands and the formation of a target audience were essential for creating and targeting the activities. As the groups were discussing, rethinking, building and recreating their knowledge, the experiences exchanged outside the classroom among the students added immensely to the planning process. At the end of the year, each group built an educational Blog to publish the results of the activities undertaken. There was a great involvement by the students in the project, and also a great approach by the Teachers towards ICT, demystifying the vision of something inaccessible and far from planning, making it a real resource of the learning process.
Key-words: Information and Communication Technology. Educational Resources. Educational Blog.
REFERÊNCIAS
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[1] Professora Adjunta da Universidade Federal do Paraná. Coordenadora de Projeto do PIBID-UFPR.
[2] Acadêmicas do Curso de Pedagogia da Universidade Federal do Paraná. Bolsistas PIBID-UFPR.
* Rua General Carneiro, 460 – Edifício D. Pedro I – 5º andar – Sala 508C – CEP 80.060-150. Curitiba – PR
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