EDUCAR COM MÍDIAS: UM DIÁLOGO COM PAULO FREIRE

Mariana Parmigiani de Paula[1]

Roberta Anselmo da Silva[2]

Orientadora: Dulce Dirclair Huf Bais[3]

Trabalho apresentado no II Seminário Estadual PIBID do Paraná, na forma de comunicação oral e texto completo.

 

Resumo

Este trabalho integra o subprojeto Pedagogia1, intitulado “Tecnologias Digitais e Formação de Professores: integração curricular de diferentes ferramentas para a aprendizagem no ensino fundamental”, vinculado ao Projeto Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência da Universidade Federal do Paraná (PIBID-UFPR), desenvolvido numa escola pública municipal de Curitiba-PR, cujo objetivo central consiste em utilizar as tecnologias digitais como recursos educacionais no processo ensino-aprendizagem nos primeiros anos do ensino fundamental. No desenvolvimento deste projeto, buscou-se dialogar entre a realidade das atividades desenvolvidas no subprojeto e os diálogos de Paulo Freire com Sérgio Guimarães que apontam para a importância da escola perante os meios de comunicação de massas e o ensinar a ler o mundo e a transformá-lo. Trata-se de um projeto em curso, permitindo neste momento apenas uma reflexão sobre os resultados até aqui conquistados.

 

Palavras-chave: Mídia. Educação. Paulo Freire. Educação transformadora.

Introdução

Atualmente é inconcebível desconsiderar as tecnologias digitais e os meios de comunicação de massas no processo educativo. Em um mundo cada vez mais conectado, com um ‘massacre’ de informações e estímulos oriundos de diversos meios de informação e comunicação, a escola surge como um espaço político cultural que permite o debate, a fim desenvolver um olhar crítico dos sujeitos perante a utilização desses recursos.

Nesse cenário, as mídias aplicadas à educação, além de integrarem parte da formação inicial e continuada dos professores, constituem uma ferramenta eficaz no processo do ensino e da aprendizagem para a apropriação crítica e criativa de novos saberes em todas as modalidades de ensino. Tais aspectos embasaram o desenvolvimento do projeto “Tecnologias Digitais e Formação de Professores: integração curricular de diferentes ferramentas para a aprendizagem no ensino fundamental”, em uma escola pública municipal de Curitiba-PR, integrando o Projeto Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência da Universidade Federal do Paraná (PIBID-UFPR), unindo “a formação docente e a prática educativo-crítica” (FREIRE, 2013, p. 23), entre alunos-bolsistas do curso de Pedagogia e alunos dos anos iniciais do ensino fundamental.

Na execução deste projeto, o diálogo com Paulo Freire teve início com o cuidado de, através do uso das tecnologias digitais no ensino, “não apenas ensinar os conteúdos, mas também ensinar a pensar certo” que, na concepção freireana, envolve “não estarmos demasiado certos das nossas certezas” (FREIRE, 2013, p. 28-9). Desse modo, o ‘pensar certo’ abre a possibilidade para o diálogo como “exigência existencial, [...] o encontro em que se solidarizam o refletir e o agir de seus sujeitos, endereçados ao mundo a ser transformado e humanizado” (FREIRE, 1987, p. 79).

Para Bévort e Belloni (2009, p. 1083), o uso das tecnologias digitais na educação, referido pelas autoras como mídia-educação, constitui “um elemento essencial dos processos de produção, reprodução e transmissão da cultura, pois as mídias fazem parte da cultura contemporânea e nela desempenham papéis cada vez mais importantes para sua apropriação crítica e criativa” O conceito de cidadania, na visão de Freire (2001, p. 129), “vem casado com o conceito de participação, de ingerência nos destinos históricos e sociais do contexto onde a gente está”.

Desenvolvimento

Mídias como um agente educativo

Com o advento das mídias, o acesso à informação se tornou cada vez mais rápido, eficiente e capaz de abranger um maior número de pessoas. O peso social e ideológico que esses meios representam não deve ser desconsiderado pela escola, mas servir como objetos de estudo, debate e compreensão, a fim de que tais recursos não sejam apenas mais uma forma de transferência e reprodução de saberes. Esse conjunto de recursos oriundos da mídia, através da qual chegam aos estudantes diversas informações e conhecimentos de fora da escola, faz parte da escola paralela.

Esses novos canais de educação, que os professores não controlam são massivamente frequentados pelos alunos. Qualquer que seja a opinião que se formule em face deles, não se pode negligenciar o problema pedagógico e sociológico que eles colocam. Trata-se de saber se a escola e a escola paralela vão se ignorar, comportar-se como adversárias, ou se aliar. Todos esses casos concernem muito de perto aos professores. (PORCHER apud. FREIRE e GUIMARÃES, 1984, p. 10)

Desse modo, é possível inferir que os estudantes possuem uma bagagem cultural representativa, adquirida através dos meios de comunicação fora do espaço escolar. É a partir das relações que o aprendiz estabelece com a informação transmitida por esses meios, que ele constrói o seu conhecimento.

Bévort e Belloni (2009, p. 1083) apontam as mídias como parte da cultura contemporânea e imprescindível para o exercício da cidadania. Segundo as autoras supracitadas, a importância dos meios de comunicação vai além do controle social, político e ideológico, considerando que as mídias representam “novos modos de perceber a realidade, de aprender, de produzir e difundir conhecimentos e informações”. (Bévort e Belloni, 2009, p. 1083).

De acordo com Malta e Domingos (s.d.), a mídia é considerada a organização responsável pela difusão e produção de diversidade informacional, cultural, e consequentemente, de conhecimento. O papel socializador que ela desempenha é de extrema importância, principalmente no que se refere à transmissão de valores e à criação de modelos comportamentais. Os autores analisam que, diferentemente do trato das gerações passadas com a televisão, as novas gerações concebem as mídias como principal forma de entretenimento e informação. Antigamente, o público parava em frente à televisão e recebia as informações de maneira passiva. Atualmente, as novas gerações interagem e se conectam a várias mídias de forma simultânea. Nesse universo digital é possível conversar em tempo real com pessoas do mundo inteiro, controlar suas finanças, trabalhar, vender e comprar, divulgar informações e buscar aquilo que se tem interesse, de forma instantânea e dinâmica. “A informação é despejada no público inesgotavelmente e em uma velocidade tão frenética que está se tornando impossível mensurá-la”. (ibid., s.p)

O diálogo com Paulo Freire

Apesar de todos os avanços nas tecnologias digitais e consequentes transformações no mundo atual, é possível identificar ainda, um grande grupo de profissionais da educação resistentes ao uso das mídias como recursos educacionais e/ou objeto de estudo, defendendo que a influência exercida pela mídia (em especial a televisão) é um grande obstáculo à educação.

A proposta de atuação através do Projeto Pedagogia 1 do PIBID/UFPR, “Tecnologias Digitais e Formação de Professores: integração curricular de diferentes ferramentas para a aprendizagem no ensino fundamental”, vai ao encontro da ideia dos autores (BÉVORT & BELLONI, 2009; MALTA & DOMINGOS, s/d) que discutem qual seria a maneira mais eficiente de atrair a atenção de um público jovem, através destes meios, com uma finalidade educacional. Para isso, mais que disponibilizar estes recursos nas escolas, é fundamental compreender todo o aspecto social envolvido nessas relações. Segundo Freire e Guimarães (2011), é preciso postar o estudante criticamente acerca das informações recebidas, para que ele possa por si discernir informações e construir seu conhecimento, sendo capaz de transformar a sua realidade.

Com este enfoque, o objetivo inicial dos bolsistas envolvidos neste projeto consistiu em tornar os recursos tecnológicos disponíveis na escola como ferramentas a favor da aprendizagem, respeitando e englobando a diversidade com a qual os alunos convivem fora dela. Ao dialogar com a proposta apresentada por Freire e Guimarães (2011), apontando o uso do rádio e da televisão como recursos midiáticos de educação, este projeto buscou considerar a atual realidade com o advento da internet e buscar através da pesquisa ampliar o olhar e construir o conhecimento de forma criativa, crítica e colaborativa.

Na condução deste projeto, os estudantes apropriam-se dos laboratórios de informática como ambientes de pesquisa e de construção de saberes, utilizando o computador não somente como lazer, mas como um recurso educacional.

A primeira etapa do trabalho com os alunos do ensino fundamental envolveu a elaboração de jornal escrito, a partir da observação de um exemplar de jornal de grande circulação na cidade, mediante a relação dialógica que, segundo Freire (2000, p.118),

não anula, [...], a possibilidade do ato de ensinar. Pelo contrário, ela funda este ato, que se completa e se sela no outro, o de aprender, e ambos só se tornam verdadeiramente possíveis quando o pensamento crítico, inquieto, do educador ou da educadora não freia a capacidade de criticamente também pensar ou começar a pensar do educando.

A elaboração do jornal escrito envolveu os alunos na produção de textos, cujos temas surgiram do livre pensar discente, pautados na realidade de vida de cada um.

Na segunda etapa do projeto, em andamento, os alunos estão produzindo os seus próprios programas de rádio, sendo um programa para cada turma de alunos participantes do projeto. Após dialogar sobre a realidade a qual estão inseridos, se postar criticamente perante as informações por eles recebidas através dos meios de comunicação, cada turma pesquisa e produz os materiais para a divulgação na rádio interna da instituição.

As etapas seguintes do projeto envolverão a produção de vídeos e o registro das atividades em rede social da escola e em blog educacional, tendo como elemento norteador o respeito aos saberes dos educandos, discutindo a realidade concreta destes para facilitar a mediação do diálogo que, conforme Freire destaca, pretende “a problematização do próprio conhecimento em sua indiscutível reação com a realidade concreta na qual se gera e sobre a qual incide, para melhor compreendê-la, explicá-la, transformá-la”. (FREIRE, 1992, p.52).

Conclusão

Durante o desenvolvimento do projeto observou-se a importância da escola e da mediação do professor no processo de ensino e aprendizagem, a partir das relações estabelecidas entre os estudantes e a mídia. Foi possível identificar que, para a maioria discente, os meios de comunicação apontam como o maior responsável pela aquisição de informações e saberes e que, por vezes, acabam sendo considerados como verdades absolutas. A ampliação de nossos olhares como bolsistas e educadoras envolveu o compromisso com o exercício de uma prática docente consciente da sua responsabilidade política e social para uma formação crítica e criativa, capaz de romper as barreiras da pseudoeducação vista como uma ação de simples transmissão e apropriação de conhecimentos.

Referências Bibliográficas

BÉVORT, E.; BELLONI, M. L. Mídia-educação: conceitos, histórias e perspectivas. Educ. Soc., Campinas, vol. 30, n. 109, p. 1081-1102, set./dez. 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/es/v30n109/v30n109a08.pdf>

FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987.

__________. Extensão ou comunicação? 10. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.

__________. Pedagogia da esperança. 7. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000.

__________. Pedagogia dos sonhos possíveis. Ana Maria Araújo Freire (org.). São Paulo: Unesp, 2001.

__________. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 45. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2013.

FREIRE, P.; GUIMARÃES, S. Sobre educação: diálogos. V. II. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984.

__________. Educar com a mídia: novos diálogos sobre educação. São Paulo: Paz e Terra, 2011.

MALTA, R. B.; DOMINGOS, A. A. Novos olhares: a mídia como agente educacional. Disponível em: http://www4.faac.unesp.br/publicacoes/anais-comunicacao/textos/25.pdf

 

[1] Acadêmica do 5° ano do Curso de Pedagogia da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Bolsista PIBID-UFPR no subprojeto Pedagogia 1.

[2] Acadêmica do 5° ano do Curso de Pedagogia da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Bolsista PIBID-UFPR no subprojeto Pedagogia 1.

[3] Professora adjunta do Departamento de Teoria e Prática de Ensino (DTPEN) da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Coordenadora do subprojeto Pedagogia 1 do PIBID-UFPR.